Sexta-feira santa
Hoje é um dia de silêncio, reflexão e oração. Neste dia relembramos (particularmente não gosto da palavra celebramos, que me lembra “festa”) a noite da agonia do Senhor no Jardim do Getsêmani, chegando a suar sangue e seu injusto julgamento que o condenou à morte. Um ser humano, por mais cruel que fosse, não precisaria passar por tantos sofrimentos. Sua caminhada foi desumana, já enfraquecido pelas torturas tantas e humilhações violentas.
A caminhada ao calvário, cheia de tristes momentos lembra em muito a caminhada de um povo que sofre dia e noite em filas de hospitais ou à procura de um espaço no mundo em que a palavra solidariedade desapareceu. Jesus encontrou homens e mulheres solidários à sua terrível dor em meio ao caminho. Verônicas e Simãos Cirineus são os que aliviam as dores alheias tais como estes aliviaram as dores do Senhor.
A morte foi terrivelmente dolorida. Um exemplo que o poderoso Império Romano quis mostrar a todos os que subvertem a ordem social. Jesus, subversivo, solidário aos pobres e oprimidos, morre injustamente numa morte redentora, salvífica para toda a humanidade. Um elo inaugurado entre o céu e a terra, um Deus feito homem por amor, por nossa humilde e insignificante existência. A morte do Senhor relembrada neste dia seja para nós um dia de pensar no mistério da existência e do fim desta.
Façamos jejuns, orações, penitências. Rezemos nas igrejas e em nossas casas. Mas não nos esqueçamos dos que morrem todos os dias vítimas de um sistema injusto e cruel tal como se fez com Jesus. Em cada um de nós e dos nossos irmãos e irmãs presente está a pessoa do Cristo, que sofre o nosso sofrimento, que se crucifica conosco, e mesmo após cumprida sua missão, está ao nosso lado, carregando nossas cruzes e nos sorrindo sempre, nos animando.
Que a morte do Cristo nos ensine as nossas limitações e nos faça entender que nem sempre seremos vencedores em tudo. Mas sintamos também o gosto da ressurreição e da vitória que logo chegará. Deus abençoe seu dia.