Preconceito: A ilusão em acreditar que é mais abençoado
“De fato, vocês todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo” (Gl 3,26-27).
Vivemos em uma sociedade onde o termo “preconceito” determina as ações de muitos que não se preocupam com o bem-estar do próximo e, em muitos casos, acabam causando danos irreparáveis. Em muitos, o preconceito é nítido e está estampado nas suas expressões e na sua forma de falar, em outros, ele fica oculto, mas está presente e, na primeira oportunidade, se torna evidente e transparente.
Há pessoas que acreditam que são mais abençoadas e determinam um padrão de perfeição. Trazem um catálogo de bons samaritanos para ser aplicado no outro, como se fossem uma espécie de “deus”. É triste viver uma realidade com tantas cobranças por parte de pessoas que preservam uma teoria e cobram a prática do próximo. É o velho ditado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. É contraditório.
Parece que falar de preconceito se tornou clichê, mas enquanto existirem pessoas que pararam no seu tempo, ditando regras e padrões de boas maneiras sem terem uma prática, julga-se necessário falar, para que o próximo não tenha sua liberdade comprometida. Fazer “cara de paisagem” que não está se importando é viver um personagem fictício.
Cada um tem a sua história e ela é única, com suas cores, retalhos e alinhavo e, ao envelhecer, cada pedacinho foi compondo o seu tecido, foi construindo o seu ser, sua história. Suas escolhas foram te modelando para ser o que é. O artista que te modela é Deus, e não o outro, embora, esse “outro” possa lhe dar oportunidade de conhecer muitas coisas antes da cena final. Você é um “vaso na mão do oleiro”, é um ser, e Deus o fez diferente e tem direitos autorais sobre suas digitais.
A conclusão a que se pode chegar é que o ser humano é uma obra de arte que devemos respeitar, porque o artista que o criou está por perto dando continuidade à criação. Ele abriu os braços no madeiro e trabalhou arduamente os sentimentos e a fé. As obras mal-acabadas são aquelas que ainda não se curvaram diante do calvário e estão sendo restauradas e amparadas pelas mãos do artista, sem exposição. Como ficará essa obra, só Deus sabe, o tempo dirá. Se a obra ainda está sendo restaurada, livrem-se do preconceito, pois nas mãos do artista estamos todos. As características da obra são criadas à imagem e semelhança de Deus (conf. Gn 1, 26-27), logo, o preconceito é uma afronta à obra de Cristo na cruz.
"Retalhos do Cotidiano" - Reflexões que alimentam a alma e te fazem gigante diante da fé (Editora Viseu)