PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Jo 6,1-15)(12/4/24).
1. Caríssimos, o poder de Deus se revela em sua obra, pois Ele criou o mundo por amor e a todos sustenta por sua Divina Providência, sem nunca deixar de fazê-lo. De fato, o Senhor é a Fonte inesgotável que supre todas as necessidades, pois à tudo governa com justiça e perfeição.
.
2. E se falta alguma coisa para qualquer de suas criaturas, deva-se isto às injustiças cometidas por aqueles que não o temem; todavia, que fique bem claro, quem comete qualquer maldade e não se arrepende e nem a repara, morrerá com a maldade praticada e nela permanecerá por toda eternidade.
.
3. Ora, Deus é Deus e não vai deixar de ser bom e nem vai deixar de nos amar e nos amparar só porque muitas de suas criaturas o abandonam para enveredar pelo caminho da perversão e da perdição que não tem fim.
.
4. Cabe a nós amar o Senhor e proclamar todas as suas maravilhas como cantou o salmista: "Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, e os vossos santos com louvores vos bendigam! Narrem a glória e o esplendor do vosso reino e saibam proclamar vosso poder!" (Sl 144,10-11).
5. Com efeito, a multiplicação dos pães que o Senhor Jesus realizou, nos ensina três grandes lições de vida: Primeira lição, o pouco com Deus é muito, por isso supera as nossas espectativas, pois, com cinco pães e dois peixes ele alimentou cerca de cinco mil pessoas e ainda sobrou doze cestos.
.
6. Segunda lição, diante do Senhor todas as soluções são vãs se não pomos Nele a nossa confiança; por exemplo, para Filipe nem 400 moedas de prata eram suficiente para alimentar tanta gente, e no entanto, o Senhor o fez graças à fé dos que o procuraram, desse modo, entendemos que o Senhor também prova a nossa fé.
.
7. Terceira lição, atenção, muito cuidado com os interesses escusos, pois eles nos afastam do Senhor: "Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”. Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte." (Jo 6,14-15).
.
8. Portanto, caríssimos, a obra da salvação humana é puramente divina, e embora sejamos cooperadores do Senhor nessa obra, nossa postura deve ser isenta de qualquer interesse fora da salvação das almas. Ou seja, devemos ter a mesma postura da Virgem Maria, a Mãe de Jesus: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa vontade." (Lc 1,38).
.
9. Comentando este Evangelho disse Santo Agostinho: "Governar o Universo é certamente um milagre maior do que saciar cinco mil homens com cinco pães. E, contudo, aquilo não espanta ninguém, mas as pessoas espantam-se diante de um milagre de menor importância, porque sai do habitual.
.
10. Esta obra foi-nos apresentada aos sentidos para nos elevar o espírito. Tornou-se-nos assim possível admirar "o Deus invisível, através das suas obras visíveis" (Rom 1,20). Depois de termos sido ensinados na fé e purificados por ela, podemos desejar ver, sem os olhos do corpo, o Ser invisível que conhecemos a partir do visível.
.
11. Com efeito, Jesus fez este milagre para que ele fosse visto pelos que ali se encontravam, e eles puseram-no por escrito para que nós tomássemos conhecimento dele. O que os olhos fizeram para eles, fá-lo para nós a fé. De igual modo, reconhecemos na nossa alma o que os nossos olhos não puderam ver e recebemos um belo elogio, pois foi acerca de nós que Ele disse: «Felizes os que acreditam sem terem visto» (Jo 20,29).
.
(Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja - Sermões sobre o evangelho de João, n.º 24, 1.6.7; CCL 36, 244).
.
Paz e Bem!
.
Frei Fernando Maria OFMConv.