Jesus é o Fruto santo; Maria - a árvore pura de Deus na Nova Criação.

J B Pereira

“Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam! Mas entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos!”

Mc 10, 32-45

Jesus, nosso Salvador, único mediador entre o Pai e nós, pecadores, redimidos pelo sangue de Jesus na Cruz. Maria, entregue ao Discípulo Amado na cruz – é nossa co-medianeira na única e universal mediação de Jesus. Tudo de Jesus está em Maria como seguidora fiel, por ser sua mãe e ungida pelo Espírito Santo.

Em Maria, porque Deus desejo, pensou, predestinou e fez – quis torna-la mãe do Salvador – sem mácula alguma. Pois nas Escrituras dizem: “Pelos frutos, reconhecereis a árvore.”

Isabel afirma santamente na visita de Maria:

“- Bendita és tu entre as mulheres; bendito é o Fruto de Teu Ventre – Jesus!”

Ora se o Fruto é bendito e santo, puro e formoso, quão não o será a árvore deste fruto: Jesus nascido de Maria Imaculada concebida” desde o seio de sua mãe Ana – “pelos méritos da paixão , morte e ressurreição de Jesus Cristo, Nosso Senhor”!

E Deus mesmo havia outorgado depois da queda de Adão e Eva:

“- Estabelecerei uma inimizade entre a serpente e a mulher, esta pisará

a cabeça daquela cobra... a qual tentará picar-lhe o calcanhar”,

sem poder fazer.

E Isaías prefigura e profetiza pura e eternamente:

“- Nascerá de uma Virgem um filho... para um povo que andava nas trevas...”

Contra a anemia espiritual e doença da alma ou pecado: “Invoque a Maria e olha a Estrela...!” Orava São Bernardo docemente ante o nome santíssimo de Maria – Virgem Mãe de Deus.

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Tudo por Jesus, nada sem Maria!

J B Pereira

Quanto à mediação conexa de Maria em Jesus nosso único mediador em Deus a nosso favor, pelas preces e santa presença de Maria Imaculada, podemos incluir as palavras do VATICANO II e de São Luís Maria Montfort.

A mediação de Maria em nada diminui a universal e única Mediação de Jesus, segundo o Documento Vaticano II.

S. Luís M. Montfort afirma que, mesmo Maria – sendo infinitamente pequena diante de Deus como ser humano – sua humildade alegrou ao Criador; preencheu o vazio deixado pela queda dos anjos e a de Adão e Eva no Paraíso.

Poeticamente, S. Luís evoca Maria como Tesouro do Mar; Celeiro riquíssimo do Céu que nos trouxe Jesus – nosso Tesouro Eterno.

Para S. Luís, a vida na graça e a puríssima imaculada e maternidade virginal de Maria – Mãe de Jesus – a eleva acima dos anjos e não acima de seu Filho, a quem ela se coloca como serva e discípula fiel.

Nesse sentido, Jesus entregou-lhe toda sua vida divina e graças. Os méritos de Jesus a preservouo do Pecado original e lhe concedeu ser também co-medianeira daquelas graças e bênçãos da cruz e da Ressurreição. Ela é a primeira a ascender-se no céu, isso é, a participar de modo puro e amorosamente admirável da ressurreição de Jesus como modelo para todos os que creem em Jesus e na vida eterna.

Ela está associada maternal e salvificamente ao mistério do Salvador desde sua encarnação em seu seio imaculado até sua entrada no Céu, de onde intercede miraculosa e maternalmente a nosso favor nas graças de Jesus para nossa redenção. Sendo Jesus justo e bom, Maria não poderia participar dessa mediação, economia de graças, advocacia celestial, co-redenção contra seu Filho.

Veja que, nos números 22 a 36, nos aprofundam a fecundidade e fidelidade de Maria no plano da graça como único e certo caminho para Jesus – meta santa da verdadeira Devoção da Virgem Maria Santíssima.

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“22. A conduta das três pessoas da Santíssima Trindade, na encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo, é a mesma de todos os dias, de um modo visível, na Igreja, e esse procedimento há de perdurar até à consumação dos séculos, na última vinda de Cristo.

23. Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e chamou-as Maria10. Este grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam o tesouro do Senhor11, e de cuja plenitude os homens se enriquecem. 10) Appellvit eam Mariam, quasi mare gratiarum

(S. Antonino, Summa, p. IV, tit. 15, cap. 4, § 2). 11) Ipsa est thesaurus Domini (Idiota, In contemplatione B.M.V.).

24. Deus Filho comunicou a sua Mãe tudo que adquiriu por sua vida e morte: seus méritos infinitos e suas virtudes admiráveis. Fê-la tesoureira de tudo que seu Pai lhe deu em herança; é por ela que ele aplica seus méritos aos membros do corpo místico, que comunica suas virtudes, e distribui suas graças; é ela o canal misterioso, o aqueduto, pelo qual passam abundante e docemente suas misericórdias.

25. Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua fiel esposa, seus dons inefáveis, escolhendo-a para dispensadora de tudo que ele possui.

Deste modo ela distribui seus dons e suas graças a quem quer, quanto quer, como quer e quando quer, e dom nenhum é concedido aos homens, que não passe por suas mãos virginais. Tal é a vontade de Deus, que tudo tenhamos por Maria e assim será enriquecida, elevada e honrada pelo Altíssimo, aquela que, em toda a vida, quis ser pobre, humilde e escondida até ao nada. Eis a opinião da Igreja e dos Santos Padres.12 12) Ver, entre outros, São Bernardo e São Bernardino de Sena, que S. Luís Maria cita mais adiante (141-142).

26. Se eu me dirigisse aos espíritos fortes desta época, tudo isso, que digo simplesmente, poderia prová-lo pela Sagrada Escritura, pelos Santos Padres, citando longas passagens em latim e aduzindo os mais fortes argumentos, que o Padre Poiré deduz e desenvolve em sua Tríplice coroa da Santíssima Virgem. Falo, porém, aos pobres e aos simples que, por serem de boa vontade e terem mais fé que a maior parte dos sábios, crêem com mais simplicidade e mérito, e, portanto, contento-me de lhes simplesmente a verdade, sem me preocupar em citar todos os textos latinos, embora mencione alguns, mas sem os rebuscar muito.

Continuemos.

* * * 27. Pois que a graça aperfeiçoa a natureza e a glória aperfeiçoa a graça, é certo que Nosso Senhor continua a ser, no céu, tão Filho de Maria, como o foi na terra. Por conseguinte, ele conserva a submissão e obediência do mais perfeito dos filhos para com a melhor das mães. Cuidemos, porém, de não atribuir a essa dependência o menor abaixamento ou imperfeição em Jesus Cristo. Maria está infinitamente abaixo de seu Filho, que é Deus, e, portanto, não lhe dá ordens, como uma mãe terrestre as dá a seu filho. Maria, porque está toda transformada em Deus pela graça e pela glória que, em Deus, transforma todos os santos, não pede, não quer, não faz a menor coisa contrário à eterna e imutável vontade de Deus. Quando se lê, portanto, nos escritos de São Bernardo, São Bernardino, São Boaventura, etc., que no céu e na terra tudo, o próprio Deus, está submisso à Santíssima Virgem13, devemos entender que a autoridade, que Deus espontaneamente lhe conferiu, é tão grande que ela parece ter o mesmo poder que Deus, e que suas preces e rogos são tão eficazes que se podem tomar como ordens junto de sua Majestade, e ele não resiste nunca às súplicas de sua Mãe, porque ela é sempre humilde e conformada à vontade divina. 13) Ver adiante a citação (nº 76).

Se Moisés, pela força de sua oração, conseguiu sustar a cólera de Deus contra os israelitas, e de tal modo que o altíssimo e infinitamente misericordioso Senhor lhe disse que o deixasse encolerizar-se e punir aquele povo rebelde, que devemos pensar, com muito mais razão, da prece da humilde Maria, a digna Mãe de Deus, que tem mais poder junto da Majestade divina, que as preces e intercessões de todos os anjos

e santos do céu e da terra?14 14)

S. Agostinho, Sermo 208 in Assumpt., nº 12.

28. No céu, Maria dá ordens aos anjos e aos bem-aventurados. Para recompensar sua profunda humildade, Deus lhe deu o poder e a missão de povoar de santos os tronos vazios, que os anjos apóstatas abandonaram e perderam por orgulho.15 E a vontade do Altíssimo, que exalta os humildes (Lc 1, 52), é que o céu, a terra e o inferno se curvem, de bom ou mau grado, às ordens da humilde Maria16, pois ele a fez soberana do céu e da terra, general de seus exércitos, tesoureira de suas riquezas, dispensadora de sua graças, artífice de suas grandes maravilhas, reparadora do gênero humano, medidora para os homens, exterminadora dos inimigos de Deus e a fiel companheira de sua grandezas e de seus triunfos. 15) Per Mariam ab hominibus Angelorum chori reintegrantur (São Boaventura - Speculum B.V., lect. XI, § 6). 16) In nomine tuo omne genu flectatur caelestium, terrestrium et infernorum (São Boaventura – Psalter. maius B.V., Cantic. Instar “Cantici trium puerorum”).

* * * 29. Por meio de Maria, Deus Pai quer que aumente sempre o número de seus filhos, até a consumação dos séculos, e diz-lhes estas palavras: In Iacob inhabita – Habita em Jacob (Ecli 24, 13), isto é, faze tua morada e residência em meus filhos e predestinados, figurados por Jacob e não nos filhos do demônio e nos réprobos, que Esaú figura. 30. Assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, há, na geração sobrenatural, um pai que é Deus e uma mãe, Maria Santíssima. Todos os verdadeiros filhos de Deus e os predestinados têm Deus por pai, e Maria por mãe; e quem não tem Maria por mãe, não tem Deus por pai. Por isso, os réprobos, os hereges, os cismáticos, etc., que odeiam ou olham com desprezo ou indiferença a Santíssima Virgem, não têm Deus por pai, ainda que disto se gloriem, pois não têm Maria por mãe. Se eles a tivessem por Mãe, haviam de amá-la e honrá-la, como um bom e verdadeiro filho ama e honra naturalmente sua mãe que lhe deu a vida. O sinal mais infalível e indubitável para distinguir um herege, um cismático, um réprobo, de um predestinado, é que o herege e o réprobo ostentam desprezo e indiferença pela Santíssima Virgem

17 e buscam por suas palavras e exemplos, abertamente e às escondidas, às vezes sob belos pretextos, diminuir e amesquinhar o culto e o amor a Maria. Ah! Não foi nestes que Deus Pai disse a Maria que fizesse sua morada, pois são filhos de Esaú. 17)

Quicumque vult salvus esse, ante omnia opus est ut teneat de Maria firmam fidem (São Boaventura, Psalter. maius B.V., Symbol.

Instar Symboli Athanasii).

* * * 31. O desejo de Deus Filho é formar-se e, por assim dizer, encarnar-se todos os dias, por meio de sua Mãe, em seus membros. Ele lhe diz: “In Israel hereditare – Possui tua herança em Israel”

(Ecli 24, 13), como se dissesse: Deus, meu Pai, deu-me por herança todas as nações da terra, todos os homens bons e maus, predestinados e réprobos. Eu os conduzirei, uns com a vara de ouro, outros com a vara de ferro; serei o pai e advogado de uns, o justo vingador para outros, o juiz de todos; mas vós, minha querida Mãe, só tereis por herança e possessão os predestinados, figurados por Israel. Como sua boa mãe vós lhes dareis a vida, os nutrireis, educareis; e, como sua soberana, os conduzireis, governareis e defendereis.

32. “Um grande número de homens nasceu nela”, diz o Espírito Santo: Homo et homo natus est in ea. Conforme a explicação de alguns Santos Padres o primeiro homem nascido em Maria é o homemDeus, Jesus Cristo; o segundo é um homem puro, filho de Deus e de Maria por adoção. Se Jesus Cristo, o chefe dos homens, nasceu nela, os predestinados, que são os membros deste chefe, devem também nascer nela, por uma conseqüência necessária. Não há mãe que dê à luz a cabeça sem os membros ou os membros sem a cabeça: seria uma monstruosidade da natureza. Do mesmo modo, na ordem da graça, a cabeça e os membros nascem da mesma mãe, e, se um membro do Corpo Místico de Jesus Cristo, isto é, um predestinado, nascesse de outra mãe que Maria, que produziu a cabeça, não seria um predestinado, nem membro de Jesus Cristo, e sim um monstro na ordem da graça.

33. além disso, pois que Jesus é agora, mais do que nunca, o fruto de Maria, como lhe repetem mil e mil vezes diariamente o céu e a terra: “...e bendito é o fruto do vosso ventre”, é certo que Jesus Cristo, para cada homem em particular, que o possui, é tão verdadeiramente o fruto e obra de Maria como pra todo o mundo em geral. Deste modo, se qualquer fiel tem Jesus Cristo formado em seu coração, pode atrever-se a dizer: “Mil graças a Maria! este Jesus que eu possuo é, com efeito, seu fruto, e sem ela eu jamais o teria”. Pode-se aind aplicar-lhes, com mais propriedade que São Paulo aplica a si próprio, as palavras:

“Quos iterum parturio, donec formetur Christus in vobis” (Gal 4, 19): Dou à luz todos os dias os filhos de Deus, até que Jesus Cristo seja nele formado em toda a plenitude de sua idade. Santo Agostinho, sobrepujando a si mesmo, e tudo o que acabo de dizer, confirma que todos os predestinados, para serem conformes à imagem do Filho de Deus, são, neste mundo ocultos no seio da Santíssima Virgem, e aí guardados, alimentados, mantidos e engrandecidos por esta honesta e boa Mãe, até que ela os dê à glória, depois da morte, que é propriamente o dia de seu nascimento, como qualifica a Igreja a morte dos justos. Ó mistério de graça, que os réprobos desconhecem e os predestinados conhecem muito pouco.

* * *

34. É vontade de Deus Espírito Santo que nela e por ela se formem eleitos. “In electis meis mitte radices” (Ecli 24, 12), lhe diz ele: Minha bem-amada e minha esposa, lança em meus eleitos as raízes de todas as virtudes, a fim de que eles cresçam de virtude em virtude e de graça em graça. Tive tanta complacência em ti, quando vivias na terra, praticando as mais sublimes virtudes, que desejo ainda encontrar-te sobre a terra sem que deixes de estar no céu. Reproduze-te, portanto, em meus eleitos. Que eu veja neles com complacência as raízes de tua fé invencível, de tua humildade profunda, de tua mortificação universal, de tua oração sublime, de tua caridade ardente, de tua firmíssima esperança e de todas as tuas virtudes. É sempre a minha esposa tão fiel, tão pura e tão fecunda como nunca: que tua fé me dê fiéis, que tua pureza me dê virgens, que tua fecundidade me dê eleitos e templos.

35. Quando Maria lança suas raízes em uma alma, maravilhas de graça se produzem, que só ela pode produzir, pois é a única Virgem fecunda que não teve jamais, nem terá semelhante em pureza e fecundidade.

Maria produziu, com o Espírito Santo, a maior maravilha que existiu e existirá – um Deus-homem; e ela produzirá, por conseguinte, as coisas mais admiráveis que hão de existir nos últimos tempos. A formação e educação dos grandes santos, que aparecerão no fim do mundo, lhe está reservada, pois só esta Virgem singular e milagrosa pode produzir, em união com o Espírito santo, as obras singulares e extraordinárias.

36. Quando o Espírito Santo, seu esposo, a encontra numa alma, ele se apodera dessa alma, penetra-a com toda a plenitude, comunicando-se-lhe abundantemente e na medida que lhe concede sua esposa; e uma das razões por que, hoje em dia, o Espírito Santo não opera, nas almas, maravilhas retumbantes, é não encontrar ele uma união bastante forte entre as almas e sua esposa fiel e inseparável. Digo esposa inseparável porque, depois que este Amor substancial do Pai e do Filho desposou Maria para produzir Jesus Cristo, o chefe dos eleitos, e Jesus Cristo nos eleitos, nunca a repudiou, pois ela tem sido sempre fiel e fecunda.

Artigo II Consequências

Primeira consequência. – Maria é a Rainha dos corações

37. Do que ficou dito, deve-se concluir evidentemente que: Primeiro, Maria recebeu de Deus um grande domínio sobre as almas dos eleitos; pois ela não pode estabelecer neles sua residência, como Deus Pai lhe ordenou; não pode formá-los, nutri-los, fazê-los nascer para a vida eterna, como sua mãe, possuí-los como sua herança e partilha, formá-los em Jesus Cristo e Jesus Cristo neles; não pode implantar em seus corações as raízes de suas virtudes, a ser a companheira inseparável do Espírito Santo em todo os seus trabalhos de graça; não pode, repito, fazer todas estas coisas, se não tiver direito e domínio sobre suas almas, por uma graça singular do Altíssimo. E esta graça, que lhe deu autoridade sobre o Filho único e natural de Deus, lhe foi concedida também sobre seus filhos adotivos, não só quanto ao corpo, o que seria pouco, mas também quanto à alma.

38. Maria é a Rainha do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o rei por natureza e conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o interior do homem, conforme a palavra: “O reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17, 21), o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem,

isto é, em sua alma, e é principalmente nas almas que ela é mais glorificada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la com os santos a Rainha dos corações.

Segunda consequência. – Maria é necessária aos homens para

chegarem ao seu último fim (...)

Artigo I Jesus Cristo é o fim último da devoção à Santíssima Virgem.

61. Primeira verdade. – Jesus Cristo, nosso salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas devoções; de outro modo, elas serão falsas e enganosas. Jesus Cristo é o alfa e omega23, o princípio e o fim de todas as coisas. Nós só trabalhamos, como diz o apóstolo, para tornar todo homem perfeito em Jesus Cristo, pois é em Jesus Cristo que habita toda a plenitude da Divindade e todas as outras plenitudes de graças, de virtudes, de perfeições; porque nele somente fomos abençoados de toda a bênção espiritual; porque é nosso único mestre que deve ensinar-nos, nosso único Senhor de quem devemos depender, nosso único chefe ao qual devemos estar unidos, nosso único modelo, com o qual devemos conformar-nos, nosso único médico que nos há de curar, nosso único pastor que nos há de alimentar, nosso único caminho que devemos trilhar, nossa única verdade que devemos crer, nossa única vida que nos há de vivificar, e nosso tudo em todas as coisas, que deve bastar-nos. Abaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos. Deus não nos deu outro fundamento para nossa salvação, nossa perfeição e nossa glória, senão Jesus Cristo. Todo edifício cuja base não assentar sobre esta pedra firme, estará construído sobre areia movediça, e ruirá fatalmente, mais cedo ou mais tarde. Todo fiel que não está unido a ele, como um galho ao tronco da videira, cairá e secará, e será por fim atirado ao fogo. Fora dele tudo é ilusão, mentira, iniquidade, inutilidade, morte e danação. Se estamos, porém, em Jesus Cristo e Jesus Cristo em nós, não temos danação a temer; nem os anjos do céu, nem os homens da terra, nem criatura alguma nos pode embaraçar, pois não pode separar-nos da caridade de Deus que está em Jesus Cristo. Por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus Cristo, podemos tudo: render toda a honra e glória ao Pai, em unidade do Espírito Santo e tornar-nos perfeitos e ser para nosso próximo um bom odor de vida eterna.

62. Se estabelecermos, portanto, a sólida devoção à Santíssima Virgem, teremos contribuído para estabelecer com mais perfeição a devoção a Jesus Cristo, teremos proporcionado um meio fácil e seguro de achar Jesus Cristo. Se a devoção à Santíssima Virgem nos afastasse de Jesus Cristo, seria preciso rejeitá-la como uma ilusão do demônio. Mas é tão o contrário, que, como já fiz ver e farei ver, ainda, nas páginas seguintes, esta devoção só nos é necessária para encontrar Jesus Cristo, amá-lo ternamente e fielmente servi-lo. 23) As páginas eloquentes que seguem são tiradas quase exclusivamente da Sagrada Escritura.

Cf., p. ex., Ap 1, 8; Cl 2, 8; Mt 23, 10; Jo 13, 13; 1Cor 8, 6; Cl 1, 18; Jo 13, 15; 10, 16; 14, 6; At 9, 12; 1Cor 3, 11; Mt 7, 26-27; Jo 15, 6; Rm 8, 38-39; etc.

* * * 63. Volto-me, aqui, um momento, pra vós, ó Jesus, a fim de queixar-me amorosamente à vossa divina majestade, de que a maior parte dos cristãos, mesmo os mais instruídos desconhecem a ligação imprescindível que existe entre vós e vossa Mãe Santíssima. Vós, Senhor, estais sempre com Maria, e Maria sempre convosco, nem pode estar sem vós; doutro modo, ela deixaria de ser o que é; e de tal maneira está ela transformada em vós pela graça, que já não vive, já não existe; sois vós, meu Jesus, que viveis e reinais nela, mais perfeitamente que em todos os anjos e bem-aventurados. Ah! Se conhecêssemos a glória e o amor que recebeis nesta admirável criatura, bem diferentes seriam os nossos sentimentos a respeito de vós e dela. Maria está tão intimamente unida a vós que mais fácil seria separar do sol a luz, e do fogo o calor; digo mais: com mais facilidade se separariam de vós os anjos e os santos que a divina Mãe, pois que ela vos ama com amais ardor e vos glorifica com mais perfeição que todas as vossas outras criatura juntas.

64. Depois disto, meu amável Mestre, não é triste e lamentável ver a ignorância e as trevas em que jazem todos os homens na terra, a respeito de vossa Mãe Santíssima? Não falo dos idólatras e pagãos, que, não vos conhecendo, também não se importam de conhecê-la; nem falo dos hereges e cismáticos, que não têm a peito ser devotos de vossa Mãe Santíssima, a não ser de um modo especulativo, seco, estéril e indiferente. Estes senhores raras vezes falam de Maria e da devoção que se lhe deve ter, porque, dizem, receiam que se abuse dessa devoção e que se vos ofenda, honrando excessivamente vossa Mãe Santíssima. Se veem ou ouvem algum devoto da Santíssima Virgem falar muitas vezes, de um modo terno, forte e persuasivo, da devoção a esta boa Mãe, como de um meio seguro e sem ilusão, dum caminho curto e sem perigo, duma via imaculada e sem imperfeição, e dum segredo maravilhoso para chegar a vós e vos amar perfeitamente, clamam contra ele, e lhe apresentam mil razões falsas, para provar-lhes que não é necessário falar tanto a respeito da Santíssima Virgem, que há muito abuso nessa devoção, que é preciso empenhar-se em destruir, e aplicar-se em falar sobre vós em vez de favorecer a devoção à Virgem Maria, a quem o povo já ama suficientemente. Às vezes, metem-se a falar da devoção à vossa Mãe Santíssima, não, porém, para assentá-la e propagá-la, e sim para destruir os abusos que dela se fazem. Estes senhores são, no entanto, desprovidos de piedade, e não têm por vós sincera devoção, pois que não a têm a Maria. Consideram: o rosário, o escapulário, o terço, como devoções de mulheres, próprias de ignorantes, sem as quais se pode obter muito bem a salvação.

E se lhes cai nas mãos algum devoto da Virgem Santíssima, que recita o seu terço ou pratica qualquer outra devoção Mariana, mudam-lhe em pouco tempo o espírito e o coração: em lugar do terço lhe aconselham recitar os sete salmos; em vez da devoção à Santíssima Virgem aconselham a devoção a Jesus Cristo. Ó meu amável Jesus, terá essa gente o vosso espírito? Será possível que vos agradem, agindo desse modo? Poderá alguém agradar-vos sem fazer todos os esforços para agradar a Maria, por medo de vos desagradar? A devoção à vossa Mãe impede a vossa? Atribuir-se-á ela as honras que lhe damos?

Formará ela um partido diverso do vosso? É ela, acaso, uma estrangeira sem a menor ligação convosco? É desagradar-vos querer agradecer-lhe? Separamo-nos, talvez, ou nos afastamos de vosso amor, se nos damos a ela e a amamos?

http://espacojames.com.br/dow/tratado_devocao.pdf
Enviado por J B Pereira em 29/05/2018
Reeditado em 29/05/2018
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