Pornografia e Divórcio
Segundo a Associação Americana de Sociologia, o consumo de pornografia pode dobrar as chances de divórcio. Baseando-se em pesquisas feitas nos Estados Unidos entre 2006 e 2014, os pesquisadores notaram que houve uma taxa maior (quase o dobro) de divórcio entre as pessoas que passaram a consumir pornografia nesse período, especialmente entre os casais mais jovens.
Em Mateus 19 os fariseus fazem uma pergunta a Jesus cuja resposta pode nos esclarecer algumas coisas sobre o casamento que são fundamentais para lidarmos com a pornografia, já que, em geral, os pecados sexuais são pecado porque são distorções do propósito de Deus para o sexo, que é o casamento. A pergunta exata deles foi: "É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?". Eles fizeram essa pergunta "tentando-o" (v.3), ou seja, querendo coloca-lo em uma cilada. Isso porque se Ele dissesse que não, poderiam acusá-lo de estar indo contra a Lei de Moisés. Talvez eles até mesmo esperassem que Jesus, como fez João Batista (e foi por isso decapitado), tocasse no caso de Herodes, que se casou com a mulher do seu irmão.
Moisés permitiu, em Deuteronômio 24, que um homem se divorciasse de uma mulher "por nela encontrar coisa indecente". Havia intenso debate na época de Jesus entre os estudiosos sobre o que isso significa. Havia basicamente dois pensamentos sobre o divórcio: alguns estudiosos das Escrituras consideravam que qualquer motivo era suficiente para que um homem repudiasse sua mulher (até queimar uma refeição), outros acreditavam que o adultério seria suficiente para justificar esse ato.
Samuele Bacchiocchi, em "The Marriage Covenant", defende que ambas as escolas rabínicas estavam erradas, porque a expressão "coisa indecente" se refere especificamente a atos vergonhosos, como expor o próprio corpo nu; mas alguém que praticasse adultério (inclusive traição durante o período do noivado) deveria ser morto, não ser repudiado (Lv 20.10). Desse modo, a coisa indecente aqui se referia a alguma imoralidade que não fosse necessariamente adultério.
Jesus responde à pergunta a partir da própria Lei de Moisés, citando o livro de Gênesis. Deus fez macho e fêmea, e disse: "Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne" (v. 5). Se eles são uma só carne, a conclusão de Jesus é que o homem não pode separar o que Deus uniu. Essa é a vontade de Deus, que não aja divórcio em caso algum. Homem e mulher devem viver como um só até que Deus mesmo os separe pela morte.
O casamento é o vinculo mais sagrado de todos. Deve-se amar o cônjuge como se ama o próprio corpo. Deus mesmo realizou o primeiro matrimônio, e todo casamento legítimo depois daquele é um ajuntamento do Senhor, cujo plano é que os antigos relacionamentos sejam deixados para trás para que uma nova união seja estabelecida. Nenhum homem tem poder para dissolver esse laço tão sagrado, da mesma forma que alguém não pode partir um corpo em dois sem matá-lo.
Vemos isso claramente confirmado por outras passagens. Lucas 16.18 chama todo novo casamento após divórcio de adultério. O divórcio não termina um casamento aos olhos de Deus. Marcos 10.11-12 acrescenta que a mulher que se divorcia e casa novamente também comete adultério. Mateus 5.32 ensina que se uma mulher é repudiada por seu marido e dada em casamento a outro homem, tanto essa mulher quanto esse outro homem cometem adultério, até aquela que foi abandonada porque queimou a refeição. I Corintios 7.10-11 ensina que um homem não pode se divorciar em hipótese alguma. E a mulher, se ela se divorciar, não pode se casar com outro. I Coríntios 7.39 e Romanos 7.1-3 ensinam que o novo casamento só é legítimo após a morte do cônjuge. Segundo Malaquias 2.14-16, Deus não apenas odeia o divórcio, como também odeia aquela pessoa que se divorcia indevidamente.
Isso porque o divórcio é uma quebra de algo que o próprio Deus instituiu, que é o casamento. Se os homens tivessem inventado o casamento, eles poderiam desfazê-lo quando bem entendessem. Mas como foi Deus quem inventou, o homem não tem o direito de revogá-lo por conta própria. Desse modo, um papel de divórcio assinado não tem valor nenhum para Deus se Ele ainda considerar aquelas duas pessoas como ligadas e, mais do que isso, uma autoridade civil que está reconhecendo uma separação que Deus não reconhece também está pecando, do mesmo modo que alguém que considera como verdadeiro um divórcio que não é legitimado e se casa com alguém divorciado; este também é culpado de adultério.
Desse modo, aqueles que são casados devem estar sempre totalmente comprometidos com a preservação do casamento e nunca considerar o divórcio como opção para resolver os conflitos. Odiar o divórcio também significa odiar qualquer coisa que coloque o casamento em perigo. É pedir a Deus para mudar o que nós não podemos mudar e termos a coragem de mudar o que pode ser mudado. Se Ele é quem nos une em casamento, Ele também é todo-poderoso para nos fazer permanecer unidos.
Dado esse pano de fundo, os fariseus levantam a questão de porque Moisés permitiu o divórcio mais tarde, em Deuteronômio 24. Há uma contradição entre Jesus e Moisés? Ou entre Gênesis e Deuteronômio? Não, as Escrituras são perfeitamente harmônicas em todas as suas partes, embora às vezes essa harmonia possa ser difícil. Jesus nos ensina a harmonizar essas duas passagens nos versos 7-9 dizendo que a razão pelo qual o divórcio foi permitido por Moisés era a dureza do coração dos judeus.
O princípio geral revelado nesse texto é que muitas vezes a Lei de Moisés não foi tão severa quanto poderia, permitindo algumas coisas que não são do agrado de Deus, a fim de não colocar sobre o homem um fardo ainda mais pesado. A permissão de divórcio, entre outras coisas, contribuía para proteger as mulheres de homens que simplesmente as abandonassem. Na própria linguagem de Deuteronômio isso já fica implícito: o texto não diz exatamente que os homens podem se divorciar das suas esposas, mas apenas menciona o repúdio como um fato, concedendo à mulher o direito de receber uma carta de divórcio e o de se casar com outra pessoa. Mas não era assim desde o princípio. Isso foi uma concessão que Deus fez naquele momento.
Ao contrário do casamento, o divórcio não foi instituído por Deus. Casamento é coisa de Deus, divórcio é coisa do homem. Ele é a rejeição humana do plano original de Deus. Segundo Bacchiocchi, divórcio era algo comum na época de Moisés. Bastava o homem dizer na presença de testemunhas que ela não era mais esposa dele e pronto. Depois, se quisessem tê-las de volta (quando a roupa suja estivesse acumulada e a casa precisasse de limpeza), poderiam trazê-las novamente.
Resumindo, qualquer recasamento depois de divórcio é considerado adultério, porque o casamento não pode ser desfeito por uma assinatura em um papel; exceto se o divórcio for provocado por uma imoralidade sexual (porneia), exceção apresentada por Mt 5.32 e Mt 19.9. A palavra porneia nesses textos não significa exatamente a palavra usada no Novo Testamento para adultério, mas “imoralidade sexual”. A partir disso, temos três possibilidades de interpretar essa expressão: como um tipo específico de adultério, como um sinônimo exato de adultério ou como algo que inclui adultério, mas também outras coisas.
Se porneia nesse texto significa qualquer tipo de imoralidade sexual, então até mesmo masturbação e cobiçar sexualmente pessoas que não são seus cônjuges seriam justificativas válidas para o divórcio. Pornografia, então, nem se fala. Ou seja, provavelmente a maioria esmagadora dos cristãos poderia pedir divórcio hoje e se casar novamente sem culpa.
Se, por outro lado, a palavra está sendo usada como sinônimo de adultério (interpretação mais comum entre os evangélicos), então pornografia continua sendo justificativa válida para o divórcio, porque assistir pornografia é adultério. Consumir pornografia é diferente de masturbação ou cobiça porque há pessoas reais envolvidos no ato, não apenas a imaginação do indivíduo. Essas pessoas sabem que você vai ter prazer sexual com elas e agem para fazer isso. Consumo de pornografia não é diferente, nesse aspecto, de sexo virtual. Ambos são adultérios. Ambos são justificativas para divórcio.
Para deixar isso mais claro, podemos parafrasear uma analogia do escritor Luke Gilkerson. Um homem que tem como hábito sem arrependimento ter relações com prostitutas comete adultério? Sim. Se, ao invés de ter relações com essas prostitutas, ele vai a lugares onde elas ficam dançando ou tendo relações com outros homens, ele comete adultério? Certamente. Se, ao invés de ir a lugares físicos, ele faz exatamente a mesma coisa, mas pela internet, assistindo orgias com prostitutas dos mais diversos tipos e se masturbando, ele comete adultério? Claro. E se, ao invés de chamarmos essas mulheres de prostitutas, chamarmos elas de “estrelas pornô”, deixa de ser adultério? De modo algum. Portanto, consumir pornografia é adultério.
Se assim for, isso significa que pornografia é pior do que abuso físico, pior do que falta de compromisso, pior do que outras formas de desrespeito, pior do que discussões demais. Nenhuma dessas coisas é justificativa para cancelar um casamento, mas pornografia sim. A pornografia destrói o casamento de tal maneira que Deus permite que uma pessoa desfaça seu casamento por causa dela. Deve, portanto, nos espantar o poder destrutivo da pornografia. Mais do que isso, devemos abominá-la como um dos maiores males desse mundo, porque destrói uma das coisas mais belas desse mundo, que é o casamento. Pornografia deve ser odiada por todos nós e colocada no nível dos homicídios e estupros na lista dos pecados mais hediondos.
Isso significa que, na primeira oportunidade, uma pessoa que descobre que seu cônjuge consome pornografia deve se divorciar dele? Penso que não. O divórcio deve sempre ser o último recurso. Então como um cônjuge traído deve fazer nessa situação? Podemos aplicar a este caso o que Jesus diz em Mateus 18.15-18. Se você pega seu cônjuge consumindo pornografia, repreenda-o. Rogue para que se arrependa. Chame-o a abandonar o pecado. Se ele assim o fizer, perdoa-o.
Mas se a pessoa insistir em seu pecado, você deve envolver outros no assunto. De preferência pessoas mais chegadas e espiritualmente maduras, duas ou três só, para ajudá-lo a vencer o pecado e encontrar lugar de arrependimento. Se ainda assim a pessoa insistir no hábito, nesse caso, um afastamento é perfeitamente compreensível. Isso pode ser a motivação que ele precisa para finalmente se arrepender de verdade. Ou, pelo menos pode te proteger de um cônjuge infiel.
Há ainda uma terceira interpretação para a exceção do divórcio, em que porneia nesses textos significa algum tipo mais específico de imoralidade sexual que não inclui pornografia. Por exemplo, John Piper no artigo “Divorce & Remarriage: A Position Paper” defende, com ótimos argumentos, que porneia nesse texto significa especificamente uma traição sexual cometida durante o período de noivado. Mas ainda que você aceite essa tese, permanece o alerta de que pecados sexuais em geral, e a pornografia em particular, são especialmente graves, mesmo em comparação com outras terríveis formas de abuso. Isso continua sendo verdade mesmo que adultério não seja justificativa para o divórcio.
Um dos efeitos devastadores da pornografia no casamento é que ela afeta a capacidade do adultero de desfrutar de sexo normal. O traidor perde o interesse pelo cônjuge porque seu cérebro foi treinado pela pornografia a responder apenas a níveis muito mais elevados de estimulação erótica. O homem, particularmente, se acostuma com mulheres muito mais bonitas e mais liberais que sua esposa e ela acaba se tornando sem graça para ele. A pornografia está sempre disponível, o cônjuge não. Isso pode causar até mesmo problemas físicos, pois como é mais difícil ser estimulado pela sexualidade normal, o homem eventualmente vai desenvolver impotência sexual.
A pornografia também afeta a vítima do adultério. O cônjuge se sente preterido, trocado pelos parceiros virtuais. Pode se sentir velho demais (a maioria dos atores pornográficos são bem jovens, especialmente as mulheres), pouco atraente ou até mesmo sexualmente indesejável. Esse efeito, somado ao problema do parágrafo anterior, torna-se ainda mais devastador. Como o adultero tem seu desejo pelo cônjuge diminuído, este pode acabar sentindo que a culpa é dele, o que lhe pode causar profunda tristeza e até fazer com que ele desenvolva algum tipo de depressão.
A confiança e o respeito pelo adultero também são profundamente abalados. Isso inibe, especialmente nas mulheres, a capacidade de amar e honrar seus maridos, pois estes foram criados para serem o cabeça do lar. Se você não respeita alguém que te lidera, torna-se muito mais difícil se submeter a ele.
Por isso, você que é casado e ainda consome pornografia, precisa parar imediatamente, antes que isso destrua de vez o seu casamento e a sua família. E você que está solteiro, precisa ter a consciência de que se permitir que esse hábito permaneça na sua vida, ele certamente vai destruir o seu futuro casamento, arruinar a sua vida, traumatizar uma boa mulher e ferir os filhos que você, porventura, tenha. Pornografia é um veneno terrível e assassino. Corte o mal pela raiz.