PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Jo 7,40-53)(16/3/24).
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1. Caríssimos, nunca se apossem dos dons de Deus como se eles fossem seus; exatamente porque são dons de Deus, seja tão somente um simples servo à serviço do Seu Reino, isto porque o Senhor garante sempre aqueles que Ele escolhe e envia. Mas muito cuidado, pois uma mente cheio de preconceito e juízo temerário, é o pior defeito que um servo pode ter.
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2. Escutemos, então, estas palavras do Senhor Jesus: "Ou dizeis que a árvore é boa e seu fruto bom, ou dizeis que é má e seu fruto, mau; porque é pelo fruto que se conhece a árvore. Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração." (Mt 12,33-34).
3. Decerto, é bem como vimos no Evangelho de hoje em que os guardas por defender Jesus foram interpelados pelos fariseus: "Também vós vos deixastes enganar? Por acaso algum dos chefes ou dos fariseus acreditou nele? Mas esta gente que não conhece a Lei, é maldita!" (Jo 7,47-49). Ou seja, fé e juízo temerário nunca se misturam. Porque a fé é um dom de Deus; enquanto o juízo temerário é a rejeição dela.
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4. De fato, a vontade de Deus é a única que nos dá a vida eterna, pois Ele enviou o Seu Filho como o Caminho, a Verdade e a Vida, para nos levar à sua glória, porém, quem o rejeita, perde-se completamente porque não existe um atalho que nos leve para o céu, todos os que lá estão passaram pela porta estreita da salvação, isto é, a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.
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5. Com efeito, quem crê na verdade nunca se põe na vida como juiz, mas sim como um servo humilde da verdade e faz do desejo de santidade o objetivo pelo qual serve ao Senhor. Os que rejeitaram Jesus o fizeram porque seguiam os próprios critérios para crer e por isso o condenaram.
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6. Pelo contrário, os que Nele creram seguiram os critérios da coerência que viram em seu modo de ser, isto é, em total comunhão com a vontade do Pai. Pois o Senhor já o havia dito isto: "De mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou." (Jo 5,30).
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7. Amados irmãos e amadas irmãs, a lei foi dada como uma estrada para encontrar Jesus, mas por causa do radicalismo intransigente e da incoerência, ela se tornou "letra que mata", "pedra de tropeço para aqueles que se diziam detentores da lei, mas não faziam a vontade de Deus que estava na Lei, isto é, não aceitaram Cristo, como o Messias, o ungido do Pai.
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8. De fato, o Senhor já os havia alertado: "Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebe-lo... Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?" (Jo 5,43-44).
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9. Portanto, caríssimos, cuidado com a incoerência, pois ela é uma doença espiritual que mata a alma sufocada pelos preconceitos, que a desliga da fé totalmente, e por isso, é atormentada e tenta a todo custo atormentar os que não se submetem às suas intransigências e intolerância contra a verdade que os podia salvar.
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9. Destarte, meditemos com atenção estas palavras de São Leão Magno: "Quando um homem se comporta mal, constrói para si próprio uma prisão na sua consciência, de modo que o seu coração o acusa, mesmo que de fora não lhe venha nenhuma acusação. Porque, quando a justiça de Deus o abandona à cegueira da sua maldade, o homem fica como que fechado dentro de si mesmo, sem encontrar um meio de fuga que não merece encontrar.
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10. Com efeito, é frequente vermos pessoas que desejam escapar à perversidade dos seus atos, mas que, por estarem ao mesmo tempo esmagadas sob o peso desses atos, fechadas numa prisão de hábitos culposos, não conseguem fugir de si próprias." (São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja - Livro XI, SC 212).
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.