Que devo fazer?
(Reflexão a partir de: Sabedoria 7,7-11; Hebreus 4,12-13; Marcos 10,17-30)
O que buscam as pessoas? Qual o sentido e o motivo que impulsiona a vida das pessoas?
Nem precisamos de muito esforço para sabermos que, embora algumas pessoas busquem a felicidade, a maioria dos indivíduos pretende o acúmulo de riquezas.
Mas, seria esse o objetivo da vida? A riqueza é o projeto para nortearmos nossas vidas? É evidente que não se vai dizer que os bens materiais não são importantes. Mas, daí a dizer que deve-se viver para acumular riquezas…?
Quando perscrutamos a Palavra de Deus, entendemos que esse não é o melhor caminho, nem a melhor resposta para o sentido da vida.
O livro da Sabedoria demonstra isso. Ali fica claro que o objetivo a ser alcançado e o sentido da busca é a Sabedoria! Ela é o motor da vida. E isso de forma muito radical: “Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza” (Sb 7,8). E qual a recompensa, por ter esclhido não a riqueza, mas a sabedoria? “Todos os bens me vieram com ela, pois uma riqueza incalculável está em suas mãos” (Sb 7,11). Em síntese: A sabedoria conduz às riquezas, mas a riqueza não leva, necessaraimanete, à sabedoria! E nem à felicidade!
Na carta aos hebreus o centro da busca é a própria Palavra de Deus. Trata-se de uma Palavra que “julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb4,12). Trata-se de uma Palavra que separa o que conduz a Deus, daquilo que não leva à realização; o que aproxima e o que afasta do caminho do Senhor. Ela é capaz de “dividir alma e espírito, articulações e medulas” (Hb4,12). Trata-se de uma palavra que expõe o que está oculto, pois “tudo está nu e descoberto aos seus olhos” (Hb 4,13). E, por fim, trata-se de uma palavra com a qual cada uma das pessoas terá que se confrontar e “prestar contas” daquilo que tiver feito, mas que não deveria… ou deixou de fazer e que devería ter realizado. E, tudo isso, se pode compreender com a Sabedoria que o Senhor oferece.
Mas é Jesus quem ensina o verdadeiro sentido da existência e o valor dos bens materiais.
Ele mostra que não basta cumprir os mandamentos. Existe um passo a mais a ser dado. E mostra isso com a história do jovem que o procura querendo saber qual o caminho para a vida eterna (Mc 10,17-30). Um jovem, rico, que já cumpria todos os mandamentos. Mas lhe faltava o passo definitivo: abraçar o desapego.
A proposta de Jesus é, ao mesmo tempo, radical e definitiva, mas feita com o mais puro amor de Deus: amor para com o jovem rico e amor para com os necessitados. Ao ser interpelado pelo jovem, “Jesus olhou para ele com amor, e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!’” (Mc 10,21).
Será que conseguimos imaginar a cena? Um jovem que, como muitos empresários e fazendeiros e outros profissionais, é rico e vive de sua riqueza. Uma dessas tantas pessoas que passam horas ajoelhados em oração. Que ostentam um terço no pescoço ou feito uma ridícula pulseira, enrolada nas mãos e no pulso… pessoas de orações fervorosas… certamente era assim o jovem que havia rocurado por Jesus… e o Mestre olha para essa pessoa… Só uma coisa te falta!!!
E olha com amor! Valoriza sua devoção e dedicação à oração! Mas, uma só coisa te falta!!!
Por valorizar essa vida de oração, faz a proposta radical: uma só coisa te falta! Desapegue-se!
Jesus é claro naquilo que propõe. É claro em oferecer uma opção definitiva. A paz almejada pelo rapaz não está escondida em sua riqueza nem nos mandamentos. Ela está no desapego (“vai e vende tudo”) que se expressa no gesto de pensar na necessidade do outro (“dá aos pobres”). Pensar no outro de forma solidária e desapegada: esse é o caminho para a felicidade e para o Reino!
Desvincular-se do que não preenche a vida; juntar-se ao projeto de uma sociedade sem necessitados. Aquilo que algém possui além de suas necessidades é o que falta àquele que nada tem!
Neste ponto Jesus faz uma das mais duras afirmações de sua pregação. Começa com uma constatação “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” Em seguida vem a afirmação definidora: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” (Mc 10,23-25)
Mas o problema não é a riqueza em si, mas no apego à riqueza. Um apego que leva o rico a querer ter sempre mais e se achar com mais direito que os outros. Que o faz pensar que pode acumular idefinidamente; que os outros não possuem e nem acmularam porque não o quiseram, ou que não foram espertos o suficiente, ou que não trabalharam… Não percebe, o rico, que seus bens são resultado do trabalho de outros.
E por não ser capaz disso e de só ver a si mesmo no centro, terá dificuldade em se salvar; por apegar-se à riqueza como se isso fosse o céu, terá dificuldade e se salvar. Seu problema é o apego às coisas e não as coisas: Essa é a situação que lhe dificulta a slvação!
A pergunta que o jovem fez ao Meste, possuidores ou não de riquezas, devemos nos fazer também: que devo fazer? O que me falta? Jesus já deu a resposta. O que nos falta não é fazer a pergunta… mas é assumir a resposta!
Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação
Filósofo, Teólogo, Historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
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