Deus, Sexo e a Igreja
Deus promete levar o povo de Israel ao deserto e falar-lhe ao coração (Oseias 2.14). Como diz Calvino, o Senhor está mostrando que o castigo que o Seu povo sofreria seria o remédio pelo qual eles seriam curados. Eles seriam persuadidos à obediência. É uma cena cheia de romantismo: Assim como um homem forte, um grande guerreiro, pode ser terno e meigo com a sua esposa quando os dois estão sozinhos, o Senhor seria com Israel. Ele lhes daria vinho para beber e se alegraria com Seus filhos.
Quando Ele fizesse isso, Israel não O chamaria mais de “meu Baal”, nome dado às divindades cananitas, que aparece no plural baalins no versículo 17; mas O chamaria de “meu marido”. Algumas traduções, por causa de diferenças nos manuscritos, trazem a expressão ao invés de “meu marido” o nome que o Senhor revelou a Moisés. Seja qual for o caso, podemos tirar um princípio importante: Deus quer ter intimidade com o Seu povo. Ele quer conhecê-lo e ser conhecido por Ele. Não quer se relacionar conosco como um senhor duro e cruel, mas como um marido e uma esposa; ainda que Ele precise ser duro conosco muitas vezes, a fim de nos aproximar da Sua Infinita Bondade quando, pela obstinadamente nos afastamos. Ele quer nos revelar um nome que nenhum outro deus tem, e nos dar “um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe” (Ap 2.17).
É isso que diz o versículo 20: “desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao SENHOR”. “Conhecer” é muitas vezes usado nas Escrituras como significando ter relações sexuais. Em outras palavras, o sexo no casamento representa o tipo de relacionamento íntimo, alegre e justo que Deus quer ter com o Seu povo. Isso nos ensina algo muito importante sobre Deus, mas também nos ensina algo muito importante sobre o sexo. Ele não é algo sujo, secundário ou “secular”. O sexo é uma maneira de Deus se revelar a nós. Por isso a Bíblia se preocupa tanto em preservá-lo e protegê-lo com regras. Não é porque Deus é um sádico que dá aos homens desejos sexuais e depois fica limitando esses desejos por puro divertimento. Mas os mandamentos são como um cerca que nos ajuda a usar ou não usar desse dom que Ele nos concedeu da melhor forma possível para termos um melhor relacionamento com Ele.
Igualmente, a única maneira de ter uma vida sexual ou um celibato feliz é em comunhão com o Senhor – quando nos afastamos Dele, nem a sexualidade nem a castidade nos satisfarão. Devemos, portanto, olhar todos os problemas relacionados ao sexo – homossexualidade, divórcio, fornicação, adultério, pornografia, etc. – sob essa ótica de que a sexualidade aponta para o nosso relacionamento com Deus. A alternativa a isso é olhá-lo apenas como a satisfação de uma necessidade ou desejo, o que conduzirá a uma animalização do sexo, cujos efeitos vemos amplamente na nossa sociedade.
No capítulo 3 o Senhor manda Oseias amar novamente sua mulher como Deus ama os filhos de Israel, mesmo que eles amem outros deuses. Para isso ele precisou pagar por ela, provavelmente porque ela fugiu, seus amantes a abandonaram e ela acabou como escrava. Da mesma forma, o Senhor nos comprou pelo sangue de Jesus Cristo pagando o preço pelos nossos pecados a fim de que fôssemos livres. Mas Oseias não viveria novamente como marido e mulher com Gômer; durante um tempo eles não teriam relações sexuais, o que simbolizaria o fato de que os israelitas iriam ficar muitos dias sem rei e sem culto. Mas nos últimos dias, que começaram com a vinda de Jesus Cristo, eles voltariam tremendo e se aproximariam do Senhor novamente. Essa promessa deveria fortalecer os israelitas durante o exílio, a fim de que eles não desanimassem de buscar ao Senhor durante o seu sofrimento. Essa passagem funciona com uma interlúdio entre as promessas de restauração do fim do capítulo 2 e as denuncias do capítulo 4; pois Deus, em Sua misericórdia, primeiro promete as bênçãos para os que se arrependem para depois detalhar a condenação dos que permanecem em seus pecados.
Um ponto importante é que o Senhor diz no fim do versículo 3: “assim também eu esperarei por ti”. Ou seja, o Senhor está dizendo que jamais tomaria para si outra esposa, outro povo, e deixaria Israel de lado. Isso significa que a Igreja não é outro povo separado de Israel. Deus não é bígamo. Ele não tem duas esposas, dois povos, Israel e a Igreja. Ainda que o Senhor tenha algum plano para os judeus atuais, eles não são mais o povo do Senhor. Somente aqueles que se convertem a Jesus Cristo se tornam povo Dele, entre os judeus ou não-judeus, o que a Bíblia chama de Igreja. Ou seja, Deus não substituiu Israel pela Igreja, nem tem o Israel étnico e a Igreja como dois povos, mas juntos os judeus crentes e os não-judeus crentes formam um único povo, o verdadeiro Israel, a Igreja.
A partir do capítulo 4, o Senhor denuncia a infidelidade de Israel e aponta os seus pecados. Oseias afirma que “o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra [de Israel], porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus”. Por causa disso, prevalecia em Israel o perjurio, a mentira, o assassinato, o furto, o adultério, etc.. E esse quadro era em grande parte culpa da liderança espiritual, os sacerdotes e profetas, que não ensinavam ao povo o caminho do Senhor. Por conta disso o Senhor ameaça especialmente essas autoridades, prometendo que eles seriam destruídos. O mesmo se aplica à igreja hoje: se a igreja brasileira está cheia de problemas, isso é na maior parte culpa dos pastores e mestres; por conta disso, Deus será mais severo com eles. Portanto, nós devemos pensar duas vezes antes de assumir alguma posição de ensino ou liderança na igreja, porque Deus cobrará de nós responsabilidade pelas pessoas que nós cuidamos.