Em Jesus sempre houve o sim
Em muitas circunstâncias, somos levados a dizer sim, movidos por um sentimento de culpa, preocupação com o outro ou simplesmente pelo desejo de querer agradar sempre. Dizer “sim”, como os políticos, que sempre dizem sim para agradar, quando gostaríamos de dizer “não” é uma violência que praticamos contra nós mesmos. Principalmente quando dizemos sim, contrariando valores éticos dos quais não poderíamos abrir mão.
Em “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, a personagem narradora é enfática: "Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida". A criação começou com um sim de Deus. Foi preciso que, no princípio, Deus dissesse sim à vida para que tudo fosse criado.
O apóstolo Paulo, ao falar sobre Jesus, disse que “nele sempre houve o sim”. Não o sim para ser permissível e agradável. Nele estava presente o sim divino, a reafirmação de Deus no ser humano, assim como em cada criança que nasce Deus reafirma sua esperança na vida e no homem.
A vida de Jesus de Nazaré foi marcada por muitos “nãos”. E, apesar disso, Ele foi sempre “sim”, acolhendo aos que dele precisavam. Dizia sim até mesmo quando aparentemente parecia dizer “não” à hipocrisia religiosa e ao religiosismo arcaico e engessado dos fariseus, aos quais chamou de “sepulcros caiados”; aos que mercadejavam no Templo. Disse sim aos bandidos e marginais arrependidos de sua época, às mulheres, em geral, e às prostitutas e leprosos em particular, aos indigentes, cobradores de impostos e estrangeiros. Ao interpretar a Lei e os Profetas, disse sim ao espírito que vivifica; disse sim aos que pecavam, e por isso foi chamado de amigo dos pecadores.
A canção Tempos Modernos, interpretada por Lulu Santos, prenuncia o começo de um novo tempo, “um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera, com habilidade pra dizer mas sim do que não”.
E com o Cristo Jesus, eu vejo essas pessoas, finas, inteligentes e sinceras dispostas a dizer mais sim do que não a um exército de moradores de rua, que vivem como indigentes, sem saúde, educação emprego, moradia; dizer sim aos pobres, descendentes de índios e negros; aos homossexuais, aos que sofrem o preconceito e a intolerância religiosa do conservadorismo religioso-fundamentalista. Sim aos fumantes, viciados e errantes; sim a todos os que sofrem de alguma forma e têm sede de justiça.
Gente fina, elegante e sincera hoje diz sim a todas as manifestações de vida, às diferenças em suas múltiplas formas, ao respeito incondicional pelo outro. Nesse sentido, ao contrário do belíssimo samba “Sei Lá a Vida Tem Sempre Razão”, de Vinícius de Moraes, a hora do sim não pode ser um mero descuido do não. É nesse sentido que acredito que devemos dizer mais sim do que não. E dizer não a todo preconceito, a todas as formas de violência, desigualdades, ódio e intolerância.