Família Para Sempre

(sermão pregado em 08 de Junho de 2017)

“(...) de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra” (Efésios 3.15)

INTRODUÇÃO

Nos versículos anteriores a esse que escolhi para a minha exposição, o Apóstolo Paulo ensina que a Igreja é o principal instrumento de Deus para demonstrar Sua sabedoria (Ef 3.10). A escolha dela não ocorreu como uma resposta a algo que o Senhor preveu que aconteceria, mas foi um plano estabelecido por Ele eternamente no passado em Jesus Cristo. Por meio da fé em Jesus, nós temos pleno acesso ao Senhor, motivo por que Paulo pede aos efésios que não ficassem tristes porque ele estava sofrendo por pregar o Evangelho, pois o sofrimento dele era a glória da Igreja. A partir do 14 ele diz que orava pelos Efésios, usando a expressão que escolhemos a respeito do Deus-Pai: “de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra”. A partir dessa sentença pretendo demonstrar a seguinte doutrina: o Evangelho é a única coisa que pode preservar uma família para sempre. O Evangelho é a única coisa que pode preservar uma família para sempre. Primeiramente vou demonstrar sete razões porque essa doutrina é verdadeira, depois mostrarei cinco usos práticos dela.

DEMOSTRAÇÃO

1. Porque o Evangelho é a única coisa que dá sentido à existência da família. A Igreja é a principal maneira pelo qual Deus revela a Sua sabedoria, e a família é um passo necessário que Deus deu para criar a Igreja. Com Igreja eu não quero dizer o templo, ou a igreja local, mas todo o povo de Deus espalhado pela terra. Deus criou a família para que esse povo pudesse surgir. E como a Igreja é criada? Por meio da pregação do Evangelho. Pelo Evangelho Deus pega pessoas de diferentes famílias e junta em uma família só, a Igreja. Logo, a família foi criada porque ela era necessária para que a Igreja fosse formada por meio da pregação do Evangelho.

2. Porque o Evangelho são as palavras de Jesus, e Ele disse em Mateus 7.24-27 que todo aquele que ouve as suas palavras e as pratica será comparado a um homem que edificou a sua casa sobre a rocha; pode vir a tempestade que for que essa casa não vai cair. Então se nossa família for sustentada pelo Evangelho, ela resistirá a qualquer coisa.

3. Porque o Evangelho nos oferece pleno acesso a Deus. O versículo 12 de Efésios 3 ensina que por causa da morte de Jesus, nós podemos nos aproximar de Deus com total confiança. Jesus morreu para sofrer a punição pelos nossos pecados. Se nós cremos nisso, somos totalmente perdoados de todo o mal que cometemos, de maneira que Deus nos vê como completamente santos e puros aos Seus olhos, e assim nós podemos nos aproximar Dele com toda a intimidade que uma criança tem com o seu Pai.

4. Porque o Evangelho nos traz para a família de Deus. É isso que o apóstolo está ensinando desde o começo da epístola. Se nós cremos no Evangelho, nós nos tornamos um só com Jesus, e consequentemente nos tornamos, como Jesus, filhos de Deus. “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Ef 2.19). Por isso em Efésios 3.14 Paulo chama Deus de Pai. A Bíblia não ensina, como muitas pessoas pensam, que todo mundo é filho de Deus. Ao contrário, se você vive de uma maneira que desagrada ao Senhor, você é um filho do Diabo, não de Deus. Para se tornar filho de Deus você precisa crer no Evangelho, se arrepender dos seus pecados e se unir a Jesus Cristo. Sem isso você é um inimigo de Deus, não um filho.

5. Já que Deus é o Pai dos que crêem no Evangelho, então por causa dele nós podemos pedir para o Senhor tudo aquilo que a nossa família terrena precisa. Qual de vocês, se o seu filho pedir um pão, vai dar para ele uma pedra? Ou se pedir um peixe vai lhe dar uma cobra? Se nós, sendo pecadores, sabemos dar coisas boas à nossa família, quanto mais nosso Pai que está no céu? E se Deus não poupou o próprio Filho, Jesus Cristo, “antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?”.

6. Porque a família terrena é passageira, a celestial não. Em poucos anos todos nós vamos morrer e os laços terrenos que antes nos uniam não farão mais sentido algum, mas os laços que unem a igreja durarão para sempre. O relacionamento mais profundo que nós temos nesse mundo é o do casamento, mas 1 Coríntios 7.39 e Romanos 7.1-3 ensinam que uma mulher está ligada ao seu marido só enquanto ele viver. Quando o marido morre, ela pode casar com outro. Mas o laço que une os crentes por meio do Evangelho é maior que o do casamento, porque a morte não pode rompê-lo. No céu o seu casamento já não valerá mais, mas a união dos irmãos em Cristo sim. Então se nossa família terena for acrescentada à família de Deus, nós continuaremos sendo família para sempre.

7. Porque o Evangelho é a única base sólida para manter relações familiares saudáveis. A única coisa que pode fazer uma mulher ser verdadeiramente submissa ao seu marido é o Evangelho, porque se for pelo nosso mundo, a mulher não tem motivo nenhum para se submeter. Pelo contrário, nossa cultura incentiva as mulheres a serem independentes, não submissas. Uma esposa submissa é uma aberração, um pecado terrível para a nossa cultura cada vez mais feminista. Mas o Evangelho ordena a esposa a ser submissa ao seu marido como a Igreja é submissa a Cristo. Da mesma forma, a única base sólida para que um marido ame verdadeiramente a sua esposa, mesmo que ela seja má com ele, é o Evangelho. Pelo nosso mundo, se a mulher não atende mais as necessidades do marido, ou se ela faz alguma coisa muito grave, ele divorcia dela e casa com outra. Até nas igrejas a gente vê isso. Mas o Evangelho diz: “maridos, amem suas esposas como Cristo amou a Sua Igreja, e entregou a própria vida por ela”. Isso pode ser aplicado também as outras. Pelo Evangelho, os filhos obedecem aos pais, os pais não irritam os filhos, os irmãos respeitam uns aos outros, etc..

A partir dessas sete razões, entre outras, nós concluímos que a única coisa que pode preservar uma família para sempre é o Evangelho, ou, em outras palavras, uma família se torna eterna quando ela toma o nome do Pai, como diz o nosso versículo. Segundo o nosso catecismo, na pergunta 112, tomar o nome de Deus significa usar tudo aquilo que se refere a Deus, seus títulos, atributos, ordenanças, a Palavra, os sacramentos, a oração, tudo, de maneira santa e reverente em nossos pensamentos, palavras e escritos. Por isso quando ele diz que toda a família sobre a terra toma o nome do Pai, ele não está dizendo, como algumas pessoas acham, que todas as famílias da terra tem algum tipo de religião. Tomar o nome do Pai é mais do que isso. Ele está falando que há uma família que verdadeiramente toma o nome de Deus nos céus e na terra: a Igreja.

USOS

1. Nós precisamos tratar o nome de Deus com reverência na nossa casa. As pessoas perderam totalmente a reverência pelo Senhor até mesmo dentro da igreja, imagina dentro do lar. Nas nossas brincadeiras, nas nossas atividades, precisamos sempre tomar todo o cuidado para não usarmos mal o nome de Deus. Uma das razões disso é porque a nossa família precisa aprender a tomar o nome do Pai devidamente. E com "nome", como eu disse antes, não quero dizer apenas a palavra "Deus" ou "Senhor", mas tudo aquilo que se refere a Deus. Porque se os nossos próximos vêem que nós não respeitamos as coisas de Deus no lar, por que eles respeitariam esse Deus então?

O linguajar evangélico contemporâneo adora pecar contra o terceiro mandamento e tomar o nome de Deus em vão. Falamos o nome do Pai sem o menor temor, até mesmo para xingar. "Ô glória!", "o sangue de Jesus", "em nome de Jesus" e várias outras expressões que nós usamos são um uso irreverente das coisas de Deus. Eu duvido que você faria piadinhas com o nome de um traficante perigoso na presença dele, mas diante de Deus nós muitas vezes não temos nenhum temor. Contudo, o Senhor disse nos Dez Mandamentos que não terá por inocente aquele que tomar o seu santo nome em vão, e Jesus disse: “não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo”. E se a dignidade e a santidade de Deus não é suficiente para fazer você temer usar o Seu nome em vão, pelo menos então pense na sua família, não ensine-a a desrespeitar ao Senhor na sua casa, mas a ter a devida reverência, pois isso é fundamental para a sobrevivência eterna dela.

2. Precisamos estudar a Bíblia juntos em nossos lares. Porque para a sua família tomar devidamente o nome do Pai, ela precisa conhecer a esse Pai. Então se no seu contexto familiar isso é possível, vocês devem fazer estudos bíblicos nas suas casas. Senão, você deve aproveitar toda oportunidade (sem precisar ser chato!) para ensinar aos seus familiares algo sobre a Bíblia e sobre Jesus. Isso é uma responsabilidade principalmente do pai da família. Nós homens fomos colocados como cabeça do nosso lar para prover todas as necessidades da nossa família; físicas, emocionais e espirituais. Se você homem suprir as necessidades físicas da sua família, botar a comida na mesa, mas não atender as necessidades emocionais e espirituais dela, você é um inútil, porque você não está fazendo a coisa mais importante. O que adianta você dar o mundo para os seus filhos, para os seus pais, para os seus irmãos, e eles perderem a alma?

Portanto ensinem a Bíblia à sua família. Se você não sabe ensinar, aprenda a ensinar. E se você não conhece a Bíblia, encontre pessoas e livros que possam te ajudar a entende-la melhor e estude-a. Ensinar a Bíblia não é função apenas dos presbíteros e professores, mas de todos os crentes. Embora seja uma responsabilidade principalmente do homem da casa, todos os cristãos têm algum conhecimento que possam compartilhar com a sua família. Mas pais, se vocês deixam de atender as necessidades físicas e emocionais da sua família. Mas se você não cuida das ALMAS da sua família, você pode ir para o inferno e ainda levar a sua família junto.

3. Devemos orar com a nossa família. Paulo tinha a oração em mente quando ele fala em tomar o nome do Pai, porque ele diz "me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família". Como toda a Igreja toma o nome do Senhor em oração, ele fazia isso também. Então ore com a sua família terrena. Não é suficiente apenas trazê-la para o templo orar, nós precisamos orar em casa. Se necessário for, ensine os seus familiares a orar. Por exemplo, vocês podem começar estudando juntos o Pai Nosso, porque foi a oração modelo que Jesus nos deu. Inclusive, o primeiro pedido dessa oração tem tudo a ver com o que estamos falando: "Pai nosso que estás no céu, santificado... seja o seu nome". Ou seja, devemos pedir que Deus seja verdadeiramente honrado em nosso meio.

4. Ensinar o Evangelho à nossa família não significa apenas passar valores importantes. Não significa apenas obrigar os seus filhos ir à igreja e cobrar do seu cônjuge uma postura mais correta diante de Deus. Significa principalmente falar com eles a respeito das doutrinas bíblicas, especialmente aquelas relacionadas à vida, à morte e à ressurreição de Jesus. Se você não souber por onde começar, estude o livro de Efésios 1-3, ou Romanos, porque são as exposições mais profundas do que é o Evangelho.

5. Devemos adorar a Deus com toda a alegria, tanto na nossa casa como juntos na Igreja. Adoração é uma das formas de tomar o nome de Deus, e uma das marcas da família de Deus. Muitos de nós não tem a menor vergonha de gritar e pular quando torcem pro Vasco, Botafogo ou qualquer outro time pequeno, mas é frio e seco ao adorar a Deus. Uma das doenças do cristianismo brasileiro é achar que ser tradicional significa ser desanimado no louvor a Deus. Que ter alegria e entusiasmo na adoração é coisa de pentecostal. Embora o movimento pentecostal muitas vezes exagere, uma das coisas que esse movimento faz é nos lembrar justamente que a nossa relação com Deus é um misto de reverência temerosa e intimidade alegre, como a relação entre pais e filhos. Um filho erra quando ele não tem respeito pelos pais, mas também erra quando ele trata o pai como um estranho, não tendo a menor alegria nele. Portanto, não podemos cair em um extremo e esquecer do outro.

Existe no coração de cada criança, de cada adolescente e de cada adulto a necessidade e desejo de admirar alguém. Podemos cantar mais animadamente o hino do nosso time de futebol ou a nossa música predileta do que o louvor a Deus, mas sempre temos essa necessidade de louvar algo. A principal razão pela qual muitas pessoas têm dificuldade em se entregar verdadeiramente no louvor a Deus, ou mesmo manifestar de maneira mais contundente a sua alegria, como gritando "glória a Deus!", não é a sua reverência, mas falta de fé de que Deus é uma verdadeira realidade na sua vida.

E as pessoas ainda dão desculpas teológicas, dizendo, por exemplo, que o culto deve ser racional. Sim, o culto é racional, ele não deve ser uma bagunça, mas ser racional não significa ser sem entusiasmo. Era esse um dos motivos da oração de Paulo, como vemos nos versículos seguintes, que a habitação de Cristo no nosso coração se tornasse real para os efésios. Mas para isso eles precisavam de um milagre. A experiência de ter seu coração disparado em admiração a Deus depende que os seus olhos sejam abertos para a beleza Dele. Para isso, precisamos do poder que vem do Espírito Santo, e esse poder vem a nós por meio do Evangelho. Quando você demonstra na sua vida um entusiasmo maior pelas coisas do mundo do que pelas coisas de Deus, você está ensinando à sua família que Deus não é tão digno de admiração quanto as outras coisas.

CONCLUSÃO

Não tenha vergonha de falar sobre Deus com a sua família, seja ela de crentes, seja de descrentes. Isso não significa que devamos ser chatos, mas Jesus disse que qualquer um que "se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos" (Mc 8.38). Mas esteja preparado, porque isso pode te trazer problemas. Jesus avisou em Mateus 10 que, por causa do Evangelho, um irmão vai entregar o outro para morrer, filhos vão se levantar contra os seus pais para matá-los e nós seremos odiados por todo mundo.

Cristo veio ao mundo para causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Mas a nossa família precisa ouvir sempre as verdades bíblicas, e se elas incomodam e causam brigas, isso não é algo que precisamos evitar; pelo contrário, é perfeitamente natural e esperado, melhor ainda, NECESSÁRIO que o Evangelho cause brigas e divisões. Porque vale a pena correr o risco de perder o relacionamento nesse mundo com alguém que você ama para poder ganhar ele como seu irmão em Cristo por toda a eternidade.

Se você ama o seu marido, se você ama o seu pai, a sua mãe, o seu irmão na carne, a única forma de vocês permanecerem juntos para sempre é por meio de Jesus Cristo. Então tome o nome do Pai devidamente com a sua família. Se eles já são crentes, continuem estudando juntos constantemente a Palavra de Deus. E se não, ponha-se de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda a Igreja, tanto no céu como sobre a terra, e pregue o Evangelho para ela. A única família que durará para sempre é a família de Deus.