As rédeas da vida

Muitas vezes é extremamente aterrorizante aceitar a ideia de que nós, e somente nós, devemos ser os condutores das nossas vidas. Nem sempre é fácil assumir a direção da vida e decidir sobre o percurso que queremos para ela, até porque muito da nossa liberdade individual já é tolhida por fatores socioeconômicos, políticos, históricos e culturais, que determinam de alguma forma nossas escolhas.

A direção a ser tomada na vida nem sempre é clara, como aparentemente podemos pensar. Mas um caminho claro e bem definido é indispensável antes de darmos qualquer passo. Lembro da indecisão de Alice, no conto “Alice no País das Maravilhas”. Em determinado trecho, Alice está perdida e encontra o Gato em cima de uma árvore. E, ao vê-lo, surge o seguinte diálogo:

— O senhor pode me ajudar? - diz Alice.

— Claro - responde o Gato.

— Para onde vai essa estrada?

— Para onde você quer ir?

— Eu não sei. Estou perdida.

— Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.

Sêneca, filósofo, nascido na Espanha, mas educado em Roma, já no primeiro século da nossa era, assim se manifestava em relação à condução da vida: “Devo governá-la, e não por ela ser levado”.

Hoje, em posição diametralmente oposta, em um trecho do samba composto por Serginho Meriti, um lindo e gostoso samba diz: “Deixa a vida me levar, vida leva eu”.

Isso implica em não decidir sobre a vida e ficar como folha seca ao sabor dos ventos. É muito mais fácil deixar de decidir ou deixar que decidam por nós. Assim permanecemos com a falsa ilusão de estarmos livres de qualquer preocupação e responsabilidade. Afinal — acreditamos —, fomos levados pelo acaso e não por nossas escolhas. No entanto pior que decidir de forma errada é não ter a coragem de decidir sobre coisa alguma.

As pessoas que lograram êxito e realização na vida foram aquelas que assumiram as rédeas da sua vida, conduzindo-a e não sendo conduzidas; são aquelas que, a partir de critérios claros e previamente planejados, não deixaram acontecer, mas fizeram acontecer.

E foi fazendo acontecer, como sujeito da história e não como objeto dela, que Paulo, o Apóstolo, pôde afirmar pouco antes da sua morte, com a mais clara convicção e sem qualquer sombra de arrependimento:

“Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé”.

Todos aqueles que têm uma alma sensível ao bem e um espírito solidário, longe de aceitar passivamente a correnteza das águas da vida, nela interfere e, quando necessário, muda o seu curso.