Eis o mistério da fé!
 
Irmãs e irmãos em Cristo, que a verdadeira paz esteja plena na vida de vocês!

Nesta semana, tão rica de reflexões, vamos centrar o nosso texto na festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, oficialmente estabelecida com o nome de Corpus Christi, na segunda metade do século XIII.

Ela não foi instituída logo no início da cristandade, pelo contrário, emergiu num período em que o respeito e o cuidado à Eucaristia, especialmente às partículas guardadas no sacrário, fora da celebração litúrgica, estavam sendo bastante descuidados. À época, São Francisco de Assis, na contramão da realidade religiosa, exemplarmente, exortava seus irmãos ao grande respeito e cuidado com os vasos sagrados. Assim como ele, Santo Antônio e alguns outros expoentes eclesiásticos muito lutaram para o resgate da reverência ao corpo de Cristo, na Eucaristia.

A passagem evangélica escolhido para essa festa foi narrada por João, quando Jesus Cristo disse à multidão ser Ele “o pão vivo descido do céu” (Jo 6:51) e “quem comer deste pão viverá eternamente”. Acrescenta, ainda, “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna (...) Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. Quem como minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (Jo 6:54-56)

Minhas amadas, meus amados, o Mistério Eucarístico traz em si uma condição infinita, o mistério de Cristo, com sua presença física no meio de sua Igreja, o qual celebra a fé cristã.

Muitos questionamentos, desde os primeiros séculos, giram em torno da presença de Cristo Jesus na Partícula Eucarística, chegando a serem acusados os primeiros cristãos, sentenciados e mortos por isso, de canibalismo, pois não se imaginava um ser humano comendo o corpo de alguém e bebendo do seu sangue.

Ainda pairam muitas dúvidas e controvérsias, advindas de diversas origens, quando se fala no ato da transubstanciação, por meio do qual a substância do pão e vinho transforma-se no corpo e sangue de Cristo. Como pode haver a mudança física da matéria, se não evidenciamos, ao observa-la, tais transformações? Onde está a carne e o sangue, quando se diz que a presença do próprio Jesus Cristo faz-se presente após a consagração da hóstia e do vinho, até porque o próprio sabor do pão e do vinho mantém-se?

Inquestionavelmente, é o mistério da fé!!

Pela ação do Espírito Santo, a matéria visível da hóstia e do vinho, passam a conter a essência do próprio Cristo Jesus, para que se unindo, fisicamente, com os que nele creem, possa transforma-los e fortalece-los. Para aqueles que apenas comem o pão e bebem o vinho, somente alimentam o seu corpo. Porém, aos que creem que estão “comendo a carne e bebendo o sangue santos”, estes sim têm sua alma alimentada. Pois como o corpo não pode ter vida sem a comida e sem a bebida, igualmente a alma não tem a vida eterna sem a Eucaristia, sem o Corpo ressuscitado de Jesus. Dessa forma, o fazer-se alimento significa a plena entrega para dar a vida plena aos que nele creem.

Assim como Tomé, estamos acostumados a crer o que os nossos sentidos nos informam – pela visão, pelo tato, pelo gosto, pela audição e pelo olfato. Tudo o mais, ao escapar dos sentidos, foge da nossa percepção. A nossa limitação humana não nos permite, racionalmente, perceber a presença viva sacramental de Cristo Jesus na Eucaristia, pois nenhum de nossos sentidos é capaz de reconhece-Lo. Por isso é o mistério da fé!

Não existe a transformação da matéria que captamos com nossos sentidos, mas a presença real e completa de Cristo, Deus e homem, que se dá pela ação do Santo Espírito e, em essência, torna-se vivo para que, humildemente, se una com os que nele creem.

Comer a carne de Cristo e beber o seu sangue, tornando-se um com Ele, faz-nos potencialmente iguais a Ele em santidade, prepara-nos, não apenas para O seguir, mas para fazer o que Ele fez, agir como Ele agiu, ser como Ele foi. Trazemos, assim, pelos nossos atos, a presença viva de Jesus em nosso meio, dando um testemunho de fé, não por palavras, mas por atos cotidianos.

Diante da dúvida de Tomé, Jesus diz-nos palavras que ecoam por todos os tempos: “Felizes os que não viram e creram”( Mt 28,20), pois após sua partida física, elevando nossa humanidade à santidade divina, mantem-se vivo em nosso meio por intermédio de cada um daqueles que, pela fé, fazem-no presente.

A presença de Cristo sai do sacrário e vivencia o nosso cotidiano pelas nossas ações, pela nossa vida. Se somos verdadeiramente um com Ele, trazem a sua presença na nossa relação com o irmão, na construção de um mundo compatível com o próprio Reino de Deus, cujas relações ocorrem por meio da amorosidade, da compaixão e da autodoação, sempre com vistas ao crescimento da fraternidade entre as pessoas.

Dessa forma que se diz ser a Eucaristia a comunhão cristã, unindo cada um dos que creem em Cristo com Ele e entre si. É o alimento da vida comunitária – “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4:32) – assim como foram vistos os primeiros cristãos e tal comunhão somente pode ocorrer se as pessoas estiverem em comunhão plena com Deus, de acordo com as próprias palavras de Jesus: “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste.” (Jo 17:21) Essa verdadeira comunhão é plena de amor ao próximo, amor transformador, acolhedor e doador. Amor que não aceita injustiças e desigualdades, que respeita as diferenças e que admoesta, sempre, em direção ao bem comum.

Finalizemos nossa curta reflexão com as palavras do próprio Cristo Jesus, para que a tragamos conosco em nosso dia-a-dia: “Quem permanecer em mim e eu nele, essa dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15:4).

Um fraterno abraço,
 
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 15/06/2017
Reeditado em 15/06/2017
Código do texto: T6027990
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