Nós Seremos Glorificados
"Para que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja em vós glorificado, e vós nele (...)" - II Tessalonicenses 1.12
Frequentemente, cristãos e pregadores acusam nossa geração de ser antropocêntrica. Não creio que isso seja uma característica apenas da nossa geração, mas uma marca da humanidade sem Deus; o problema é que o antropocentrismo se manifestou ao longo da história de diferentes maneiras, não somente na forma do humanismo, mas principalmente na religião, que, em geral, é uma manipulação do sagrado a favor dos interesses dos homens.
Essa preocupação com a pregação antropocêntrica é útil e importante, mas pode nos tornar resistentes a determinadas ideias bíblicas. Uma delas é a recompensa dos santos na Vinda de Jesus. Por causa de uma ênfase exagerada nesse aspecto por parte de alguns pregadores, que coloca os ouvintes no risco de se envolverem em uma relação interesseira com Deus, alguns têm diminuído a importância desse tema ou até o rejeitado.
O texto escolhido para essa reflexão pode ser recebido com resistência por alguns. Ele ensina que não apenas Cristo será glorificado em nós na Sua manifestação, mas que é o propósito de Deus também nos glorificar em Cristo. O que isso significa? Será que Deus vai dividir Sua glória conosco? Para entender isso, precisamos ler o capítulo desce o começo. Após a saudação inicial, em que Paulo afirma estar escrevendo "em Deus nosso Pai, e no Senhor Jesus Cristo", ele diz que sempre dava graças a Deus pelo aumento do amor e da fé dos seus leitores, porque isso era justo. Isso significa que, em última instância, o aumento da fé e do amor nos crentes em Jesus são uma obra do próprio Deus; de outra maneira, não faria sentido Paulo ter a obrigação de agradecer ao Senhor por isso.
Como Paulo sabia que a fé e o amor dos tessalonicenses aumentava? Não que ele pudesse olhar o coração deles para ver seu estado psicológico interior. É que o amor e a fé verdadeiros SEMPRE se manifestam em obras visíveis. É a fidelidade aberta a Deus e a caridade prática (principalmente para com os crentes em Jesus, pelo que Paulo diz "uns para com os outros") que mostram o coração de um verdadeiro filho de Deus. Ao contrário, os homens que praticam a injustiça e o pecado demonstram que não têm fé (2Ts 3.2). Essa fé e esse amor nos purificam para que possamos nos apresentar "irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai" (1Ts 3.13) no Juízo Final, de modo que Jesus nos preserva para a vida eterna justamente fazendo nossa fé e nosso amor crescer, para que tenhamos plena certeza da salvação.
O apóstolo se alegrava com o sucesso espiritual de seus irmãos, o que é uma prova de seu próprio amor por eles. Se devemos amar uns aos outros, devemos também nos alegrar com todo o bem que nossos irmãos experimentam, seja de ordem física, seja espiritual.
No versículo 4, Paulo elogia não apenas a fé dos seus destinatários, mas também sua paciência/perseverança. Isso porque a grande prova de que o amor e a fé de uma pessoa vêm realmente de Deus é ela continuar demonstrando amor e fé ainda que tudo se lhe oponha. Uma fé que se esvai, um amor que se acaba, não vem de Deus, vem do homem, e seu destino é, como tudo que vem do homem, morrer. Isso significa, por outro lado, que se somos de fato filhos de Deus, as dificuldades dessa vida NÃO TÊM poder para enfraquecer nossa fé; pelo contrário, "a prova da vossa fé opera a paciência, (...) para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma" (Tiago 1.3-4).
O propósito do Senhor é nos tornar "dignos do reino de Deus" (2Ts 1.5). Em última instância, jamais seremos merecedores de tudo o que o Deus tem para nós; contudo, o Pai quer que não apenas sejamos declarados justos por causa da obra de Cristo, mas que sejamos EFETIVAMENTE justos, porque Deus é um justo juiz. Ele não quer apenas nos inocentar, mas apresentar nossas obras que provêm de uma fé perseverante como provas de que somos em alguma medida merecedores daquilo que Ele é para nós em Cristo agora e para sempre.
Isso precisa ser colocado em contraste com a enfase bíblica de que nós somos indignos, pecadores, imundos, etc. Deus está trabalhando em nós para nos tornar dignos do Seu Reino, não podemos deixar que a consciência da nossa própria fraqueza nos impeça de colocar esse alvo diante de nossos olhos e buscá-lo no poder do Espírito Santo com a certeza de que Deus realmente pode fazer isso que Ele quer fazer. Todo sofrimento que nós enfrentamos nesse mundo tem o objetivo de contribuir com esse propósito principal. Por isso devemos receber as perseguições e aflições como dádivas divinas apesar de toda dor que elas nos causam.
Portanto, não precisamos nos vingar daqueles que nos fazem mal. No fim das contas, eles estão contribuindo para nos tornar dignos do reino de Deus, de modo que, mesmo sem intenção, eles estão nos fazendo bem. Apesar disso, eles não ficarão impunes: Deus dará "em paga tribulação aos que vos atribulam" (v.6). Não se preocupe, o Senhor fará justiça, você não precisa fazê-la com suas próprias mãos. Quando as pessoas te afligirem, arme-se com esse pensamento para fortalecer tua paciência e retribua o mal com amor; isso vai deixar livre o caminho para que DEUS faça justiça e te torne digno de estar com Ele para sempre. Nós nos tornamos parecidos com Jesus quando somos injustiçados e perseguidos pelos homens, e ainda assim conseguimos amar nossos inimigos.
O castigo final dos ímpios acontecerá "quando se manifestar o Senhor Jesus" (v.7), ou seja, na sua Revelação, no fim dos tempos. Isso representará também "descanso" para nós, que sofremos por amor do Reino de Deus. Por isso, se somos fiéis a Deus, não precisamos ter medo da voltar de Jesus, mas ansiar por ela. Aliás, se não estamos desejando a vinda de Cristo, isso significa que nosso descanso, nossa esperança, nossa tentativa de alívio está em outro lugar que não em Deus. Esse é um estado perigoso, porque pode significar que não fazemos parte do grupo de "atribulados" a quem o Senhor irá vindicar, mas daqueles que não são dignos do Reino.
Se você não tem desejado a vinda de Jesus, precisa alimentar a tua fé com as promessas maravilhosas de Deus sobre o Seu Reino, sobre a vida eterna. Essas promessas devem ser a base da nossa paciência em suportar todo o mal, sabendo que nosso sofrimento agora não se compara com toda a alegria que o Senhor tem para nós na vida eterna, e que todos aqueles que nos afligem terão o seu devido castigo.
Se as promessas divinas não forem suficientes para alimentar tua fé, medite nas ameaças da Sua Palavra para que isso te gere temor. O Senhor Jesus não virá apenas trazendo descanso, mas também "com labareda de fogo, tomando vingança" (v.8). Jesus vai castigar aqueles que O rejeitam, e o fará de modo rápido, assustador e doloroso. Os alvos da ira do Cordeiro são dois: primeiro, aqueles que não conhecem a Deus. Aqui, como em geral acontece nas Escrituras, conhecer não quer dizer estar bem informado intelectualmente, mas é relacionamento. Precisamos buscar a cada dia andar com Deus, envolver-se naquilo que Ele está fazendo nesse mundo, ainda que muitas vezes isso nos traga sofrimento.
Por outro lado, o Senhor se vingará também daqueles que não obedecem ao Evangelho. Isso significa que a Boa-Nova não é apenas mensagem que devemos crer, mas mandamentos que devemos cumprir. É um chamado para sofrermos para avançar o Reino de Deus na terra. É suportar aflição para proclamar o nome de Cristo. É amar nossos irmãos como Cristo nos amou.
O castigo dos ímpios é apresentado, em II Tessalonicenses 1.9, com três sentenças. Primeiro, ele significa eterna perdição. Isso quer dizer destruição eterna, ruína eterna, morte eterna. Esses, que só pensam nas coisas terrenas, não podem ter outro fim senão destruição quando este mundo for destruído (Fl 3.19). Além disso, eles ficarão para sempre longe "da face do Senhor" e "da glória do seu poder". Isso mostra que essa destruição não significa aniquilação total, mas afastamento completo da graça e da presença amorosa de Deus, e uma derrota completa, como Satanás já foi destruído (Hb 2.14).
Por outro lado, isso demonstra também que o grande gozo dos santos no Céu não é nenhum dos prazeres que lá se encontrarem, mas a própria presença do Senhor, que será nossa alegria eternamente. E o maravilhoso é que nós agora mesmo podemos experimentar a presença de Deus, ver a face do Senhor, por meio do Espírito Santo; por isso, o ministério do Espírito é para nós hoje um antegozo da vida eterna.
II Tessalonicenses 1.10 diz que, na Vinda de Jesus, Ele será "glorificado nos seus santos", ou seja, "em todos os que crêem". Isso significa que a suprema beleza de Jesus vai ficar mais clara quando forem manifestas as obras daqueles que obedeceram ao Evangelho. Cristo morreu e ressuscitou para apresentar ao Universo uma "igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" (Ef 5.27) tirada a partir de homens pecadores e maus, demostrando a maravilhosidade da grandeza do Seu poder e quão admirável é o Seu amor.
Todas as criaturas ficarão espantadas quando virem o trabalho de construção da Igreja terminado; ela será um povo tão belo, tão santo, tão poderoso, tão obediente, tão digno, tão paciente, tão fiel, tão amoroso, tão cheio de graça e de paz que será quase inacreditável. Note, mais uma vez, que nós podemos experimentar em parte essa beleza e glória praticando o Evangelho dia após dia, enquanto Cristo faz a Sua obra de edificação da Igreja.
Por causa desse futuro maravilhoso e sublime, o Espírito Santo nos chama a viver já agora sob essa perspectiva, sabendo o que Deus está fazendo em Seu povo: tornando-o digno do chamado para participar do Reino de Cristo. Paulo orava, segundo o versículo 11, para que Deus continuasse essa obra nos Tessalonicenses. Isso porque o Deus Soberano, o Senhor de todo o Universo, determinou cumprir todas as suas promessas para o Seu povo mediante as suas orações.
Paulo também orava para que Deus cumprisse neles todo o desejo da sua bondade e a obra da fé com poder. Assim, nesse processo de preparação dos crentes para a entrada no Reino eterno, Deus coloca em seus corações resoluções boas e fé que se transformam em obras de amor. Não basta apenas ter boas intenções, se não houver fé na Palavra de Deus; e não basta apenas ter fé, se elas não se transformarem em atitudes práticas; e nada disso será possível sem o poder de Deus.
Finalmente, no versículo 12, Paulo diz que Cristo não está satisfeito em apenas ter sua própria beleza honrada para todo sempre, mas Ele também quer nos honrar. Isso não significa que Deus vai dividir sua glória conosco, mas que uma vez que nós estamos "em Deus nosso Pai, e no Senhor Jesus Cristo", ou seja, uma vez que nós, os que cremos, nos tornamos um só com a Trindade, quanto mais admiráveis nós nos tornarmos, mais admirável Ele vai se tornar, e quanto mais glorificado Ele for, mais glorificados nós seremos também. É isso que significa que nós seremos glorificados; os que praticarem o Evangelho receberão a honra de demonstrar o supremo valor de Deus para sempre.