PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mt 18,21-35)(05/03/24)
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"Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?" (Mt 18,21).
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1. Caríssimos, essa pergunta de Pedro é típica de quem pensa limitar a misericórdia infinita de Deus, que Ele nos dá para perdoarmos uns aos outros, por isso, a resposta do Senhor Jesus abre a nossa mente e a nossa compreensão para muito além dos nossos critérios, pois estes tendem sempre a querer fazer justiça com as próprias mãos, ou seja, a pagar o mal com o mal.
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“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete." (Mt 18,22).
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2. De fato, em nenhum momento da nossa vida estamos sozinhos ainda que muitos tentem negar isso, sobretudo nos embaraços e nas tempestades do mar revolto deste mundo; todavia, como o Senhor Jesus nos ensina: "Eu sou a videira; vós, os ramos.
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3. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer." (Jo 15,5). Ou seja, só precisamos permanecer em Cristo pela obediência à Sua Divina Palavra, pois obedecer é amar, é seguir o Senhor que nos perdoa e nos dá a graça de perdoarmos sem medidas.
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4. Desse modo, compreendemos que o ato de perdoar é divino, porque é Deus mesmo quem perdoa os nossos ofensores por meio de nós; em outras palavras, perdoar é amar, é fazer a vontade de Deus; quem sempre perdoa, vive sempre em paz, e jamais causa algum dano a quem quer que seja, porque perdoar é o mais sublime ato de amor que existe.
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5. Decerto, o perdão é também a maior fonte de cura e libertação que Deus nos deu. Quem não perdoa não tem Deus dentro de si, porque Deus é amor, e antes de exercer a sua justiça, age com misericórdia e perdão para nos dar a salvação; por isso, quem não perdoa, vive repleto de mágoas, ressentimentos, ódio e desejo de vingança, e isto por si mesmo já é uma terrível condenação.
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6. Na parábola de hoje, o Senhor Jesus nos dá o exemplo de um servo que busca o perdão, rebe-o do seu patrão, mas é incapaz de da-lo à um outro servo que lhe devia muito menos. E o resultado dessa atitude maléfica foi a própria condenação, pois, quem se nega a dar o perdão que recebe, perde-o de imediato, e tornando-se escravo da própria maldade.
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7. Portanto, caríssimos, sigamos as práticas quaresmais que empreendemos com as mesmas disposições que recebemos do Senhor Jesus, para levarmos o bom termo o nosso desejo de santidade, na certeza de que é Ele mesmo que está nos conduzindo ao Reino dos céus, à vida eterna.
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8. Comentando este Evangelho disse o Cardeal Ângelo Comastri: "Porque devemos perdoar sempre? Porque o perdão é sempre a resposta correta e adequada? É realmente possível vencer o mal com o bem? A resposta a estas perguntas só pode ser compreendida na fé: de fato, as palavras de Jesus só fazem sentido e tornam-se luminosas quando a fé reconhece n'Ele a manifestação de Deus e a vitória de Deus sobre o pecado humano.
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9. Como crentes, aproximamo-nos então de Jesus e fixamos o nosso olhar no Rosto e no Coração de Deus, que Jesus e só Jesus nos podia revelar. Jesus é Deus que salva! Seguindo os seus passos, descobrimos em todos os seus gestos e em todas as suas palavras um desejo de perdão sem limites, uma vontade decidida de salvar o homem pecador, uma abertura sem limites do seu Coração.
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10. Vem-me à mente a confiança do Abade Huvelin, confessor e pai espiritual de Charles de Foucauld. "Quando ando por Paris - exclamava o santo padre - levanto instintivamente a mão e desejo absolver cada pessoa que encontro".
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11. Estas palavras captam o Coração de Jesus: isto é, o Coração de Deus!" (Cardeal Angelo Comastri). Pois, o Senhor está sempre pronto a nos perdoar, porque sem perdão não existe salvação.
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.