Tua fé te salvou!
(Reflexões baseadas em: II Reis 5,14-17; 2Timóteo 2,8-13; Lucas 17,11-19)
Qual é a nossa atitude, quando Deus nos concede uma graça?
O segundo livro dos Reis (II Rs 5,14-17) nos informa como agiu o estrangeiro Naamã.
Enfermo, pediu ajuda ao profeta Eliseu. Foi atendido em sua necessidade: a cura de uma enfermidade. Agradecido, voltou ao homem de Deus dizendo que, estando curado, pretendia presenteá-lo em agradecimento a Deus pelo dom da cura.
Evidentemente o profeta recusou os presentes, afirmando que a ação libertadora é de Deus e não de seu profeta. E essa ação salvadora depende da fé e da vontade de se entregar ao plano de Deus. Mesmo que inicialmente estivesse em dúvida, o estrangeiro faz um ato de fé: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel! Por favor, aceita um presente de mim, teu servo”. Valorizando o ato de fé do estrangeiro, o profeta reusa os presentes. “Pela vida do Senhor, a quem sirvo, nada aceitarei” (2 Rs 5,15-16).
O Deus de Israel, atende à necessidade de um estrangeiro. E este rende graças ao Senhor. Recebeu a graça e ficou agradecido! “Pois teu servo já não oferecerá holocausto ou sacrifício a outros deuses, mas somente ao Senhor” (2 Rs 5,17). O ato de fé manifesta-se em gestos de fidelidade. Impede que se preste culto a outros deuses, pois um só é o Senhor.
Além disso o dom de Deus é gratuito. É diferente do que fazem muitos dos que alardeiam sua boas obras. O bem realizado em favor de outro, se não for gratuito e desinteressado, não vem de Deus. Quando alguém cobra retribuição em bens ou aplausos, não age em nome de Deus!
Mas por ouro lado, como reagimos quando Deus nos concede uma graça?
A narrativa de Lucas (Lc 17,11-19) mostra algo semelhante ao episódio de Naamã e Eliseu. Dez leprosos pediram ajuda e foram curados, mas apenas um estrangeiro voltou até Jesus agradecendo o dom do corpo purificado da enfermidade.
Todos haviam gritado: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” (Lc 17,13). E todos receberam a mesma resposta de Jesus: apresentem-se aos sacerdotes! E eles foram. Foram e ficaram curados… e desapareceram da cena… apenas um, estrangeiro, voltou para agradecer.
A ação de Jesus foi gratuita. Mas percebeu, em relação aos enfermos, foi que a gratuidade do dom nem sempre produz uma igual atitude de agradecimento. Por isso faz o questionamento: “Não foram dez os curados? E os outro nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” (Lc 17,17-18).
Evidentemente nem Jesus nem o Pai precisam da gratidão humana para dispensar as graças que as pessoas recebem. Mas o Senhor espera que o ser humano agraciado, também seja um distribuidor de graças. Para isso tem que desenvolver a capacidade de agradecer. Não tem como as pessoas serem portadoras da graça divina se são se fazem pessoas agradecidas. E somente o estrangeiro foi capaz dese gesto…
Nunca é demais recordar que para a fé judaica o estrangeiro não faz parte do povo de Deus nem participa de sua promessa. E aqui temos dois estrangeiros, Naamã e esse samaritano: ambos retornam àquele que lhes concedeu a graça da cura para agradecer. Onde estão os outros? Onde estaríamos nós?
Por isso, podemos indagar: como reagimos quando Deus no concede uma graça?
Tudo isso nos leva a Paulo e Timóteo (2Timóteo 2,8-13). O apóstolo não difundiu o cristianismo entre seus concidadãos judeus, mas dirigiu-se às nações estrangeiras. Para isso, toma como discípulo o filho de uma judia e de um estrangeiro grego: Timóteo.
O que moveu Paulo a afastar-se dos Judeus fazendo-se auxiliar pelo filho de um estrangeiro? Entre outros motivos o fato que Jesus, embora tenha se dirigido aos judeus, trouxe uma mensagem universal. Além disso, os judeus rejeitaram a Jesus. O apóstolo percebeu que entre os estrangeiros, havia mais retribuição de fé. Havia mais adesão à proposta de Jesus. Havia menos agressão e perseguição à mensagem salvadora. Mesmo assim, os judeus o perseguiram, fizeram com que fosse preso. É da prisão que exorta o discípulo com seu exemplo de firmeza na fé. “Estou sofrendo até às algemas, como se eu fosse um malfeitor; mas a palavra de Deus não está algemada” (2Tm 2,9).
Tudo isso nos leva a perceber que nos dias atuais é a nós que Jesus lança a indagação: Onde estão os outros para quem realizei prodígios? Daí a indagação que devemos nos fazer: estamos entre aqueles que desapareceram da cena ou a nós Jesus vai dizer: “Levanta-te! tua fé te salvou!”