Seu Nome é Jesus
Deus veio até a casa, desdizendo-se de sua glória.
Pediu licença ao ventre de uma menina sacudido por um decreto de César,
e se tornou um de nós: um palestino entre tantos, em sua rua sem número,
semiartesão de toscas tarefas, que vê passar os romanos e as andorinhas,
que morre depois, de morte ruim, matada, fora da Cidade.
Já sei que faz muito que os sabeis,
que vo-lo dizem, que o sabeis friamente
porque vo-lo disseram com palavras frias…
Eu quero que o saibais de repente,hoje, quiçá,
pela primeira vez,absortos, desconcertados, livres de todo mito,
livres de tantas mesquinhas liberdades.
Quero que vo-lo diga o Espírito, qual machadada em tronco vivo!
Quero que O sintais como um esto de sangue no coração da rotina,
em meio a esta carreira de rodas entrechocadas.
Quero que tropeceis com Ele como se tropeça com a porta da Casa,
retornados da guerra, sob o olhar e o beijo impaciente do Pai.
Quero que O griteis como um alarido de vitória pela guerra perdida,
ou como o parto sangrante da esperança no leito de vosso tédio, noite adentro, apagada toda ciência.
Quero que O encontreis, em um total abraço; Companheiro, Amor, Resposta.
Podereis duvidar de que haja vindo para casa, se esperais que vos mostre a patente dos prodígios, se quereis que vos sancione a desídia da vida.
Mas não podeis negar que seu nome é Jesus, com patente de pobre.
E não podeis negar-me que O estais esperando com a louca carência de vossa vida rejeitada como se espera o sopro para sair da asfixia quando a morte já se enroscava ao pescoço, como uma serpente de perguntas.
Seu nome é Jesus.
Seu nome é como seria nosso nome se fossemos, de verdade, nós mesmos.