A Santíssima Trindade em nossa vida!

Amadas irmãs, amados irmãos, que todas e todos vocês estejam plenos de paz!

Neste domingo celebraremos a festa da Santíssima Trindade, razão para grande reflexão, por mais difícil que seja para nossa limitada compreensão. Além disso, o texto evangélico escolhido é uma narração de João, onde Jesus afirma ter sido enviado pelo Pai, não para condenar o mundo, mas para salvá-lo.

Convido a todas e todos vocês a refletirem comigo sobre tais aspectos, após lermos juntos a passagem evangélica de João escolhida para a leitura do dia:

"Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus." (Jo 3:16-18)

Não é por mera ordenação evangélica que comemoramos a solenidade da Santíssima Trindade no domingo subsequente ao de Pentecostes. Tal celebração foi estabelecida, tardiamente, inclusive, apenas em 1334, pelo Papa João XXII, para evidenciar o triunfo, na história da salvação, da Trindade Santa. Até então, mesmo vivenciando em seu cotidiano litúrgico o Deus uno e trino, os cristãos não dispunham de um dia específico para realizarem tal festa.

Reflitamos, inicialmente, sobre o mistério da Santíssima Trindade, mistério impossível de ser compreendido plenamente, pela nossa limitada mente humana, mas possível de ser percebido e evidenciado, por estar impregnado na Igreja e na Sagrada Escritura, especialmente quando iluminados pelo Espírito do Senhor. Este é o mistério de Deus em si mesmo, a fonte de todos os outros mistérios da fé, iluminando-os todos. A única possibilidade de compreendermos tão importante e essencial mistério cristão é quando nos deixamos ser conduzidos pelo próprio Espírito Santo. Mistério que somente se revelou com a encarnação de Jesus Cristo e o envio do Espírito Santo.

Mesmo sabendo que a Santíssima Trindade é um ponto basilar da Igreja Cristã, não a encontramos explicitada com tal em nossos ensinos neotestamentários, apesar de estar presente, em diversas passagens evangélicas e exortações apostólicas, distintamente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Destacando-se, porém, nos instantes que antecederam a Ascenção de Jesus, narrados por Mateus, a indicação feita pelo Senhor à missão de fazer com que “todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”(Mt 28:19). Sem dúvida, a Trindade Santíssima – três pessoas distintas em uma única natureza divina – foi revelada por Cristo Jesus, a qual levou algum tempo para ser minimamente compreendida, dentro dos limites humanos, até pelo cuidado de não macular o dogma de um Deus único, absoluto.

Porém, ao tentarmos imaginar, ou melhor, compreender tal mistério, fica mais acessível quando o identificamos, não como pessoas distintas e individualizadas, mas por intermédio das ações específicas desse Deus único maravilhoso.

Como criador amoroso de todas as coisas, o Pai se identifica e, por seu amor infinito pela humanidade, deu-nos Jesus Cristo, verbo que se fez carne, para construir no mundo, com sua vida, morte e ressurreição, o próprio reino de Deus, inserindo-nos nele. Mas para que possamos viver plenamente esse reino, e nele perenemente habitarmos, foi-nos enviado o Espírito Santo, auxiliando-nos em nossas limitações, em nossas fraquezas, dando-nos força para compreendermos a presença viva de Deus em nossa vida e mantermo-nos ao seu lado em nossa caminhada neste mundo. Em todos esses momentos, desde todos os tempos, e assim sempre, encontra-se o Deus único e absoluto, nas três pessoas distintas pelas ações divinas em cada um de nós – a criação, a indicação do caminho e o fortalecimento para que ele seja compreendido e seguido.

Como exemplo, encontramos no XI Concílio de Toledo, em 675, a indicação para a existência em Deus, a ação de entender, o mesmo que a de amar, identificando-se com sua própria essência divina, partindo do princípio de que “seu entender e seu querer constituem um mesmo Ser”. Assim sendo, em ambos os procedimentos divinos, ao dar origem ao Filho, por geração, e ao Espírito Santo por via de amor, ocorreram sem qualquer tipo de sucessão, nem por prioridade, tampouco por posteridade. Todos são eternos com a mesma eternidade de Deus. Por isso, completam a reflexão sobre a Santíssima Trindade apontando ao Pai como aquilo que é o Filho, o Filho sendo o próprio Pai, e o Espírito Santo como aquilo que são o Pai e o Filho, ou seja, um só Deus por natureza.

Reflitamos, adicionalmente, sobre a nossa criação à imagem e semelhança de Deus. Não uma imagem física, uma semelhança aparente, mas essencialmente semelhantes. Com isso, há, em cada um de nós, o Deus uno e trino, o Deus Altíssimo e a Trindade Santíssima, com o amor criador do Pai, a salvação redentora de Cristo Jesus e a defesa inspiradora do Espírito Santo. Com isso, somos criados para a amorosa comunhão com a Trindade Santa, eternamente presente e viva em cada um de nós. Em decorrência disso, somos incumbidos, assim como o próprio Cristo nos enviou, a disseminar esse mesmo amor, amor pleno e infinito, transformador e santificador.

E com isso, podemos nos reportar à mensagem evangélica de domingo, trecho do diálogo entre Jesus e Nicodemos, a quem nosso Senhor apontou como caminho da salvação o “nascer de novo”, o “refazer-se”, transformando-se pelo amor infinito da Trindade, deixando de ser o ser humano limitado, para assumir e corporificar sua própria essência divina, una e trina.

A vinda de Cristo Jesus, a encarnação de Deus, por amor à humanidade, possibilitou-nos a salvação e não a condenação. O infinito amor do Pai, ao nos enviar a divindade humanamente gerada – “o verbo se fez carne” –, propiciou-nos a redenção, a plena transformação, a indicação do verdadeiro caminho para nosso pleno desenvolvimento espiritual. E, para que possamos ter forças e correta compreensão para assumirmos esse divino caminho, enviou-nos o seu próprio Espírito, o mesmo que habitava em Jesus Cristo, o mesmo que, por todos os tempos, constitui a Trindade Santa.

Crer no Filho de Deus, crer no Cristo Jesus, crer no Deus vivo e encarnado, representa assumirmos suas ações para o nosso viver, reconhecermo-nos como seus verdadeiros discípulos, caminhando por suas estradas do amor e da autodoação compassiva. Não é uma crença simples na existência física de Jesus histórico. Aponta para que almejemos ser como Ele, é a decisão de nos imbuir de seu próprio Espírito, o Espírito Santo, para que, fortalecidos, possamos dar cabo de nossa missão cristã. É por isso que, na passagem evangélica deste domingo foi dito a Nicodemos, e a todos nós, que “Quem nele (Jesus) crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus”.

Nesse pequeno trecho evangélico, aponta-nos Jesus o amor do Pai, a presença viva encarnada de Cristo Jesus e a força necessária do Espírito Santo para reconhecermos esse Deus maravilhoso como luz do nosso caminho à salvação.

Entreguemo-nos, amadas irmãs e amados irmãos, à condução e ao fortalecimento do Espírito Santo presente em nós, para que possamos assumir nossa vida discipular junto a Cristo Jesus, possibilitando que o amor do Pai seja a nossa grande luz santificadora, sendo capazes, assim, de disseminarmos a presença viva do Deus uno e trino neste mundo.

“Por Cristo, com Cristo e em Cristo

A vós Deus Pai todo-poderoso

Na unidade do Espírito Santo,

Toda honra e toda a glória

Agora e para sempre.

Amém!”

Um fraterno abraço,

Padre João Milton Menezes

Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 11/06/2017
Reeditado em 11/06/2017
Código do texto: T6024340
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