QUANDO O CORAÇÃO SANGRA uma abordagem sobre a mulher do fluxo de sangue
Introdução
A mulher do fluxo de sangue e sua cura. A narrativa deste milagre de cura de Jesus encontramos nos evangelhos sinóticos: Em Mateus 9,19-22; Marcos 5,25-34 em Lucas 8,43-48. Vamos citar um pelo menos para nos trazer a memória o acontecido e registrado no livro de Marcos 5,25-34.
Lendo o evangelho de Marcos ele fala em “certa mulher que”, não se preocupa em falar do nome, parece que o milagre quer mostrar mais a situação da mulher na época de Jesus. e as dificuldades femininas na observância da lei, do Puro e do Impuro segundo o Judaísmo do que falar em seu nome.
Mateus da mesma forma não se preocupa com o nome dela no texto assim aparece: “E eis que uma mulher”, e segue a descrição do milagre.
Lucas narra deste modo: “E uma mulher”.
Respondendo pelo nome da mulher que obteve de Jesus o milagre da cura do fluxo de sangue dizemos que no texto não aparece seu nome, isto vem confirmado pelos três evangelistas, Mateus Marcos e Lucas Sendo assim não sabemos o seu nome. Este não é um mero detalhe. Eu destaco quatro aspectos sobre o nome: (1) Na cultura judaica, nomes são importantes. (2) Os hebreus valorizavam muito fazer a linha genealógica, e para isso era necessário ter um nome específico a fim de constar na lista. (3) O nome é gerador de identidade. (4) Pessoas sem nome indica pessoas sem identidade.
I- 12 anos de dor solidão e vergonha
Podemos confirmar que segundo as narrativas, aquela mulher, que sofria fluxo de sangue há 12 anos, trazia consigo não somente a dor física, mas ela tinha outras dores, causadas pela situação de saúde.
Naquela situação não era permitido a ela ter uma vida social, e não tinha poder. Ela era sozinha. Uma solidão causada pela doença: ela tinha hemorragia, ou fluxo de sangue; ela perdia sangue. A consequência fatal do fluxo de sangue era o banimento social, pois a lei cerimonial indicava que a mulher que sofresse hemorragia constante seria imunda. Ou seja, seria afastada do convívio da comunidade. (Levítico 15:19, 25). Numa sociedade comunitária, ser banido da convivência social era uma maldição, afinal tudo o que ela tocava também era visto como imundo, a cama em que ela dormia, a cadeira em que ela se sentava, as coisas que ela usava e as roupas que ela vestia eram todas imundas. Qualquer um que tocasse a mulher do fluxo de sangue era considerado imundo.
E numa sociedade patriarcal daquela época, uma mulher isolada da sociedade, como se manteria? A Bíblia relata que ela havia procurado ajuda de todas as formas. Ela gastou tudo o que tinha com os médicos de sua época. Mas nenhum tratamento médico resolveu seu problema e sua saúde piorava cada vez mais ao longo dos doze anos (Marcos 5:25,26). Tudo isso indica a situação desesperadora daquela mulher. Nos últimos doze anos ela havia vivido numa solidão, acompanhada da vergonha.
È impossível para nós mulheres do século XXI, que temos domínio sobre o nosso corpo (ou pelo menos tentamos ter), imaginar que tal condição poderia durar por tanto tempo, imaginar que neste nosso tempo, conviver com uma situação hemorrágica com tantos recursos médicos e medicamentosos, a ciência médica progrediu muito além dos conhecimentos rudimentares dos dias de Jesus.
A medicina avançou tanto, que é simplesmente impensável neste tempo uma mulher passar por esta situação de saúde, mas, encontramos mulheres que convivem durante anos de suas vidas em solidão e acompanhada de vergonha, pelos males deste século.
Mulheres que enfrentam um sangramento crônico, não um sangramento físico, mas da alma e do coração. Se por acaso não temos ao nosso redor (se olharmos ao redor vamos perceber em nosso convívio), a mídia nos mostra todo momento.
Mulheres cujo coração que sangram
Mulheres que foram abusadas ainda na infância e hoje já adultas, continuam com seus corações que ainda sangram pela violência física que enfrentaram de forma tão brutal e desumana e em grande maioria, por aqueles que deveriam ser responsáveis pela sua segurança física emocional; infelizmente, grande parte dos abusos, acontecem no seio das famílias .
Muitas mulheres que buscam em consultórios médicos, em consultas esotéricas, em terapias e grupos de autoajuda, mas não conseguem estancar o sangramento de um coração que foi partido pela infidelidade conjugal, pelo abandono.
Mulheres que já ouviram palavras duras dentro de seu próprio lar, vindo de pessoas que deveriam estimular, mas por falta de sabedoria ouvem palavras que tiram à esperança a autoestima.
Mulheres que têm o seu coração machucado pela dor da perca... Mulheres que tem perdido filhos para os vícios, para a prostituição ou pela violência instaurada em nossa sociedade.
Mulheres de todas as idades e classes sociais que tiveram seus sonhos despedaçados, seus projetos arruinados, seus corações dilacerados...
A mulher citada nos evangelhos de Mateus; Marcos e Lucas, como a mulher do fluxo do sangue não foi diferente das mulheres do século XXI, das mulheres que conhecemos em nossas igrejas, trabalho, faculdade, enfim mulheres que fazem parte do nosso cotidiano. Embora a doença aparente fosse física, o seu sofrimento interior governava a sua vida, pois de acordo com a história, a uma mulher impura era também imputada a solidão. Mas ela reconhecia a necessidade de uma cura e num momento de atitude radical, com uma decisão determinante, ela estendeu sua mão para Jesus e agarrou a sua cura!
Ela tocou nas orlas daquele que ela sabia, podia cura-la, daquele que podia te libertá-la daquele sofrimento. Jesus!!!! Ele veio para nos libertar dos sofrimentos das amarras das correntes, dos grilhões das nossas prisões, das cadeias que nos insistem em nos aprisionar num passado de tristeza e amargura. Mas ele não vai nos empurrar para fora da cela, Ele abre a cela, mas nós temos que sair pela porta.
II- EM MEIO A SOLIDÃO UM ATO DE FÉ
Os evangelhos relatam que Jesus estava seguindo por um caminho em Cafarnaum, e onde Ele estava, havia sempre multidão. Jesus já havia realizado curas naquela região, portanto muito natural que as pessoas o acompanhassem ali, talvez esperando ver mais curas, talvez por curiosidade ou necessidade. Mas o fato é que a multidão era tão grande que acabava dificultando a caminhada do mestre. Certamente que eram muitos esbarrões e Jesus caminhava apertado e com dificuldade entre as pessoas.
Assim como a maioria da multidão que seguia Jesus, a mulher do fluxo de sangue viu em Jesus a oportunidade única de sua vida. Em sua fé, ela creu que se ao menos tocasse em suas vestes sua hemorragia seria estancada, ela seria finalmente curada, deste mal que há tanto tempo a acometia e a deixava a margem da própria vida, entregue a própria sorte.
Mas entre ela e Jesus havia a multidão, havia a lei, havia o preconceito. Mas havia maior que tudo isso a sua fé, havia ali, uma oportunidade de exercer uma fé genuína. Então ela veio por de trás da multidão e tocou na orla do vestido de Jesus, e imediatamente foi curada (Marcos 5:29).
Tudo leva a crer que em sua fé, ela acreditou sim, que seria curada, mas achou que poderia tocar em Jesus silenciosamente, ser curada e permanecer anônima, afinal ela apenas ia tocar, e pensando no contexto da época ela precisava que assim fosse, por causa de sua condição, naturalmente ela não desejava se expor publicamente.
Confirmando sua fé, tão logo que tocou na orla das vestes de Jesus, ela entendeu que havia sido curada. Talvez por um instante ela provavelmente concluiu que Jesus nunca haveria de percebê-la, mas foi só por um instante, logo ela percebeu que se enganou, pois, Jesus sentiu que alguém havia lhe tocado de forma diferente. Por isso Ele perguntou: “Quem tocou nas minhas vestes? ” (Marcos 5:30). Os discípulos acharam que a pergunta de Jesus não fazia sentido. Muitas pessoas estavam tocando o Mestre naquela multidão. Mas Jesus sabia que alguém lhe havia tocado não apenas com as mãos, mas principalmente com a fé.
Aqui vale dizer que, como homem, Jesus de fato não sabia quem havia lhe tocado. Mas como Deus, Ele sabia que em resposta a um toque de fé, poder curador havia saído dele. A natureza divina de Jesus testificou que o milagre havia ocorrido.
Podemos escolher a ser curadas ou a continuar sangrando. Podemos optar por permanecer em nossos sangramentos e viver nas sombras do passado, ou a viver a nova vida que Ele tem para nos dá "Eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente" ( Jo 10.10) È isso Ele quer para nos mulheres deste novo tempo, deste século XXI, é isso que ele projetou para nós Mulheres: Uma vida plena na Sua presença!
Jesus ainda hoje quer tocar coração, sarar as feridas, estancar a dor e sofrimento, basta para isso que você toque –o como aquela mulher, que com muita fé tocou na orla do vestido de Jesus e foi curada. Toque em Jesus, diga a Ele o quanto seu coração está doente e o quanto você está cansada deste sofrimento. Pela fé toque em Jesus para andar em liberdade e ser uma mulher Vitoriosa, livre deste sofrimento que sangra o seu coração.
A mulher do fluxo de sangue mencionada nos evangelhos, que não faz referência a seu nome, a sua idade. Que vivia uma situação de sangramento, ela nos ensina que a fé precisa de uma ação. A Bíblia diz em Rm 10,17 “Pois a fé vem da pregação e a pregação é pela palavra de Cristo”. (Rm 10,17)
Essa mulher tomou uma decisão tocar a borda do manto de Jesus, tinha fé que seria curada. E o milagre aconteceu.
A mulher curada nos mostra o caminho e diz: Agarre, segure o Mestre e confesse onde esta sangrando em você, quais são os seus medos, as suas dores e onde você precisa de um milagre de uma cura.
III- CONFESSAR ....CONFIRMAR .....ETERNIZAR
Confessar que rompeu as barreiras das leis e dos costumes da época, era tudo que a mulher que sofria com o fluxo de sangue, não contava! Ela queria receber o milagre da cura. Ela tinha fé para isso, sua fé era grande, mas precisa ser oculto o seu milagre. E de repente ela escutou a voz de Jesus e percebeu que Ele a procurava no meio da multidão. Ela entendeu que não poderia se esconder. Sua fé oculta seria revelada. E foi revelada e eternizada! Que maravilha! Chegou até nós, e fortalece a nossa fé.
A Bíblia diz que naquele momento a mulher se aproximou de Jesus temendo e tremendo, e lhe declarou toda a verdade. Aqui é preciso entender que aquela era uma situação embaraçosa para aquela mulher. De acordo com a cultura de sua época, era inapropriado que ela ficasse em evidência pública. Além disso, ela sabia que sua doença a tornava impura e ela não podia tocar em alguém.
Então ela não sabia exatamente se Jesus iria repreendê-la por causa do que havia sido feito. Mas mesmo assim ela se prostrou diante de Jesus e lhe contou tudo. Provavelmente foi nessa hora que ela explicou o sofrimento que havia enfrentado por doze anos. Mas ao invés de repreendê-la, Jesus a confortou de forma amorosa. Ele disse: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre do teu mal” (Marcos 5:34).
Com essas palavras Jesus não apenas garantiu que a saúde da mulher do fluxo de sangue havia sido restaurada, mas também restaurou sua vida social e religiosa. Agora aquela mulher poderia finalmente ir em paz.
E com ela aprendemos muito. Em primeiro lugar, aprendemos que Jesus é a esperança para os desesperançados. Aquela mulher tinha esgotado todos os seus recursos. Humanamente falando, não havia mais nada que pudesse ser feito a seu favor.
Ela estava presa numa solidão terrível. Ela não tinha paz e era refém da agonia. Aos olhos de todos, a mulher do fluxo de sangue era imunda e não havia esperança de que ela deixasse aquela posição amaldiçoada. Mas aos olhos Jesus, a mulher desprezada que sofria com um fluxo de sangue era tão próxima quanto uma filha.
Em segundo lugar, a história da mulher do fluxo de sangue nos ensina sobre a supremacia da santidade de Cristo. Pela lógica humana, quando algo impuro tem contato com algo limpo, o impuro contamina o que é puro. Um copo de água poluída torna sujo todo um tanque de água potável. Assim, se uma pessoa considerada limpa tivesse contato com algo imundo, ela também seria considerada impura.
Mas com Jesus é diferente. Sua pureza é sem igual! Ele próprio é a fonte da genuína santidade. Quando a mulher do fluxo de sangue lhe tocou Ele não ficou impuro, ao contrário, foi ela quem ficou pura. Por isso mesmo somente Ele pode transformar pecadores impuros e imperfeitos em filhos santificados de Deus, dando-lhes vestes brancas como a neve (Apocalipse 3:5; 7:13,14).
Em terceiro lugar, a história da mulher do fluxo de sangue nos ensina que a fé é um instrumento para a manifestação do poder de Deus. Através da fé, Cristo curou aquela mulher física e espiritualmente. Seu corpo e sua alma foram restaurados. Por isso Ele disse: “A tua fé de salvou”.
Mas isso não significa que essa fé era fruto da própria capacidade pessoal daquela mulher. Muito pelo contrário, o próprio Jesus era a causa dessa fé! Sem Ele a mulher do fluxo de sangue jamais teria possuído e exercitado tamanha fé (cf. Efésios 2:8; Hebreus 12:2). Entenda qual é o significado da fé.
Além disso, ao enfatizar a fé como o instrumento desse milagre, Jesus automaticamente tratou de acabar com qualquer tipo de superstição de que sua peça de roupa teria contribuído para a cura da mulher do fluxo de sangue. Definitivamente quem cura e restaura é Jesus em resposta à fé, e não um tecido ou qualquer objeto supostamente místico ou sagrado.