Oração por Iluminação

GRAÇA PARA AMAR E CRER

Em Efésios 1.14 Paulo ensina que o Espírito Santo é o penhor da herança dos salvos, ou seja, Ele é a prova de que nós receberemos todas as bênçãos espirituais em Jesus Cristo (v.3), pois para isso fomos escolhidos e predestinados (v. 4-5) Nele. Ou seja, se nós que recebemos o Espírito não recebermos tudo aquilo que Deus prometeu para nós, isso significa que o Senhor mentiu. É Deus quem promete garantir que nós alcancemos a recompensa no final da nossa corrida. Nossa tarefa é apenas operar a nossa salvação com temor e tremor, e nos examinar para ver se nós realmente fomos selados com o Espírito.

O interessante é que a fé de Paulo na predestinação e na certeza da salvação dos que recebem o Espírito não o impedia de orar pela perseverança deles. Pelo contrário, segundo Efésios 1.15-23, a fé dos efésios no Senhor Jesus e o amor que tinham por todos os crentes, mesmo sendo evidências de que Deus iria COM CERTEZA levar a obra da salvação até o fim (pois deu o penhor do Espírito) era também a própria motivação de Paulo em sua oração por eles. Daqui podemos tirar duas lições principais.

Primeiro, isso nos mostra que não devemos nunca estar satisfeitos com a medida de graça que nós recebemos, mas quanto mais nós crescemos na fé e no amor, mais nós devemos pedir por mais fé e amor, de maneira que a consciência do nosso desenvolvimento deve nos fazer perceber mais e mais o quanto ainda precisamos nos desenvolver; pois, se não for assim, pararemos de crescer. E o que para de crescer está próximo da morte.

Outro fato importante revelado nesse texto é que a doutrina da predestinação não anula a necessidade da oração. A Confissão de Fé de Westminter (III, I) diz: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas. (Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5; Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34). Isso significa que ainda que Deus predestine tudo o que acontece, Ele determina fazer aquilo que Ele planejou através de causas secundárias, como as nossas orações.

Mais do que isso: o que deve nos motivar a orar não é a incerteza de que Deus vai cumprir as suas promessas, nem a desconfiança de que se nós não falarmos para Ele o que nós precisamos Ele não vai saber, mas a plena certeza de que aquele que tem uma herança para nos dar, Jesus Cristo, foi colocado como cabeça de TODAS as coisas, de modo que não há nada que não lhe seja sujeito, nem nada que seja difícil demais para Ele.

O fato de pedirmos por mais graça não significa que devemos ignorar a graça já alcançada. Por isso, no versículo 16, Paulo diz que sempre agradecia a Deus pelo que Ele já havia feito entre os Efésios. Desse modo, a gratidão é uma força extremamente motivadora para suplicarmos por aquilo que nós ainda precisamos. Isso significa que Paulo era mais motivado a orar pela consciência daquelas coisas que eles haviam recebido do que pela consciência do que ainda restava para eles receber. Ou, em outras palavras, a fé na graça passada é mais poderosa em nos fazer pedir pela graça futura do que a nossa necessidade presente.

E quando nós não vemos, na situação presente, nenhum sinal de graça que nos motive a orar por mais? Lembremos, pois, que o Apóstolo Paulo estava na prisão quando escreveu essas palavras. Ele estava passando por um momento de várias privações. O que, segundo o texto, motivava-o a orar? A fé e o amor DOS EFÉSIOS. Ou seja, naqueles momentos que for difícil para nós enxergar a benção de Deus em nossas vidas, devemos ver a graça recebida por nossos irmãos, não com o desânimo da inveja, mas com a alegria da esperança daquele que se alegra por ver seus amados experimentando o amor de Deus e se alegra pela fé de que o experimentará também.

GRAÇA PARA ENTENDER

Paulo orava “para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração” (v. 17-18). Ele pedia a Deus que Ele os ajudasse a ter uma compreensão espiritual mais clara. Isso nos lembra de nossa constante dependência de Deus para entendermos não somente as Escrituras, mas o mundo ao nosso redor. Deus é a fonte de toda sabedoria e conhecimento, inclusive para aqueles que O rejeitam. Sabedoria (sophias) significa discernimento, habilidade, clareza. Revelação (apokalypseos) é a transmissão de uma verdade anteriormente desconhecida. Conhecimento (epignosei) geralmente significa conhecimento experimental.

Deve chamar nossa atenção o fato de Paulo não dizer orar para que Deus acrescentasse à Igreja mais pessoas. É bem possível que ele orasse por isso, mas não era sua preocupação principal. Isso nos mostra que não devemos exagerar o valor do evangelismo em detrimento do amadurecimento da Igreja. Algumas comunidades colocam a conversão de pessoas como a coisa mais importante da vida cristã, e não é. Por causa dessa idéia falsa, muitas igrejas cometem uma série de erros graves. Por exemplo, fazem com que os seus cultos girem em torno do bem-estar dos visitantes, e não em torno da glória de Cristo e edificação dos crentes. Ou negligenciam o estudo bíblico profundo em troca de um evangelismo superficial.

A revelação referida no versículo 17 não significa necessariamente informações extra-bíblicas, ou previsões de eventos futuros. A palavra apokalupsis (revelação) geralmente é usada nas Escrituras para verdades a respeito de Deus e do que Ele fez por meio de Jesus Cristo. O próprio Apokalypsis de João é muito mais uma revelação da glória de Jesus do que dos eventos futuros. A revelação aqui referida é o desvendar do pleno conhecimento de Deus. Pleno conhecimento de que, exatamente?

O PODER NA SALVAÇÃO

Quando Paulo pede para que Deus iluminasse “os olhos do coração” dos efésios, não estava se referindo a emoções, como normalmente empregamos o termo “coração” em nossa cultura. Coração na Bíblia significa a sede não somente de nossos sentimentos, mas também de vontades e pensamentos. O último sentido é o foco principal do apóstolo aqui, porque ele usa palavras que descrevem aspectos intelectuais (sabedoria, revelação e conhecimento) e vai continuar usando conforme o versículo 18 avança: “para SABERDES qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos”.

Isso porque a base da espiritualidade cristã é a mente. A espiritualidade bíblica não se trata de esvaziar a mente, ficar repetindo mantras que ninguém entende, entrar em êxtases, rodopiar, dar cambalhota, etc.. O espírito que Paulo queria que os Efésios tivessem é um espírito de conhecimento, de revelação sobre Deus, e de pleno conhecimento da Sua vontade.

Quando ele diz “esperança do seu chamamento” está usando “chamamento” no sentido de “salvação”. Então basicamente ele queria que os efésios fossem iluminados para entender o que exatamente era a salvação que Deus havia realizado por eles em Jesus Cristo. Ele diz a mesma coisa com outras palavras ao chamar a salvação de “a riqueza da glória da sua herança nos santos”. Assim como no versículo 14, Paulo chama a salvação de uma herança, para enfatizar o fato de que ela é algo que se recebe sem fazer nada, apenas por ser adotado como filho, e não por qualquer mérito.

Isso significa que o Evangelho não é uma verdade básica que nós aprendemos quando começamos a nossa caminhada cristã e que depois deixamos de lado para aprender coisas maiores e mais profundas, mas que precisamos ser mais e mais iluminados pelo Espírito de Deus para termos uma compreensão mais clara dele, pois o Evangelho é muito maior do que qualquer coisa que podemos ver ou conceber, porquanto ele é a revelação do infinito poder de Deus “para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro” (v. 19-21).

Uma das verdades mais fundamentais do Evangelho, que é revelada nos versículos 20-23, é que Cristo está reinando agora sobre todas as coisas, nos céus e na terra. Todos os anjos, todos os demônios, todas as galáxias e todos os reinos deste mundo estão debaixo do domínio do Deus-Homem, e a prova disso é que Ele ressuscitou e está sentado à direita do Todo-poderoso. E é esse infinito poder, que tem o universo nas mãos, que opera em nós na nossa salvação.

Isso é fundamental para entendermos o que é a Igreja de Jesus. Nós somos a manifestação visível “daquele que a tudo enche em todas as coisas”. Somos o corpo daquele do Senhor de todo o Universo. Nós estamos unidos àquele que se senta no trono da Criação, e estamos sentados lá com Ele. A plenitude da perfeição, que é Cristo, habita em nós. Não são aqueles homens que nós vemos e apreciamos (ou não) que governam a Igreja, mas o Filho de Deus. É por isso que nós podemos pedir por iluminação e por tudo o mais que nós precisamos: todas as coisas são nossas em Jesus Cristo, porque Ele é nosso, e nós somos Dele.