PEQUENO SERMÃO DE CADA DIA (Mc 4,1-20)(24/01/24)
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1. Caríssimos, o ser humano carrega consigo necessidades que, quando supridas com justiça, se tornam sinais da presença de Deus e da comunhão uns com os outros. De fato, a prática da Palavra nos faz viver na presença de Deus, nos faz amá-lo e sentir-nos amados por Ele em todos os sentidos da nossa vida.
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2. Ora, se prestarmos bem atenção à prática da Palavra, percebemos que ela é a relação íntima entre o divino e o humano que encontra em Jesus Cristo, Deus e homem, perfeita harmonia; desse modo, falamos com Ele, mas também o escutamos, porque Nele vivemos, bem como nos ensinou: "Se alguém me ama, guardará a minha Palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada." (Jo 14,23).
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3. Na liturgia de hoje meditamos com a Parábola do Semeador, como reza o texto: “Escutai! O semeador saiu a semear...". Decerto, os elementos constitutivos desta Parábola, são: o semeador, as sementes, os tipos de terrenos e os frutos que produz.
4. Com efeito, o Semeador é o Senhor Jesus; suas Palavras são as sementes; os tipos de terrenos são as almas que as recebe; os frutos, porém, depende sempre de quem as recebe e de como as cultiva. Ou seja, é necessário existir uma ligação direta entre o semeador e os terrenos, para não faltar a seiva que fecunda as sementes, caso contrário, não se produz bons frutos.
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5. Porém, disto fiquemos certos: "Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão." (Is 55,10-11). Ou seja, mesmo se algum terreno não dê os frutos devidos a Palavra contínua se cumprindo.
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6. Sem dúvida, a Palavra é o meio de comunicação mais eficaz que existe, por ela o Senhor nos comunica suas graças para as multiplicarmos. Todavia, se alguém não a usa com esse fim, ela se torna causa de perdição eterna para quem faz mal uso dela. (cf. Mt 12,36-37).
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7. Portanto, caríssimos, precisamos prestar muito atenção à Palavra do Senhor Jesus, porque ela é a regra da vida eterna, e sem essa devida atenção, seremos apenas terrenos infecundos que nada produz além das ervas daninhas advindas da incoerência por falta da autêntica vivência da Palavra.
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8. Comentando o Evangelho de hoje disse o Papa Bento XVI: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão" (Mc 13,31). A Sagrada Escritura não conhece ambiguidades: toda a criação é marcada pela finitude, incluindo os elementos deificados pelas antigas mitologias: não há confusão entre a criação e o Criador, mas uma clara distinção.
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9. Com uma distinção tão clara, Jesus afirma que as suas palavras "não passarão", ou seja, elas veem de Deus e, por isso, são eternas. Embora pronunciadas na concretude da sua existência terrena, são palavras proféticas por excelência,
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10. como Jesus afirma noutro lugar dirigindo-se ao seu Pai celeste: "As palavras que me deste, eu as dei a eles. Eles receberam-nas e sabem verdadeiramente que eu saí de ti e acreditaram que tu me enviaste" (Jo 17,8).
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11. Cristo compara-se ao semeador e explica que a semente é a Palavra (cf. Mc 4,14): quem a ouve, acolhe e dá fruto (cf. Mc 4,20) faz parte do Reino de Deus, isto é, vive sob o seu senhorio; permanece no mundo, mas já não é do mundo; traz dentro de si uma semente de eternidade, um princípio de transformação que já se manifesta agora numa vida boa, animada pela caridade, e que no fim produzirá a ressurreição da carne. Este é o poder da Palavra de Cristo."
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Paz e Bem!
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Frei Fernando Maria OFMConv.