PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Lc 11,14-23)(7/3/24).

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1. Caríssimos, a voz divina à nada se compara neste mundo porque é a voz da verdade eterna, inconfundível e profundamente audível aos ouvidos de nossas almas. No entanto, quem ouve a voz do Senhor? Sim, esta pergunta se faz necessária, porque são tantas as vozes que se ouvem a cada instante que é preciso ficarmos atentos para não deixarmos passar a graça de escutar o Senhor, para depois procedermos conforme Ele nos ensina.

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2. Por isso, não sejamos ávidos em ouvir as "novidades" deste mundo, porque quem frequentemente ouve as vozes do mundo dificilmente escuta a voz de Deus. Ora, o Senhor nos fala naturalmente aos ouvidos da alma, mas também nos fala pelos acontecimentos, eventos que reproduzem o nosso modo de ser e viver diante Dele. 

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3. Certa feita, escreveu São Francisco de Assis: "Somos o que somos aos olhos de Deus e nada mais". Isto significa que Deus conhece à nossa essência, isto é, nos conhece totalmente, cada fibra do que somos, por isso, conhece muito bem como nos comportamos e o que precisamos viver para permanecer na sua presença. 

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4. Desse modo, cabe à nós obedecermos ao que Ele nos fala por sua Divina Palavra, confiada à Sua Santa Igreja na pessoa de seus ungidos, seus pastores escolhidos, que são o Santo Padre e os bispos com seus respectivos presbíteros, sucessores de São Pedro e dos outros Apóstolos. 

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5. Destarte, na vida estamos sempre escutando algo ou alguém; mas ao mesmo tempo reproduzindo o que foi escutado, por isso, precisamos dar tempo ao silêncio sagrado do Senhor que em seu infinito amor nos comunica a sua vontade, razão de ser da liberdade eterna dos seus filhos e filhas que o escutam e a Ele se confiam. 

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6. Comentando o Evangelho de hoje disse o Papa Bento XVI: "Todos os dias, mas de modo particular durante a Quaresma, o cristão deve enfrentar uma luta, como a que Cristo travou no deserto da Judeia, onde durante quarenta dias foi tentado pelo demônio, e depois no Getsémani, quando rejeitou a tentação extrema aceitando até ao fim a vontade do Pai. 

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7. É uma batalha espiritual, que se dirige contra o pecado e, em última análise, contra Satanás. É uma luta que envolve toda a pessoa e exige uma vigilância atenta e constante. Santo Agostinho observa que quem deseja caminhar no amor e na misericórdia de Deus não pode contentar-se em livrar-se dos pecados graves e mortais, mas "trabalha a verdade reconhecendo também os pecados considerados menos graves... e que vêm à luz através da prática de obras meritórias. Também os pecados menores, se forem negligenciados, proliferam e produzem a morte" (In Io. evang. 12, 13, 35). 

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8. Portanto, a Quaresma recorda-nos que a existência cristã é uma batalha sem tréguas, na qual é preciso usar as "armas" da oração, do jejum e da penitência. Lutar contra o mal, contra todas as formas de egoísmo e de ódio; morrer para si mesmo para viver em Deus é o itinerário ascético que cada discípulo de Jesus é chamado a percorrer com humildade e paciência, com generosidade e perseverança. 

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9. O seguimento dócil do divino Mestre faz dos cristãos testemunhas e apóstolos da paz. Poder-se-ia dizer que esta atitude interior nos ajuda também a melhor evidenciar qual deve ser a resposta cristã à violência que ameaça a paz no mundo. 

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10 Certamente não a vingança, não o ódio, nem mesmo a fuga para um falso espiritualismo. Pelo contrário, a resposta de quem segue Cristo é seguir o caminho escolhido por Aquele que, perante os males do seu tempo e de todos os tempos, abraçou resolutamente a Cruz, seguindo o caminho mais longo, porém, mais eficaz do amor. 

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11. Seguindo os Seus passos e unidos a Ele, todos devemos esforçar-nos por combater o mal com o bem, a mentira com a verdade, o ódio com o amor." (Bento XVI - Santa Missa e Imposição das Cinzas, 1 de março de 2006).

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Paz e Bem! 

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Frei Fernando Maria OFMConv.