A filosofia política do Evangelho
A Política é a arte de governar, de administrar as coisas. Essencialmente existem 4 grandes sistemas políticos:
1. política autocrática - um indivíduo, ou grupo de indivíduos concentra tanto poder nas mãos que pode criar e alterar as leis da forma que quiser. A sua vontade é a lei. Os governantes podem manipular livremente as vidas dos cidadãos. São exemplos de governo autocrático o Egito da Antiguidade, sob o domínio dos faraós, e na era moderna a Alemanha no período nazista.
2. política normativa - sistema que surgiu na Grécia, aproximadamente 2500 anos atrás. Determina que a vontade de ninguém deve ser lei, mas que os governantes devem ter o seu poder limitado e orientado por uma série de normas disciplinares, para evitar falhas e abusos. A eficácia do exercício do poder num estado normativo depende do caráter e do nível de comprometimento do governante com o seu povo.
3. política relativista - sistema teorizado pelo pensador Maquiavel no século 16. O governante pode ser bom ou mau, de acordo com as circunstâncias. Deve fazer o que for preciso para manter o poder, defendendo os seus interesses acima dos direitos e necessidades fundamentais dos cidadãos.
4. política intimista - sistema político dos grandes mestres espirituais da Humanidade, como Jesus, Buda, Sócrates, Platão, Santo Agostinho, Confúcio e Espinoza. Os governantes não devem se limitar a conhecer os preceitos exteriores das leis humanas. As normas disciplinares devem estar gravadas na consciência. Cada um deve aprender a comandar o seu mundo íntimo antes de comandar o mundo externo. A organização do mundo exterior da matéria é um reflexo da organização do mundo consciencial dos indivíduos que formam uma coletividade. Só pode haver a verdadeira harmonia da sociedade quando as forças íntimas das pessoas estiverem harmonizadas, quando todos estiverem comprometidos verdadeiramente com o amor, a retidão e o desejo sincero de realizar o melhor possível em benefício de todos. O sistema intimista é o único totalmente confiável e infalível em suas bases, o único que pode garantir a existência pacífica e produtiva da Humanidade.
O grande pensador italiano Tommaso Campanella dizia que o mundo é o grande livro onde o espírito imortal grava os seus pensamentos. Todas as criações humanas, todas as realizações sociais, artísticas e tecnológicas surgem primeiramente como idéias, como desejos ou projetos teóricos nas mentes de seus idealizadores antes de serem materializadas no plano físico.
A conscientização política dos indivíduos começa com um processo de autotransformação que podemos chamar de gestão de recursos internos. Cada um de nós possui em seu íntimo 3 grandes forças espirituais: a vontade, a inteligência e o sentimento. Tudo o que criamos de bom ou ruim surge a partir da mobilização dessas 3 forças essenciais. Para construir um edifício são necessários a vontade de executar o projeto, a inteligência para conduzir todas as suas etapas e o sentimento de realizar algo de útil, ou o desejo de obter algum lucro financeiro. Para executar um ataque terrorista igualmente são necessários a vontade de realizá-lo, a inteligência para planejar e executar o ataque e um sentimento de ódio, vingança ou indiferença em relação às outras pessoas. Se todos compreendessem essa realidade, há muito tempo já teriam desaparecido do mundo os flagelos da violência, da guerra, da fome e da miséria, pois todos utilizariam o seu potencial em benefício da Humanidade, governando sabiamente a si mesmos para promover a administração harmônica do Planeta em que vivemos.
Devemos nos conscientizar de que todos nós somos governantes porque cada pessoa é responsável por administrar o seu tempo, os seus recursos materiais, as suas oportunidades e as relações com os outros indivíduos.
A renovação do mundo começa dentro de cada pessoa, pois, como afirmava Confúcio há mais de 2 milênios, se o nosso coração for puro, a nossa vida será harmoniosa; se a vida de cada indivíduo for harmoniosa, a vida da família será perfeita; se a vida de todas as famílias for perfeita, a vida da nação será perfeita, e quando a vida de todas as nações for perfeita, dentro dos limites das possibilidades da realidade do Planeta, a Terra será perfeita.
Jesus disse que seus seguidores seriam a luz do mundo, pois cada cristão realmente comprometido com o Evangelho é um administrador do legado do Cristo, com a responsabilidade de manter sempre viva a sua mensagem, com a missão de conhecê-la, praticá-la e divulgá-la através do ensino e principalmente através do exemplo, orientando os outros para aprenderem a administrar as suas capacidades e recursos.
Quando Jesus nos aconselhou a amar o próximo, a buscarmos a perfeição em nossas ações, a perdoar e compreender as falhas e limitações alheias, a praticar a autoanálise e a caridade, estava nos ensinando a educar o mundo interior dos nossos corações e mentes, a desenvolver a nossa vontade no sentido de desejar apenas o que for bom e útil, a utilizar a nossa inteligência em benefício de todos e a educar as nossas emoções para ter apenas sentimentos positivos, como amor, respeito, compreensão e empatia, a ter uma consciência sintonizada com a política eterna do Reino de Deus. Quando todos compreenderem que criar um mundo mais feliz e harmonioso depende de cada um de nós a Humanidade entrará no caminho da transformação que nos levará a uma Terra renovada, governada pelas diretrizes eternas do amor, do trabalho constante no bem e da disciplina.