Dia 140 – Marcos 07 – 10. Mergulho ou Lavagem; Siro-fenícia; Efatá; Faltou poder?; Perder a vida; Sigo crendo;Galardão; Divórcio; Riquezas; Bartimeu.
16 de Maio de 2019
Começamos hoje com um assunto que causa certa polêmica, a palavra Batismo. A Bíblia não diz como se deve ser o Batismo, se por aspersão ou por imersão, mas, estudiosos da língua grega podem nos auxiliar nesse sentido, ou talvez não.
Mergulho, muitos dizem ser essa a tradução para a palavra grega βαπτίζω – baptízo, e de fato, penso que no grego clássico possa ter sido assim, mas no grego Bíblico (o koinê) a situação pode ser um pouco diferente, vejamos a passagem a seguir:
E, quando voltam do mercado, se não se lavarem, não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal e as camas. (Mc 7.4)
A palavra que lemos ali, traduzida como “lavar” é justamente βαπτίζω – baptízo. Como pode então significar apenas mergulho se na própria tradução da Bíblia a usam como lavar? Ha quem defenda que os judeus lavavam os copos os mergulhando em água, dai seu significado; mas e quanto aos jarros? Haviam jarros bem grandes… E as camas (algumas traduções trazem como mesas, ambas as traduções estão corretas), mergulhavam as camas em rios para as lavar?
Não digo aqui que a palavra βαπτίζω – baptízo não signifique mergulho, mas que possui mais significados além destes, por isso, penso que não podemos afirmar categoricamente que o batismo nos tempos bíblicos eram feitos exclusivamente por imersão.
Temos ainda uma passagem curiosa, lemos hoje sobre uma mulher siro-fenícia, ou seja, ela era grega e não judia, que veio até Jesus em busca de uma cura para sua filha (Mc 7.24-30); Jesus no entanto lhe explica que sua missão era os Judeus, mas a humilhação e quebrantamento da mulher fizeram com que Jesus libertasse sua filha da opressão em que havia caído.
Jesus sempre amou a todos e sempre foi o plano de Deus se relacionar com todas as pessoas, mas nesse momento, sua missão era pregar aos judeus. Como filho obediente, Jesus ateve-se ao plano de seu pai e seguiu firme em seu propósito, mas, seu amor divino nos mostra que sempre há lugar para o quebrantamento. Essa mulher foi uma exceção no ministério de Jesus, e sem dúvida essa passagem foi usada no futuro quando começaram a discutir se a salvação se estenderia aos gentios.
Em Marcos 7, no verso 33, vemos Jesus curando um homem de um modo singular, enquanto em alguns casos vemos apenas um toque de Cristo, aqui Jesus faz todo um “arranjo”, tocando-lhe na língua e nos ouvidos; mais a frente vemos uma cura em partes (Mc 8.23-25), Jesus impõe suas mãos, mas o homem não é curado por completo, sua visão fica meio borrada, então, impondo as mãos uma segunda vez, Jesus o cura. Faltou aqui poder em Cristo?
Esses textos me mostram a soberania de Deus; Deus opera de muitas formas, Jesus em alguns casos curou de longe, em outros de perto, às vezes, tocou nas pessoas, em alguns casos fez lodo com seu cuspe; o fato é que não existe uma fórmula para a manifestação do poder de Deus! Algumas pessoas, por exemplo, são libertas de vícios de uma só vez, em m só momento, outras precisam passar por um processo, ou seja, Deus é soberano em sua maneira de agir.
Falemos rapidamente da segunda multiplicação de pães e peixes (Mc 8.8), aqui, sobram sete cestos e mais uma vez vemos que houve uma multiplicação literal de comida, e não apenas de forma figurada.
Já falamos aqui sobre seguir a Cristo e sobre como duas decisões resultam em um processo, hoje, completamos esse pensamento com uma frase de Cristo: “Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” (Mc 8.35). Jesus não fala aqui, necessariamente, sobre morre por ele, mas sim sobre perder a vida no sentido de perder “boas oportunidades” ou “deixar de aproveitar a vida”.
Aqueles que consideram sua vida como um bem precioso, digno de ser aproveitado, acabarão perdendo sua verdadeira vida (a eterna), mas quando você decide negar-se a si mesmo e carregar a sua cruz, quando por amor a Cristo se abre mão dos bens e prazeres dessa vida, então você verdadeiramente achará sua vida, ou seja, a vida eterna.
Tudo é possível ao que crê! Lemos isso em Marcos, no capítulo 9, no verso 23; um comentário cabe sobre esse texto, a palavra aqui traduzida como cer, nos indica uma ação contínua, crer e continuar crendo; também na resposta do pai “eu creio” vemos a mesma ideia de ação continuada.
Não basta termos um pico de fé, a fé não deve ser algo momentâneo, mas sim uma constância na vida do cristão; dessa forma, tudo é possível ao que segue crendo, ao que vive na fé e pela fé.
A Bíblia nos promete galardão nos céus, ou seja, uma recompensa de Deus pelas obras praticadas em vida; não podemos confundir isso com a salvação, que é um presente e independe das obras. Jesus nos fala que “Porquanto, qualquer que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão.” (Mc 9.41).
Naquele dia haverá muitas surpresas, Deus nos galardoa de forma muito maior do que pensamos; você pode não ser um pastos, mas, ao orar por um, você passa a ser parte desse ministério e receberá galardão de pastor (Mt 10.41).
Em alguns casos, as palavras de Jesus são duras, muitas vezes para enfatizar uma verdade de grande proporções. Qual o esforço que devemos fazer para evitar o pecado? Todo o esforço possível (Mc 9.45-58), claro que, nesse texto, Jesus usa uma figura de linguagem, nos mostra que nossos esforços devem ser tremendos. Não devemos nos amputar pelo Reino, não que o Reino não valha o esforço (vale), mas porque isso não resolveria nossos problemas.
Jesus já nos disse que os pecados nascem no coração, assim, se um homem que luta contra os desejos sexuais, resolvesse se emascular, não resolveria seus problemas, conquanto não tivesse mais capacidade de consumar seu pecado, ainda pecaria em pensamentos, de forma que continuaria na mesma situação.
Mais uma vez vemos Jesus falando sobre o Divórcio (Mc 10.2-12), aqui, o escrito não se preocupa em nos apresentar a causa de exceção que vemos em Mateus 19, penso que Mateus teve esse cuidado por ter contado a história de José, o próprio Mateus nos enfatiza que José era justo (Mt 1.19), penso que por isso teve o cuidado de relatar em detalhes a fala de Cristo, para que os futuros leitores entendessem a legalidade do divórcio que José pretendia dar a Maria (o noivado só se encerrava assim, leia o cometário referente ao sermão do monte e a Mateus 19).
Ainda nesse texto, Jesus nos deixa claro que o casamento ocorre entre homem e mulher (Mt 10.7) e que essa união é bilateral, homem e mulher, não há margem para poligamia. No verso 9, Jesus conclui seu discurso nos mostrando como o casamento deve ser indissolúvel.
Ah que alegue que só são indissolúveis os casamentos “que Deus ajuntou”, ou seja, se você está infeliz em seu matrimônio, talvez Deus não tenha lhes juntado, por isso você poderia se divorciar. Tal pensamento não encontra respaldo bíblico, já inclusive comentamos em Malaquias que Deus é testemunha dos nossos votos de casamento (Ml 2.14), todo casamento, para bem ou para mal, recebe a chancela divina; por isso devemos pensar muito antes de tomarmos essa decisão.
Já próximo do fim de nossos escritos de hoje lemos a passagem do Jovem rico, um homem que aparentemente tinha uma boa vida, era uma boa pessoa, mas que amava o dinheiro mais do que a Deus (Mc 10.17.22).
Jesus podia lhe ter facilitado, não precisava ser tão duro, não há pecado em possuir riquezas, mas Jesus sabia que o coração daquele jovem não seria por inteiro de Deus, se Jesus permitisse que aquele jovem fosse seu seguidor, Jesus o estaria enganando.
Ainda hoje em nosso meio há muitas pessoas enganadas, pessoas próximas a Cristo, que vivem vidas “piedosas”, pessoas que sempre estão na igreja, mas que em seu coração, Cristo não habita o lugar principal. Não nos deixemos enganar, nosso coração só tem um trono, se Jesus não está nele, não está em lugar algum.
Encerramos falando do cego Bartimeu, e de como foi salvo por Cristo; mas gostaria de enfatizar apenas o final da passagem, quando Jesus diz “Vai, a tu fé te salvou” (Mc 10.52), aqui o verbo Salvar também está naquele tempo que já comentamos, o Perfeito. Interessante ver que todas as vezes que Jesus fala que os pecados estão perdoados, ou que a fé salvou ele sua esse tempo verbal; um tempo muito interessante que nos trás a ideia de uma ação que ocorreu em determinado momento, mas que depois, sua ação persiste ao longo do tempo. A salvação, frisamos, não é algo pontual, mas sim linear, embora ela tenha um começo, não tem um fim.