Muitas vezes, perdemos a batalha porque combatemos o inimigo errado. Tudo parece perdido, destruído: a natureza, a família, a paz... Mas, na verdade, a destruição acontece, quando permitimos a desconstrução de nosso mundo interior. Somos parte do mundo, se estamos mal, tudo em volta adoece. Perde o brilho e a cor descora como folha no outono.
— O mundo sou eu — disse Morgana — carrego peso que não é meu. Mas a bagagem não sou eu. Carrego entulhos acumulados na mochila, que precisam ser jogados no lixo. Sinto-me um caranguejo ermitão levando sobre as costas a pesada concha de uma ostra.
— Nem tanto assim, Morga. Pode ser que estejamos na lama, mas não somos a lama. A luta pela sobrevivência requer a conquista do próprio espaço, o que é deplorável é querer açambarcar tudo para si. Ter o mundo todo a seus pés. A vida passa. Tem pressa de chegar ao fim, e logo percebemos que as certezas tornam-se incertas. Quando isso ocorre, chegou o memento em que o desapego será a forma mais segura de viver melhor. Nada é infinitamente duradouro: a alegria, a tristeza...tudo passa. Então, tomamos consciência de que só a morte é garantia de vida. Vida eterna.
— Falas de apego como a ganância e outras más inclinações que sufocam a alma. Mas o dinheiro é moeda de troca. Precisamos dele.
— Fui escrava do trabalho e pela mesma via, do dinheiro. Deveria ter feito do dinheiro meu escravo, mas me deixei escravizar por ele. Durmo pensando em dinheiro, acordo pensando em dinheiro.
Fez uma pausa como se buscasse força na palavra.
— O dinheiro faz homens ricos, o conhecimento faz homens sábios e a humildade faz grandes homens — disse Gandhi — Ele vivia o que pregava. E nós? Nós não temos tempo de ouvir o pássaro que canta; a cantilena da chuva no telhado, nem o zumbir da abelha colhendo néctar no girassol. Não temos tempo para ver nem sentir os mimos de Deus.
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Adalberto Lima, fragmentos de Estrela que o vento soprou.
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