A invocação do Missanta
O ambiente de trabalho na Companhia de Tecidos de Pitangui, naqueles anos setenta era geralmente de muita camaradagem e solidariedade. O regime de horários e de atenção ao serviço era bem duro e cumprido à risca. Embora sacrificada, a vida do operariado, conquanto modesta, era considerada uma bênção numa cidade de poucas oportunidades de trabalho regular e remunerado em consonância com a qualificação dos empregados e na inevitável comparação com outras fontes de renda que a modéstia da cidade proporcionava.
Duma feita, a operária conhecida como Inhá ganhou uma bela pomba-correio que passou a ser seu xodó além de admirada pelos colegas de seção. Quando uma estranha ocorrência aconteceu com a ave, que vivia engaiolada, a mesma começou a perder rapidamente sua plumagem, Dona Inhá recorreu aos companheiros pedindo-lhes orações, procedimento bastante comum nas agruras e momentos difíceis da vida do operariado.
Uma noite, reunidos vários colegas na casa da desafortunada Dona Inhá, para as rezas e benzeções habituais, terminado o terço, e iniciada a declamação das intenções, Antônio, que era por todos mais conhecido pelo estranho apelido de Missanta, ergueu a mão e, chegada a sua vez,
proclamou:
- Agora esta ave-maria vai pra pomba da Inhá incabelá...