Quem sou eu?
Quem sou eu?
Izaias Resplandes de Sousa
“Quem dizem os homens que eu sou?” Marcos 8:27.
A todo momento nós nos relacionamos com pessoas. Às vezes, com muitas; outras, com poucas; mas, dificilmente, alguém vive fechado e isolado de tudo e de todos. Algumas relações são comerciais, outras, empregatícias; outras sociais. O que é certo é que sempre estamos nos relacionando com outras pessoas de alguma forma e por algum motivo. E, apesar de que, para um bom relacionamento, seja muito importante que as partes se conheçam, a maioria dos relacionamentos se dá em um plano superficial, onde cada parte conhece muito pouco da outra. E isso, sempre foi assim. Na verdade, o que se verifica é um esforço imenso de cada parte, a fim de que os interlocutores saibam o menos possível a respeito um do outro.
Desde que o mundo é mundo, o que vemos são aparências. Vivemos em um mundo de aparências, onde cada pessoa procura se parecer com a imagem que supõe ser idealizada por aquele com quem estará se relacionando. É comum ouvir expressões como “quem vê cara, não vê coração”; “você não sabe quem eu sou!”; “com quem você pensa que está falando”; entre outras.
Muitas vezes nós pensamos que as pessoas buscam nossos cultos, nossos ajuntamentos e nossas missões por causa de Jesus. É claro que assim ocorre em alguns casos. Mas, a maioria o faz por outros motivos. Mas não estranhemos. Nos dias de Jesus, também foi assim. As multidões não o seguiam exatamente pelo interesse em seus ensinamentos, mas por outros motivos. Vejamos: “Vendo, pois, a multidão que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, entraram eles também nos barcos, e foram a Cafarnaum, em busca de Jesus. E, achando-o no outro lado do mar, disseram-lhe: Rabi, quando chegaste aqui? Jesus respondeu-lhes e disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes”. João 6:24-26.
As multidões buscavam a Jesus por causa dos milagres que ele fizera e da multiplicação de pães. Mas, quando digo isso, não estou julgando as pessoas pelos seus motivos. A gente deve buscar alguma coisa porque sente necessidade disso. E, no caso das pessoas doentes ou mais pobres, que sofrem ou passam dificuldades, é perfeitamente compreensível que elas busquem fazer parte das igrejas que possuem um bom serviço social, com distribuição de comida, roupa, calçados, brinquedos, médicos, dentistas e outros benefícios. Nós pregamos o evangelho, pensando que as pessoas querem um evangelho espiritual, mas, na verdade, o que as pessoas querem é o que lhes garante a vida no dia a dia e não na eternidade. Elas querem um evangelho material. O amanhã é interessante, mas o hoje é urgente. Aliás, essa foi a mensagem de Jesus: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal”. Mateus 6:34.
Quando entramos na mente de nossos receptores, quando os conhecemos um pouco mais e descobrimos suas reais necessidades, fica muito mais fácil apresentar-lhes a nossa mensagem de socorro ou compreender melhor a nossa mensagem de hipocrisia. Porque é fato que, em muitas vezes, nós fazemos de conta que não percebemos a necessidade das pessoas, para não termos que ajudá-las, materialmente falando. E falamos em alto e sonoro som que estamos trazendo uma mensagem do amor de Deus. Que tipo de pessoas nós somos quando agimos dessa maneira?
Meus queridos, a alma jamais estará pronta para receber os benefícios espirituais, se, primeiro, não receber os benefícios materiais. A alma é a junção do corpo e do espírito, mas sem um corpo ponto para receber o espírito, jamais poderia haver uma alma. Primeiro, se cuida do corpo, depois, do espírito. O corpo foi criado para ser o receptáculo, a casa, a morada do espírito. Assim é a Palavra: “não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus?”. 1 Coríntios 6:19.
A mensagem que trata o interlocutor como sendo apenas um ser espiritual, que precisa de se alimentar apenas da Palavra de Deus para sobreviver é uma mensagem que não encontra contexto na Bíblia. Já no início da criação, vemos o Criador providenciando a comida material para o homem, qual, antes de tudo, é matéria e se alimenta de matéria; é carne e se alimenta de carne. Mas, resolvido esse problema, pode crescer e avançar na direção espiritual. No entanto, não nos esqueçamos de que “o homem bom cuida bem de si mesmo, mas o cruel prejudica o seu corpo”. Provérbios 11:17.
Quem sou eu? Que tipo de pregador eu sou? Enquanto pregador, a minha mensagem para os pobres e necessitados continua sendo a mesma. Eu prego a urgência, a necessidade de hoje, a mensagem prática para o dia a dia. Deixo as mensagens teóricas para aqueles que estão prontos para crescer e se aperfeiçoar. Deixo as mensagens para os “confins da terra”, para aqueles mensageiros que estão por lá, orientando-os, daqui, para que sigam nesse mesmo caminho. Os pobres e necessitados estão por toda parte. Não precisamos sair daqui para encontrá-los. É como disse Jesus: “os pobres sempre os tendes convosco”. João 12:8.
E, considerando que muitos se passam por pobres e necessitados para tirarem o pouco que é destinado a estes, é melhor que cada pregador ou cada mensageiro de amor permaneça no seu entorno, onde vive e não somente conhece muitas pessoas, como também pode conhecer melhor as demais e também ser conhecido por elas, num verdadeiro relacionamento de pessoas que se conhecem e se cooperam mutuamente. Entendo ser por isso que Jesus orientou os seus discípulos, dizendo: “ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra”. Atos 1:8.
O apóstolo Paulo orienta em sua carta a Tito que “os nossos aprendam também a aplicar-se às boas obras, nas coisas necessárias, para que não sejam infrutuosos”. Tito 3:14.
E complementa: “porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”. Efésios 2:10.
Cada um de nós que ousa abrir a boca para pregar a Palavra de Deus, sejamos, antes de tudo, frutíferos, aplicados às boas obras e não apegados aos discursos falaciosos que somente atestam a nossa hipocrisia. Devemos parar de apresentar um Deus de Amor que não ama, porque deixa as pessoas passando privações e necessidades. Nós somos instrumentos de Deus. Somos suas mãos de socorro e não suas gargantas. Que nossas ações possam falar mais alto do que os nossos discursos!