A franqueza deve ser cautelosa, caso contrário, se transformará em indelicadeza
“O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, mas o homem mau tira do seu mal coisas más, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6,45).
Mapeando o bom convívio com o próximo, a sinceridade é uma atitude louvável, mas pode tornar-se desleal na sua prática. Muitas pessoas trazem o rótulo de serem sinceras e verdadeiras demais e saem falando o que lhes vêm à cabeça, sem filtrar o que de fato é importante para ser dito. Quem fala o que quer, ouve o que não quer, diz o velho ditado. Falar o que vem à cabeça poderá não ser um comportamento sincero, mas grosseiro. Pensando em estar usando de sinceridade, poderá estar magoando o outro sem necessidade.
Existem comentários que podem tornar-se infelizes, afinal, qual a utilidade de falar para alguém os seus defeitos? Confidenciar ao outro o que falam ou pensam dele? Já imaginou essas observações chegando no momento em que a pessoa não esteja bem, com a autoestima comprometida? Você estaria contribuindo para piorar a situação: “Ao falar, se coloque no lugar de quem vai ouvir”.
A “franqueza” deve ser cautelosa, caso contrário se transformará em indelicadeza. Abraçamos nossas verdades como se fossem únicas, sem a preocupação de nos colocarmos no lugar do outro. A verdade de um poderá não ser a verdade do outro. Sinceridade pode ser duas faces da mesma moeda. Existem pessoas que se escondem no seu silêncio, se fecham no seu casulo e se deprimem com o que ouvem. Corre-se o risco, ao dar uma opinião, de criar uma inimizade. É comum ter o desejo de ser sincero, sem o intuito de magoar, mas já sabemos: “Coração dos outros é terra que ninguém pisa”. Muitas vezes damos opiniões sem nem mesmo o outro pedir, e invadimos sua privacidade. Precisamos ter qualidade e autocontrole em tudo que falamos: Sabedoria. Precisamos reconhecer nossos erros, perceber a reação do outro, pedir “desculpas”, reformular o nosso ponto de vista. Existem intenções que são carregadas de palavras negativas e ofensivas. “Não enche a boca com palavras, preencha o coração com amor”. “Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho?” (Mt 7,3).
A sinceridade poderá estar enfeitada com a sua própria baixa autoestima e seus comentários acabam sendo irritantes, projetando sua própria fraqueza e escuridão interior. É possível que, ao tentar usar da sinceridade, esteja tendo uma atitude mal-educada. Se na sinceridade estiver querendo demonstrar que é uma pessoa detalhista e observadora, querendo dar apenas um toque para o outro, quem ouve poderá estar te achando uma pessoa chata e fiscal da vida alheia.
"Retalhos do Cotidiano" - Reflexões que alimentam a alma e te fazem gigante diante da fé (Editora Viseu)