Vosso Reino
VOSSO REINO
Izaias Resplandes
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém. Mateus 6:9-13.
Nós já oramos muitas vezes pedindo que Deus reine sobre nós, mas, na maioria das vezes, nós não estamos prontos para receber o reino de Deus. Não digo pronto, no sentido de já estarmos vivendo em santidade de vida, porque essa seria a vivência que teríamos sob o reinado de Deus. Mas, prontos, no sentido de querer mesmo, de desejar de verdade, de estar disposto a servir ao Senhor e cumprir a Sua vontade.
É possível que se possa pensar que no Reino de Deus, o homem viva em completo estado de ócio e não precise fazer nada, materialmente falando. E sabemos que não é desse jeito. O homem já experimentou um pouco da vida sob o reinado divino, quando viveu no Jardim do Éden. É de lembrar que o homem tinha como responsabilidades, ali, lavrar e o guardar o jardim. Gênesis 2:15.
No reino de Deus, o homem vive para adorá-lo.
A adoração, em espírito e em verdade, deve ser o ponto central da vida do homem sob o reino de Deus. Jesus disse à mulher samaritana, junto à fonte de Jacó: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”, João 4:23, 24.
É possível que se imagine que adorar a Deus signifique orar, ler a Bíblia, ir à igreja, cantar e pregar a Palavra em todo lugar. Mas, embora isso possa fazer parte da vida de um verdadeiro adorador, a verdadeira adoração vai além dessas atividades eminentemente teóricas. A verdadeira adoração, buscada pelo Senhor, deve ser praticada em espírito e em verdade. Ações espirituais como as elencadas, podem caracterizar a adoração em espírito. Mas para ser mesmo uma adoração verdadeira, é preciso completá-la com a adoração “em verdade”, com a prática de obras que respaldem nossas palavras.
O Reino de Deus consiste em serviço amoroso, que é aquele que fazemos em prol de outras pessoas, em detrimento dos nossos próprios interesses. Mas, normalmente, agimos muito mais em prol de nós mesmos do que de outras pessoas, deixando de “recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”, Atos 20:35.
Receber é bom. A gente fica feliz quando ganha alguma coisa de alguém. Mas devemos nos esforçar para também dar alguma coisa e deixar alguém igualmente feliz.
A verdade é que nossos atos revelam medo, incerteza e insegurança. Temos medo de ficar sem nada, dúvida se vamos ser vitoriosos e receio de perder o que quer que seja.
Jesus estava com sede e pediu água à mulher samaritana. E ela, ao revés, em vez de dar o que ele pedia, começou a discutir sua origem e suas palavras. Não é muito diferente conosco. Enquanto estamos recebendo, incondicionalmente, para nós está bom demais. No entanto, se alguém nos diz que também devemos dar e retribuir aos outros um pouco do que temos recebido, preferimos abrir mão desse receber, por entender que “ele começa a ficar caro”. Não estamos prontos para o reino de Deus. Não somos capazes de absorver a mensagem de amor incondicional de Jesus, mesmo sabendo que ele não deixa sem recompensa até mesmo aquele que oferta a um dos seus um simples copo de água fria.
Estamos prontos para pregar, orar, discursar, aconselhar e tudo o que nos custar bem pouco. Mas, se for para ajudar, materialmente falando, “estamos fora”. Se for para pedir aos outros para ajudar, para compartilhar ou para socorrer, estamos prontos, mas, se for para nós mesmos fazer isso, “estamos fora”. Agora, como é que ficamos no reino de Deus?
No reino de Deus, não vivemos para nós mesmos, mas para os outros. E como seria legal se todos vivessem para os outros. Ninguém passaria por qualquer privação. Se alguém não tem hoje é porque hoje não tem ninguém que viva para ele. E isso é muito triste.
Eu não visito ninguém ou fulano, porque não recebo a visita de ninguém ou desse fulano. Eu não faço, porque vivo apenas pensando em mim, antes de tudo. O exemplo de Jesus, em dar a sua vida em resgate da nossa fica só na teoria. Não queremos seguir esse exemplo. Vivemos uma vida de faz de conta que servimos a Deus. Quando fazemos alguma coisa pelos outros, proclamamos bem alto para todos saberem que nós amamos as pessoas. Mas. Na verdade, as pessoas não precisam saber que nós amamos alguém; elas precisam sentir que de fato são amadas por nós. E ponto.
Não precisaríamos dizer em palavras que amamos alguém, se nós amássemos de verdade, com ações de amor. Quando fazemos a proclamação discursiva é porque não estamos fazendo de verdade o que estamos dizendo, mas precisamos que as pessoas pensem que estamos fazendo para que nos deixem em paz. E então, explodimos a garganta. E isso, meus queridos, somente mostra que não estamos prontos para o reino de Deus, para fazer a vontade dele e servi-lo.
Bom será no dia em que dermos nossos últimos suprimentos para alguém que está precisando, quando nos prontificarmos em dispor de nosso tempo e recurso para ajudar outras pessoas sem pensar no que vamos receber em retribuição, seja delas, seja de Deus.
Servir a Deus não é um negócio. Não devemos servir a Deus para recebemos a cura de uma enfermidade, um emprego, qualquer coisa, até mesmo a salvação. Devemos servir porque amamos servir, independente do que vamos ganhar com esse serviço. Se Deus vai nos recompensar ou nos dar alguma coisa, ótimo, mas se não, também está ótimo, porque não servimos pelo interesse em receber. Quando servimos ao patrão, servimos para receber o salário combinado. Quando servimos a Deus, devemos fazer pelo prazer em servir.
Quantas pessoas disseram que recebiam a Jesus para poderem ser salvas e que nunca fizeram nenhuma coisa no espírito de Cristo, dando a vida em favor de seus amigos! E quantos nunca disseram que recebiam a Jesus em troca da salvação e vivem todos os seus dias dando a sua vida em prol dos demais! Quem será que está vivendo no reino de Deus?
Jesus disse: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade, Mateus 7:21-23.
E disse mais: Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e deste-me de comer; tive sede, e deste-me de beber; era estrangeiro, e hospedaste-me; estava nu, e vestiste-me; adoeci, e visitaste-me; estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes, Mateus 25:34-40.
É de se concluir que a condição possa fazer parte do reino de Deus seja o interesse pelos outros. Isso não significa que a pessoa não deve se interessar por si, também. Mas que tenha misericórdia e conceda um pouco de graça aos demais. É por esse tipo de atitude que o Senhor disse: “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento”, Mateus 9:13. E é pela falta dela que Tiago alerta: “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo”, Tiago 2:13.
Ao encerrar, rogo a Deus que nos ajude a ter mais misericórdia e compaixão pelos nossos semelhantes, começando pelos mais próximos de nós, por Jerusalém, prosseguindo até os confins da Terra. Amém”.