Um toque de salvação e cura

“Ora, certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia, e que tinha sofrido bastante às mãos de muitos médicos, e despendido tudo quanto possuía sem nada aproveitar, antes indo a pior, tendo ouvido falar a respeito de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe o manto; porque dizia: Se tão-somente tocar-lhe as vestes, ficaria curada. E imediatamente cessou a sua hemorragia; e sentiu no corpo estar já curada do seu mal." ( Mc. 5:25-29; RA).

Não se sabe muito sobre esta mulher que enfrentava uma enfermidade havia doze anos. Seu nome, estado civil, e até mesmo a origem de sua doença permanecem desconhecidos. Vamos tentar imaginar sua rotina, seus sonhos, e refletir sobre seu sofrimento, especialmente o momento do impactante encontro com Jesus. Vamos nos transpor a aproximadamente dois mil anos atrás.

Tamar se encontrava recostada na janela de sua casa em uma bela manhã de primavera. Enquanto sentia a brisa morna acariciar seu rosto, respirava o ar fresco impregnado com o perfume das flores. Essa atmosfera prenunciava um futuro feliz e frutífero. Crianças brincavam, perseguindo borboletas que embelezavam ainda mais o jardim à sua frente. Seu olhar denotava um desejo profundo de ser mãe. Ao testemunhar as travessuras das crianças, seu coração acelerava, e ela suspirava. Tamar tinha quase tudo, mas ansiava por alguém para completar sua realização pessoal.

Casou-se com um homem respeitado na cidade, onde as constantes perguntas sobre a chegada de um herdeiro só intensificavam a ansiedade do casal. Num belo dia, o atraso menstrual de Tamar a encheu de alegria. Aguardando ansiosamente o retorno de seu esposo de uma viagem, ela não via a hora de compartilhar a boa notícia: ela estava grávida. Dessa vez, sua felicidade era evidente, contrastando com as ocasiões anteriores em que expressara tristeza pela ausência da bênção da maternidade.

Ao avistar Enoque, seu marido, ela correu para abraçá-lo, lágrimas de alegria nos olhos. Ansiosa, compartilhou a notícia tão esperada: "Você será pai!" Enoque, emocionado, chorava como uma criança e agradecia em alta voz ao Pai celestial pela bênção. Os vizinhos testemunharam a cena, transformando aquele dia numa festa memorável.

Como de costume, a gestante radiante se aproximava da janela para respirar o ar fresco da aurora e sentir o perfume das flores. O chute do bebê pela primeira vez a emocionou profundamente. A gestação foi aproveitada ao máximo, com a expectativa crescente de finalmente ver o rosto do bebê.

Quando o menino, Natã, finalmente nasceu, Enoque e Tamar transbordaram de felicidade. Os primeiros dias com o presente especial foram únicos, revelando um vislumbre do amor que o Pai celestial sentia por eles. Agradeciam a cada dia pelas bênçãos em suas vidas.

Na data correta, nasceu o menino. Passados oito dias para a circuncisão da criança, seguiram-se os dias de purificação de Tamar, conforme prescrito na lei de Moisés. No entanto, o fluxo não cessou, iniciando assim uma série de torturas. Apesar das tentativas com os melhores médicos, a rara enfermidade de Tamar persistia, levando-os a gastar suas posses na busca de tratamentos caros e dolorosos.

À medida que a situação se agravava, eles precisaram abrir mão de suas posses. A rejeição, dor e tristeza tornaram-se seus companheiros constantes. A Lei de Moisés, que os considerava impuros, acrescentou mais sofrimento. Essa legislação, concebida num contexto específico, acabou sendo distorcida, transformando a mulher em uma espécie de leprosa.

Observando isso, percebemos a intensidade do sofrimento dessa mulher, especialmente dentro de sua própria casa. Naqueles tempos, a ênfase recaía em rituais, não no amor ao próximo, conforme ensinado por Jesus: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós, porque esta é a lei e os profetas" (Mt. 7:12). "Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Gl. 5:14).

Como aquela mulher ansiava por experimentar esse amor! Infelizmente, a rejeição de parentes e amigos foi um tormento insuportável. Saindo da esfera da imaginação e adentrando na realidade da época, podemos fazer algumas conjecturas: talvez ela fosse solteira, viúva, ou, como estamos imaginando, uma pessoa rejeitada.

Imagine uma mãe incapaz de abraçar seu filho, esposo, parentes e amigos. As festas que ela tanto apreciava ocorriam, mas ela as observava à distância. Via seu filho brincando, e sempre que ele se aproximava dela, alguém o impedia. Essas situações a corroíam por dentro, como pequenas doses de veneno. Além de todos esses revezes, a amargura começava a invadir seu peito, sendo inevitável não se sentir assim diante do cálice extremamente amargo que lhe fora oferecido.

Quando os infortúnios da vida nos alcançam, os porquês surgem naturalmente. Não é fácil enxergar a bondade do Pai Celestial no meio da dor, rejeição, angústia, desespero e do sentimento de fracasso. No entanto, se erguermos os olhos para o alto, veremos de onde vem nosso socorro. Quando Jesus foi tentado no deserto, o inimigo tentou fazê-lo olhar para baixo, mas Cristo escolheu olhar para cima (Mateus 4:1-11). Paulo também exorta a buscar as coisas que são de cima (Colossenses 3:1-3).

Não permita que as frustrações obscureçam sua visão, pois a fé é a chave que abre a porta do impossível (Hebreus 12:2). "Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar" (1 Coríntios 10:13).

A história da mulher continua. Passaram-se doze anos; ela estava pálida, debilitada e quase sem esperança. Ouviu falar de um Mestre, muitos acreditavam ser o Messias. Seu coração ardia, e um alvoroço acontecia. A filha de um líder religioso estava doente, e o Senhor ia à casa dela para curá-la. Tamar observava, e a brasa de sua fé tornou-se uma grande chama. Ela pensou: "Se eu tocar apenas em Suas vestes, serei curada" (Marcos 5:28). Reunindo todas as suas forças, rompeu a multidão, tocando na orla das vestes de Jesus. O tão esperado milagre ocorreu!

Jesus não podia deixar algo tão grandioso passar despercebido, mostrando que tudo é possível para aquele que crê. A aglomeração crescia enquanto iam à casa do líder da sinagoga; o Senhor ficou inerte por alguns instantes. As pessoas não compreendiam nada do que acontecia. Cristo perguntou: "Quem tocou em Minhas vestes?" (Marcos 5:30). Os discípulos, irritados, responderam: "Vês que a multidão te aperta, e perguntas: Quem me tocou?" (Marcos 5:31). A estrutura da mulher foi abalada com a pergunta de Emanuel. Não suportando mais o silêncio, "a mulher, atemorizada e trêmula, cônscia do que nela se havia operado, veio e prostrou-se diante dele, e declarou-lhe toda a verdade" (Marcos 5:33).

Que momento maravilhoso! Ela estava diante do Verbo divino, ouvindo Sua doce voz proferir: "Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre desse teu mal" (Marcos 5:34). Aleluia! Todo seu sofrimento tornou-se parte do passado, e as lágrimas eram inevitáveis.

Quando simplesmente lemos uma história bíblica ou qualquer outra sem meditar, perdemos detalhes que podem fazer toda a diferença em nossa vida. Se refletirmos sobre o que significa suportar doze anos de sofrimento, entenderemos melhor o que a mulher do fluxo de sangue enfrentou. Ela foi libertada das algemas da enfermidade e, a partir daquele momento, podia celebrar com júbilo a sua salvação.

Seu retorno para casa assemelhava-se ao de uma criança que sai para o recreio. Ao avistar seu filho, a emoção tomou conta de seu ser; a expectativa que antes fazia parte de sua vida brotou como um rebento em uma árvore seca e desgastada pelas circunstâncias da vida. Ela estava pronta para viver os momentos mais lindos.

Poderíamos imaginar um pouco mais dessa linda história, mas vamos parar por aqui, pois todos os dias pessoas carentes de um encontro com Jesus aparecem em nossa jornada; podemos orientá-las a tocar pela fé em Cristo. Sabemos que nem sempre as pessoas têm o privilégio de desfrutar de boa saúde, mas enquanto o pecado existir, as doenças e a morte continuarão a afligir. Porém está escrito: "Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados." (Is. 53:5); Na Bíblia King James Atualizada, em 1Pe. 2:24, diz: "Ele levou pessoalmente todos os nossos pecados em seu próprio corpo sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e, então, pudéssemos viver para a justiça; por intermédio das suas feridas fostes curados." Jesus garantiu para todos os que creem em Seu Nome o perdão, salvação e cura divina. " Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo." (Rm.s 5:17).

Façamos como aquela mulher; rompamos com as multidões de coisas que nos impedem de tocar no SENHOR de nossas vidas. A vida muitas vezes nos reserva surpresas, assim como trouxe para aquela mulher citada pelos evangelistas. Apesar de qualquer circunstância, precisamos ter convicção em quem cremos.

O amor de Deus foi revelado a cada um de nós quando o Verbo foi erguido em uma cruz no Calvário (Romanos 5:8). Assim como a serpente foi levantada no deserto por Moisés, o Messias também foi elevado, trazendo a cura do veneno mortífero da serpente (o veneno mortal é o pecado, cujo autor é o diabo) (João 3:14). Cristo foi pendurado em uma cruz para nos dar a salvação, perdão e cura! Pela fé, podemos tocar em Jesus.

Poeta Cupirense
Enviado por Poeta Cupirense em 07/12/2023
Código do texto: T7948819
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