Hospitaleiro

Hospitaleiro

Izaias Resplandes de Sousa

“Sendo hospitaleiros uns para os outros, sem murmurações. Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4:9,10).

A hospitalidade é um dom maravilhoso. Em um tempo onde a maioria tem por hábito fechar as portas, isolar-se e ser breve nas conversas e nas visitas para não correr o risco de se expor e abrir a guarda, o hospitaleiro tem por hábito agir exatamente ao contrário de tudo isso.

O hospitaleiro é aquele que abre as suas portas e ajuda a abrir outras que estão fechadas, esforçando-se para que ninguém fique de fora. É um dom cada vez mais raro e quem o tem, deve se sentir extremamente abençoado. E, quem não o tem, deve ficar preocupado e envidar todos os esforços para desenvolvê-lo.

Hoje, em dia, poucos sentem satisfação em compartilhar um pouco do que tem recebido, entendendo que, mesmo possuindo mais do que precisa, deve guardar o que possui para os dias maus, que certamente virão. Acredito ser importante pensar no futuro. Mas tudo tem limite. Se não nos incomodarmos com os outros, pode ser que eles também deixem de se incomodar conosco. A vida é cíclica. As coisas vão e vem muitas vezes, embora nem sempre com os mesmos atores e personagens.

Uma pessoa magoada com uma omissão ou mau tratamento recebido de nós, pode se tornar uma pessoa mais dura, menos compreensível e menos afetuosa conosco. E pode ser que, no dia em que viermos precisar dela, encontremos nela, portas cerradas e trancadas.

O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são ferrolhos de um castelo. Provérbios 18:19

Não é sábio entesourar trancas, portas fechadas, pessoas secas e duras, de pouca conversa. Como é ruim chegarmos na casa de alguém e sermos recebidos pelas grades da porta e não sermos convidados para entrar, mesmo sendo pessoas conhecidas. Ou mesmo, quando convidados sem muito entusiasmo, sermos indagados, logo de cara, sobre o que nós desejamos ali com nossa visita. Como é ruim sentirmos que não somos bem-vindos e que a nossa visita não é desejada. Particularmente, quando isso acontece comigo, me sinto muito mal. E me pego a pensar sobre o que eu fiz para aquela pessoa me receber daquela forma em sua casa. E, às vezes, não consigo encontrar a resposta, porque é costume a gente procurá-la entre as coisas que nós fizemos para aquela pessoa, quando a resposta está exatamente naquilo que não fizemos.

A Bíblia nos diz que, em algum dia, certas pessoas ouvirão do Senhor, o seguinte: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me. E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. Mateus 25:41-45.

Que triste será para quem vier a ouvir essa declaração. Mas pode ser que ela seja ouvida a qualquer hora, vinda da parte de pessoas que estarão ressentidas com o nosso modo de agir. Há um ditado que diz: se você quiser que a mãe goste e faça tudo por você, cuide e trate bem dos filhos dela.

A gente pode até não ter, não estar em condições, mas, se for para fazer alguma coisa por alguém que fez por nossos filhos, nós, certamente, tiraremos os cuidados e a comida de nossa própria boca, para dá-los àquele que alimentou e cuidou de nossos filhos quando eles precisaram e não tínhamos como ajudá-los.

Às vezes pensamos que a vida cristã consiste em ler a Bíblia, ir à Igreja, cantar louvores, jejuar e fazer orações. Por certo, isso faz parte da vida. Mas não é o essencial, o imprescindível. O mais importante da vida cristã é a misericórdia.

Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos. Oseias 6:6.

Misericórdia é compadecer-se do que precisa, do que sofre, do que necessita. Não adianta ler a Bíblia e ter o coração fechado para o que ela diz. É mais importante praticar os seus ensinos pelo menos uma vez, do que simplesmente lê-la um milhão de vezes. É mais importante congregar com a sua família do que com qualquer outra comunidade, ainda que seja a comunidade de sua igreja local. Aquele que está na igreja em todas as suas reuniões, mas que negligencia a convivência harmônica e pacífica com sua família, está negligenciando a sua primeira missão, que é a de cuidar dos seus. Nesse particular, é bem lembrar que a Bíblia que tanto gostamos de ler, nos diz que aquele que não cuida dos seus familiares é pior do que os infiéis.

Não adianta cantar glórias e glórias a Deus e não ter o espírito de Cristo, o Deus Filho Unigênito dentro de si. A Escritura nos diz que aquele que não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.

A pessoa hospitaleira é misericordiosa. Ele não consegue ver uma pessoa com alguma necessidade e, simplesmente, passar de largo. E aqui, quero fazer um parêntese, dizendo: não temos condições de sermos hospitaleiros com o mundo inteiro. Mas podemos exercer a hospitalidade, pelo menos em relação aos da nossa família, seja a família de sangue, seja a família da fé.

Sempre fiquei impressionado com as igrejas que mantém casas de apoio em determinadas cidades, para receber os membros dela que vêm de fora para alguma necessidade. Acho isso muito bacana. Mas, mesmo onde não existem essas casas de apoio, as nossas casas deveriam ser sempre casas de apoio, onde os nossos irmãos e familiares soubessem que seriam sempre bem recebidos. Mas, infelizmente, a gente sabe que não é desse jeito. São poucas as casas que possuem “o quarto do profeta”. Na maioria das casas, não há sequer a preocupação em ter um colchão de reserva, para que se possar arrumar uma cama, mesmo que seja no chão. Seria bom que nos esforçássemos para ter, pelo menos, esse mínimo de comodidade para a hospitalidade.

Em algumas localidades, os irmãos encaminham seus hóspedes para hotéis, onde sabem que eles sempre serão bem atendidos. Isso é bom, mas nem sempre é o mais econômico.

É tão gostoso quando a gente chega na casa de alguém e esse alguém nos recebe com alegria, nos convida para entrar, nos oferece gentilezas como um cafezinho, um suco, algo para comer e um local para descansar, quando for o caso de estarmos vindo de longe, ou para pernoitar ali, também se for o caso. Minha filha, certa vez que fomos visitá-la, tirou o carro dela da sua vaga de garagem e colocou estacionado na rua, para que nós colocássemos o nosso carro na vaga dela. Como fiquei feliz de ver que ela tinha se desenvolvido nessa área. Às vezes, até, as pessoas nos recebem, mas não se preocupam em acautelar a segurança de nosso automóvel. Já vivi vários casos em que os meu anfitriões arrumaram uma vaga para o meu carro, na casa de outras pessoas. Que bonito é ver esse tipo de cuidado! Mas, também já saímos da casa de irmãos para irmos nos hospedar em hotéis, porque não fomos convidados para pousar na casa deles. Já dormimos dentro do carro, mesmo tendo passado, durante dia, visitando irmãos e familiares. Às vezes, alguém poderia perguntar: mas você pediu o pouso? E eu reconheço que poderia ter pedido. E, talvez, nesse caso, tivesse conseguido o que precisava. Mas não seria a mesma coisa. O melhor mesmo seria que, em vez de nós dizermos “vai com Deus”, nós fôssemos instrumentos de nosso Deus que tanto nos ensina em sua palavra sobre ser hospitaleiros e a hospitalidade.

Podemos conferir isso nas páginas da Escritura:

“Sendo hospitaleiros uns para os outros, sem murmurações. Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4:9,10).

“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, […] compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade” (Romanos 12:10-13).

“E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhe disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhe não derdes as coisas necessárias para o corpo que proveito virá daí?” (Tiago 2:15, 16).

“Então, enquanto temos tempo (oportunidade), façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gálatas 6:10).

“Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hebreus 13:2; cf. Gênesis 18:1-8; 19:1-3).

“A alma generosa engordará, e o que regar também será regado” (Provérbios 11:25; 1 Reis 17:8-16).

“E disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não passes de teu servo. Eia, traga-se um pouco d’água, e lavai os pés e recostai-vos debaixo da árvore; e trarei um bocado de pão; refazei as vossas forças, e depois passareis adiante; porquanto por isso chegastes ate o vosso servo. Responderam-lhe: Faze assim como disseste.” Gênesis 18:3-5.

“Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; pois digno é o trabalhador do seu salário. Não andeis de casa em casa.”Lucas 10:7.

“Acudi aos santos nas suas necessidades, exercei a hospitalidade.” Romanos 12:13.

Ao encerrar, queremos dizer que, “se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes”. João 13:17.

Amém!