Homilia do X Dom do Tempo Comum (Mt 9,9-13)(11/06/23)

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Caríssimos, a última frase do Evangelho de hoje é uma profunda dádiva do Coração Misericordioso de Jesus para conosco: "De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”. (Mt 9,13b). Assim respondeu Ele aos fariseus que questionaram sua ação misericordiosa em favor de Mateus quando o chamou para segui-lo; ele que era tido como um pecador público por ser cobrador de impostos, e por isso, considerado inimigo do seu povo.

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De fato, nessa frase de Jesus se encontram todas as possibilidades de conversão da humanidade decaída. Pois Ele não veio para nos condenar, mas sim, para nos perdoar e nos dar a graça de sermos santos como Ele é Santo, tal como meditamos no Evangelho de São João: "Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele." (Jo 3,16).

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Com efeito, assim começou a narração desse episódio no Evangelho de hoje: "Jesus viu um homem chamado Mateus, assentado à banca de impostos, e disse-lhe: Segue-me (Mt 9,9)." Ora, viu-o não tanto com os olhos corporais, mas com a vista da íntima compaixão. Viu o publicano, dele se compadeceu e o escolheu. Disse-lhe então: "Segue-me", que quer dizer, imita-me; segue-me, não tanto pelo andar dos pés, mas pela realização dos atos. Pois quem diz que permanece em Cristo, deve andar como ele andou (cf. 1Jo 2,6).

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Desse modo, compreendemos que a verdadeira prática religiosa consiste em fazer a vontade de Deus em todos os sentidos da vida, por isso, essa prática jamais pode ser vazia da fé que lhe acompanha, do amor e da misericórdia que a sustenta; porque sem essas virtudes tal prática se torna mero formalismo farisáico, prática nefasta inquisitória, exatamente por não cumprir a justiça divina.

 

Portanto, caríssimos, "A comunidade do novo povo de Deus não é uma comunidade de homens que se salvaram por si, mas que "foram salvos"; não é de justos, mas de justificados; não de livres, mas de libertados. A participação na Eucaristia é uma adesão a ação de Deus que nos salva hoje, que nos justifica neste momento, que nos liberta agora. Chamados a aproximar-nos da mesa por Ele preparada, recebemos o Pão dos pobres, o alimento que dá vigor, ouvimos a sua palavra de misericórdia que nos liberta." (Missal Romano).

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Destarte, quando olhamos atentamente os exemplos de nosso Senhor Jesus Cristo, percebemos que as suas palavras e ações são ao mesmo tempo salvadora, mas também uma censura à autossuficiência farisaica, a intolerância religiosa dos mesmos, e os atos condenatórios que com frequência apresentavam a favor de um formalismo hipócrita sem fruto algum para as almas.

 

Decerto, a vivência da fé nada mais é do que a prática da Palavra de Deus, isto é, da sua vontade que consiste em amar sempre, perdoar sem medida e compreender mesmo se não formos amados, perdoados e compreendidos, pois são estas virtudes que nos fazem crescer na graça, na sabedoria e na santidade de vida.

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Paz e Bem!

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Frei Fernando Maria OFMConv.