Os Códigos da Torá
Em 1982, Avraham Oren, Professor de programação de computação que residia no Kibutz Sde Eliyahu, em Israel, percebeu uma anomalia no início do terceiro livro da Torá, Levítico. Oren estudava a Torá durante muitos anos, e, talvez, por causa de seu trabalho na área de programação, ele tinha uma intuição especial para os padrões. Algo no trecho de abertura em Levítico (Lev. 1-1: 13) chamou sua atenção.
A passagem descreve os sacrifícios realizados pelos Cohanim, mas não menciona em ponto algum Aaron, o primeiro Cohen Gadol e progenitor de todos os Cohanim. Quando o nome “Aaron” é mencionado no trecho, sempre o é em referência a alguém: “os filhos de Aaron”, por exemplo. Oren levanta a hipótese: “Trata-se de uma passagem em que Aaron deveria ser mencionado várias vezes. Contudo, ele não é mencionado abertamente no texto – nenhuma vez. Será possível que seu nome somente apareça no trecho de forma oculta?
Oren começou a pesquisar a passagem em busca do nome “Aaron” (composto por Alef, Hei, Reish e Nun) onde este aparecesse escrito com letras em intervalos eqüidistantes1. Seus resultados confirmaram suas suspeitas. Ele não apenas encontrou, nesse trecho, o nome “Aaron” escrita em seqüências equidistantes de letras (em inglês, equidistant letter sequences - ELSs), mas o encontrou 10 vezes! Como estudioso das Ciências Exatas, ele sabia que de acordo com a Teoria das Probabilidades, pode-se esperar encontrar em um texto hebraico daquele tamanho uma ou algumas vezes a palavra “Aaron” escrita como ELSs. Mas, 10 vezes ?? Seria aquilo um número inesperadamente grande de ocorrências? Oren não tinha suficiente conhecimento matemático para responder sozinho aquela pergunta. Portanto, levou a dúvida a um amigo, o Prof. Eliyahu Rips, do Instituto de Matemática da Universidade Hebraica de Jerusalém.
O Prof. Rips, que escapara da Lituânia sob domínio soviético e viera a Israel como um ateu, é tido em alta consideração por alguns dos mais proeminentes matemáticos do mundo. Rips é um teórico de grupo de classe mundial – um domínio esotérico que está na linha de frente tanto da Matemática Pura quanto da Física Teórica.
Oren partilhou suas descobertas com o Prof. Rips, que levou o trecho do Levítico e deu a um colega para o digitalizar. Rodaram então um programa para encontrar no trecho todas as ELSs com o nome “Aaron”. Assim, assegurariam não apenas que os achados de Oren estavam corretos, mas também encontrariam alguma que lhe tivesse escapado. Quando o Prof. Rips recebeu os resultados, ele ficou boquiaberto com o número de vezes em que aparecia a palavra Aaron. Eram 25, e não apenas 10, como encontrara Oren. No trecho de 716 letras, há 55 Alefs, 91 Heis, 55 Reishs e 47 Nuns. No caso de uma distribuição randômica dessas letras, um estatístico esperaria deparar-se com 8 encontros ELS da palavra Aaron. A probabilidade de que o nome “Aaron” aparecesse coincidentemente 25 vezes é de cerca de 1 em 400 mil vezes. Isto significa que é quase certo de que o nome do primeiro Cohen Gadol foi deliberadamente criptografado no trecho de abertura do terceiro livro da Torá, que descreve o serviço dos sacrifícios realizados pelos Cohanim.
O Prof. Daniel Michaelson, um perito nos códigos da Torá e ex-professor de Matemática na conceituada Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), observou que um lingüista da língua hebraica poderia contestar os resultados do “código de Aaron” demonstrando que na Bíblia judaica as quatro letras que formam a palavra Aaron – Alef, Hei, Reish e Nun – são correlacionadas entre si. Isto significa que num texto bíblico, essas quatro letras aparecem juntas mais vezes do que se imagina. Talvez isso explique por que a palavra Aaron apareceu codificada tantas vezes no trecho de abertura do Livro de Levítico. Assim sendo, para garantir que o código de Aaron tivesse significado genuinamente estatístico, realizou-se outro experimento. Todas as 24 permutações possíveis com as quatro letras hebraicas que formam a palavra Aaron foram identificadas e contadas. Se o fenômeno se deveu à correlação entre as letras, poder-se-ia esperar encontrar, nesse mesmo trecho, muitas outras combinações dessas quatro letras, em intervalos equidistantes de letras. A experiência foi realizada e os resultados foram ainda mais surpreendentes. Foi apenas o nome de Aaron que surgiu 25 vezes. As outras permutações, tais como Hei, Reish, Nun, Alef, apareceram entre 5 e 11 vezes – bem dentro do que era esperado, estatisticamente. Ao que tudo indica, apenas o nome de Aaron – e não as combinações das letras que compõem o seu nome – foram codificadas nesse trecho da Torá. A probabilidade de que esse fenômeno tenha sido uma coincidência, e não deliberadamente criptografado no texto, é ínfima. Se, através de busca randômica, quiséssemos encontrar outro trecho de tamanho comparável, contendo 25 ocorrências de uma palavra que fosse encontrada apenas 8 vezes em sequências equidistantes de letras, a pessoa teria que procurar cerca de 400 mil páginas de texto.
O código de Aaron estimulou o Prof. Rips – ateu declarado que, na época, só acreditava em números – a pesquisar se o fenômeno dos códigos da Torá era autêntico. Portanto, rodou o código de Aaron em um texto hebraico selecionado arbitrariamente, não obtendo resultados estatísticos significativos. Ele, então, submeteu o código a um teste de fogo: digitou no computador o trecho do Levítico 1:1-13 tirado da Torá dos Samaritanos, e repetiu a experiência.
Os samaritanos viveram em Eretz Israel há milênios, e, apesar de não serem judeus, adotaram a sua Torá. Mas, como careciam de uma tradição de escribas tão rigorosa como a dos judeus, sua Torá nunca foi tão precisa como a nossa. Há cerca de 6.000 diferenças entre as letras da Torá dos samaritanos (que também é escrita em hebraico) e a nossa, autêntica. Os samaritanos acreditavam que as letras exatas da Torá tinham pouca importância se comparadas ao significado das palavras e, portanto, há palavras adicionais, palavras que faltam, e formas alternadas de grifar as palavras em sua Torá. Mas o conteúdo da Torá Samaritana e da nossa Torá é praticamente idêntico; as diferenças residem na forma de sua grafia. Quando o Prof. Rips testou o código de Aaron na mesma porção do Levítico da Torá Samaritana, não encontrou resultados significativos. Não havia código de Aaron em um texto muito semelhante à nossa própria Torá.
O Prof. Rips buscou outros códigos na Torá. Ele levantou a hipótese de que outros códigos significativos poderiam estar agrupados em torno da aparência explícita dessas mesmas palavras nos Cinco Livros de Moshé. Sua hipótese foi comprovada: ele descobriu uma enorme quantidade desses códigos na Torá. Exemplificando: um trecho no início do Livro de Gênese que discorre sobre o Jardim do Éden (Gênese 2: 4-17). O número de letras nesse trecho é de 657. O número esperado de vezes em que “Éden” deveria aparecer nessa passagem, em intervalos equidistantes de letras, é 13,6. Prof. Rips encontrou a palavra “Éden” codificada 20 vezes nesse trecho. As chances disto ser uma coincidência são de 1 em 1000.
O Prof. Rips e um número crescente de pessoas que ficaram intrigados com os resultados encontraram uma quantidade enorme de códigos nos quais a palavra que representava o tema de um trecho (tal como “Éden” na descrição do Jardim) encontrou eco em um cluster gigantesco de ocorrências codificadas da mesma palavra naquele trecho. A probabilidade matemática de que esses códigos fossem coincidência era extremamente pequena. Uma amostragem desses resultados foi publicada pelo Prof. Daniel Michaelson (o professor da UCLA acima mencionado), anteriormente um auto-declarado ateu, que inicialmente via o fenômeno dos códigos da Torá com grande ceticismo, mas que posteriormente viu que a evidência era muito óbvia e poderosa para ser descartada. Ele ficou convencido de que os códigos eram uma realidade, e ele e o Prof. Rips viraram judeus praticantes.
Outros famosos cientistas também se juntaram à pesquisa do Prof. Rips sobre os códigos da Torá. Um deles foi Doron Witztum, um aluno de Física, em Israel, que acabara de terminar sua tese de mestrado sobre a relatividade geral. Witztum tornou-se um dos mais destacados pesquisadores sobre códigos da Torá no mundo, evidenciando sua validade. Outro pesquisador a juntar-se à equipe de pesquisa sobre o intrigante tema foi um brilhante jovem cientista da computação, Yoav Rosenberg, que tinha formação em técnicas matemáticas avançadas que lhe foram úteis para diferenciar códigos estatisticamente significativos, de interessantes padrões de palavras que pareciam estar criptografados, mas que eram meras coincidências.
Os cientistas que investigavam o fenômeno dos códigos da Torá empregavam métodos cada vez mais sofisticados para certificar-se de que o fenômeno era verdadeiro. Suas constatações foram ainda mais dramáticas: as probabilidades de que os códigos desvendados fossem todos uma enorme coincidência eram astronômicas. Era possível – eles se perguntavam – que esses códigos, esses grupamentos de palavras separados a distâncias mínimas, fossem encontrados em outros textos hebraicos? Eles realizaram testes em outros textos, mas os códigos pareciam ser restritos à Torá...
Até então, os códigos encontrados eram um fenômeno puramente estatístico – fascinantes, mas sem significado extraordinário. Os códigos confirmavam o que o judaísmo sempre defendera: que cada letra da Torá tinha sua importância – de que há um propósito para a existência e o lugar onde é colocada cada uma delas. Mas, o que mais significavam esses códigos, e o que transmitiam? Que a Torá foi escrita por um Codificador Supremo? Será que um cluster com o nome de Aaron num trecho sobre ele teria sido colocado nesse lugar por um autor humano extraordinário, que fosse, ao mesmo tempo, um gênio matemático? Certamente, um fenômeno interessante, mas nada mais do que isso.
O nome “Aaron” foi encontrado no trecho de abertura do Livro de Levítico, mas Aaron e seu irmão Moshé foram os líderes da geração de judeus que receberam a Torá. Talvez Moshé tenha sido um Mestre Codificador e tenha criptografado o nome de seu querido irmão no trecho de abertura do Livro que discorre sobre o serviço dos Cohanim.
Mas, e se os códigos encontrados na Torá transmitissem informações altamente específicas sobre pessoas que viveram não quando a Torá foi recebida, mas sobre as que viveriam centenas e milhares de anos mais tarde? E se a Ciência, operando de acordo a padrões estritos de evidências demonstrassem que quem quer que tenha escrito a Torá tinha conhecimento não apenas sobre as pessoas que viveram na geração de Moshé e Aaron, mas também informações precisas sobre a vida de grandes Sábios judeus que somente viveram milênios após a Torá ter sido escrita?
O surgimento dos códigos da Torá
No artigo desta edição, “A Matriz do Universo”, vimos que a Torá não é meramente a essência do judaísmo, mas a própria planta da Criação – o Código de todos os códigos. Citamos nossos livros sagrados, bem como os Sábios e os Cabalistas, que revelam que as letras da Torá contêm informações criptografadas, e fornecemos um exemplo simplificado, através do “Código Israel” encontrado no texto do Kidush, de como um código pode ser desvendado por meio de sequências equidistantes de letras.
Mas, antes do advento dos computadores e de sofisticadas ferramentas matemáticas, a idéia de que a Torá é a planta da Criação tinha que ser aceita somente pela fé. Sempre foi possível provar que a Torá tem origem Divina, mas, sem as ferramentas apropriadas, não há como provar que seja a matriz de toda a existência. Talvez seja por isso que o fenômeno dos códigos da Torá tenha sido mencionado apenas de passagem pelos comentaristas judeus da Idade Média.
Este tópico se popularizou após a 2a. Guerra Mundial, devido ao empenho do Rabi Chaim Michael Dov Weissmandl (1903-1957), sobrevivente húngaro do Holocausto, que foi instrumental para retardar ao máximo a deportação dos judeus da Eslováquia, durante a guerra.
Prodígio tanto no Talmud quanto na Matemática, o Rabi Weissmandl empacou numa referência a um código, encontrado no Livro de Gênese, que fora mencionado por Rabenu Bachya, um de nossos maiores Sábios, que viveu no século 13. Rabenu Bachya descreveu um método de pular intervalos iguais de letras para desvendar informações divinamente ordenadas que estavam embutidas dentro da Torá. O método de saltar um número idêntico de letras em um texto para descobrir informações criptografadas – códigos conhecidos como seqüências equidistantes de letras – é descrito no artigo “A Matriz do Universo”.
Seguindo as pistas deixadas por Rabenu Bachya, o Rabi Weissmandl empreendeu sua própria investigação do fenômeno dos códigos da Torá e ficou convencido de que era um fenômeno real. Quando a guerra terminou, o Rabi Weissmandl emigrou para os Estados Unidos, onde continuou a desvendar as informações que foram criptografadas nas letras da Torá. Ele e seus alunos detectaram padrões interessantes de palavras codificadas em seqüências de intervalos de letras. Mas, buscar manualmente informações codificadas seria um trabalho extremamente laborioso. Ademais, mesmo quando eles se deparavam com algo que parecia significativo, eles não conseguiam provar que não se tratava de simples coincidência – um padrão de palavras que se poderia encontrar em qualquer texto. O Rabino encontrou muitos exemplos de padrões fascinantes na Torá e se convenceu de que o fenômeno era real. Mas, faltavam-lhe as ferramentas para o provar.
O experimento dos Grandes Sábios
Em 1989, Doron Witztum publicou um livro em hebraico intitulado HaMaimod HaNosaf (A Dimensão Adicional), que apresentou cerca de 200 grupos de códigos da Torá. Havia algo de surpreendente acerca da maioria desses códigos: eles não eram grupamentos, como no código de Aaron que vimos acima, mas termos que eram correlacionados por circunstâncias históricas: o nome da pessoa, por exemplo, e a data e local de eventos críticos em sua vida, tais como as datas e locais de seu nascimento e morte. Tais códigos não eram simplesmente padrões de significado estatístico; eles transmitiam informações que não existiam até muito depois da Torá ter sido compilada. Um codificador supremo, um gênio matemático poderia ter criptografado um cluster de “Édens” no trecho referente ao Jardim do Éden. Mas, quem poderia ter embutido grupamentos de palavras acerca de pessoas que viveram milênios após a Torá ter sido escrita? Somente alguém que fosse Onisciente - alguém que conhecesse em detalhes perfeitos e completos o que iria acontecer no decorrer da História.
Witztum e Rips tinham ciência de que aquela descoberta era bem diferente do que a mera descoberta de códigos interessantes na Torá. Aquilo certamente geraria uma polêmica extraordinária. Os céticos os acusariam de ter manipulados os dados – de ter bolado algum tipo de truque estatístico – de modo a gerar aqueles achados tão fantásticos. E, portanto, um rigor ainda maior seria necessário para convencer esses céticos de que o fenômeno era genuíno. Ambos os pesquisadores começaram a trabalhar em um experimento que iria ser publicado em uma conceituada publicação científica, a Statistical Science.
Em agosto de 1994, após um intenso debate que durou seis anos, a prestigiosa revista Statistical Science, publicada e referendada pelo Instituto de Ciências Matemáticas, publicou um artigo de autoria de Witztum, Rips e Rosenberg, intitulado “Seqüências Eqüidistantes de Letras no Livro de Gênese”. Levou seis anos para que a revista publicasse a matéria, pois suas implicações eram extremamente controversas. O resumo, no topo do artigo, no linguajar tipicamente seco dos cientistas, mal dava alguma indicação das surpreendentes descobertas e implicações de seu conteúdo. Esse excerto dizia: “Percebeu-se que quando o Livro de Gênese é escrito na forma de dois grupos bidimensionais, aparecem, em grande proximidade, seqüências equidistantes de letras formando palavras com significado correlato. Foram desenvolvidas ferramentas quantitativas para mensurar este fenômeno. A análise randomizada demonstra que o efeito é significativo no nível de 0,00002”. Explicando este número: o nível impactante significava que as chances eram inferiores a 1 em 50.000 de que o fenômeno que estava sendo descrito fosse mera coincidência. No próprio trabalho, as probabilidades foram reportadas mais precisamente como sendo inferiores a 1 em 62.500.
A maioria das revistas científicas aceita para publicação trabalhos cujas hipóteses são homologadas em um nível de significância de 0,05 – uma probabilidade de 1 em 20 de que os resultados aconteçam por acaso. Como o caso do fenômeno dos códigos da Torá era tão intrigante, e suas implicações tão monumentais, os editores e juízes na revista Statistical Science recusaram-se a publicar o artigo a menos que houvesse menos do que uma probabilidade de 1 em 1.000 de que os resultados fossem uma coincidência. Os resultados ultrapassaram este número em mais de 60 vezes!
Robert Kass, PhD, editor da revista Statistical Science, fez o seguinte comentário sobre o artigo: “Nossos juízes ficaram boquiabertos; tudo aquilo em que acreditavam, faziam-nos pensar que o Livro de Gênese não poderia conter, de forma alguma, referências significativas aos indivíduos dos nossos dias; mas, ainda assim, quando esses autores realizaram análises adicionais e verificações, os efeitos persistiam. O trabalho foi, então, publicado e oferecido aos leitores da revista Statistical Science como um intrigante quebra-cabeças”.
Antes de ser publicado, o artigo passou por vários escrutínios críticos, “análises e verificações adicionais”, nas palavras de Robert Kass. Para verificar se o fenômeno aparecia apenas na Torá, realizaram um procedimento idêntico nos seguintes textos: uma tradução do hebraico de um trecho do mesmo tamanho que o Gênese, do início da obra “Guerra e Paz”; antigos textos hebraicos, tais como a versão de Gênese da Torá Samaritana, e o Livro de Isaías. É importante observar que, diferentemente dos Cinco Livros de Moshé, que foram escritos por D’us, o Livro de Isaías e os outros livros do Tanach foram escritos pelos profetas. Somente os Livros de Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio foram ditados por D’us, letra por letra.
Os pesquisadores também fizerem testes randomizados no Livro de Gênese misturando todas as suas letras pelo texto inteiro. Com isso queriam testar se os códigos apareceriam mesmo se a colocação de suas letras fosse alterada. Outro teste: o Livro de Gênese foi randomizado e misturado, não suas letras, mas todas as suas palavras dentro dos versos, enquanto a estrutura dos versos ficava intacta e as letras de cada palavra, intactas. Por fim, o Livro de Gênese foi randomizado através da mistura de todos os seus versos, deixando a sequência de palavras dentro de verso, intacta.
Os resultados: em nenhum desses textos-controle foram encontrados códigos com grande significado estatístico. Os códigos não apareciam em nenhum outro texto hebraico e, se os versos, palavras ou letras da Torá fossem misturados, eles desapareciam. Os códigos apenas apareciam no Livro de Gênese se não se mexesse nas letras. Os resultados estatísticos encontrados em outras obras hebraicas ou em um Livro de Gênese misturado foram indistingüíveis do que teria ocorrido simplesmente em virtude do acaso. Somente no Livro de Gênese encontrou-se um resultado estatisticamente significativo – de fato, extremamente significativo – uma probabilidade de 1 em 62.500.
O que tornou esses resultados ainda mais surpreendentes foi o fato de que os conjuntos de dados usados por Witztum, Rips e Rosenberg foram de uma lista de 32 Sábios e suas datas de nascimento ou morte. Os resultados não levaram em consideração os resultados de outros 34 Sábios que os cientistas tinham encontrado em experimentos anteriores e que foram deixados de fora, como precaução contra a possibilidade de que os autores tivessem moldado os primeiros conjuntos de dados para potencializar os resultados.
Para evitar qualquer acusação de que os dados tivessem sido manipulados, especialmente à luz das implicações extremamente controvertidas do artigo, testou-se um novo conjunto de dados. Foi realizado um novo experimento para evitar o que se conhece em Estatística como a Falácia de Texas Sharpshooter. Tal falácia recebeu seu nome pensando-se em um cowboy que esteja atirando a esmo em um celeiro. Com o tempo, a parte lateral do celeiro fica toda esburacada, devido a todos os furos das balas. Em alguns lugares, há muitos furos; em outros, há menos. Se o cowboy, depois, pintar um alvo no local onde ficaram agrupados a maioria dos tiros, vai dar a impressão de que ele é um excelente atirador, pois estará colocando uma ordem artificial sobre uma chance randômica natural. Por outro lado, se o cowboy pintar um alvo em um celeiro e alegar que ele conseguirá mirar 100 tiros certeiros dentro dele, e, de fato, cada um dos seus tiros aterrissarem certeiramente dentro do alvo, então ele é, de fato, um grande atirador.
Se um estatístico tivesse que procurar milhões de páginas de um texto hebraico, ele iria, mais cedo ou mais tarde, encontrar padrões bem interessantes de palavras. Isto não significa que se trata de códigos que foram propositalmente criptografados nesses textos. De modo semelhante, se um atirador ruim atirar mil vezes num celeiro, é inevitável que muitos dos tiros aterrissem próximos uns dos outros. Isso não faria do homem um atirador de calibre.
Antes de publicar o artigo sobre os códigos da Torá, a revista Statistical Science disse basicamente o seguinte aos pesquisadores israelenses: “Vocês alegam ter descoberto códigos de importância estatística no Livro de Gênese. Mas, nós não acompanhamos sua pesquisa. Vocês são como o cowboy que nos mostra um alvo com muitos furos de balas em seu centro. Mas o que veio primeiro: o alvo ou os furos de bala? Para termos certeza, nós, da revista Statistical Science, pintaremos um novo alvo e observaremos vocês enquanto dão tiros no alvo”.
Em outras palavras, se o Livro de Gênese contém informações criptografadas sobre os Sábios, seria muito suspeito se contivesse apenas sobre os 34 que os pesquisadores encontraram. Portanto, para provar que os resultados não foram manipulados, os cientistas israelenses rodaram o mesmo experimento, desta vez com novos dados. Para surpresa dos editores e juízes da Statistical Science, os novos dados, referentes a informações sobre a vida de 32 outros Sábios judeus, comprovou ter significado estatístico. Ficou esclarecido que os dados originais não haviam sido manipulados, obviamente. O fenômeno tinha grande significado estatístico e o artigo que o detalhava foi publicado a despeito de suas extremamente controvertidas implicações.
Os códigos da Torá são corroborados
O fenômeno dos códigos da Torá logo começou a se espalhar pelo mundo durante os “Seminários Discovery”, organizados pela organização Aish HaTorah, bem como através de relatórios em apresentações formais feitas por vários pesquisadores na Academia de Ciências de Israel e em universidades israelenses.
Até que o fenômeno dos códigos da Torá acabou chamando a atenção de cientistas e matemáticos de renome. Dois deles foram Andrew Goldfinger, físico sênior da Johns Hopkins University, e Harold Gans, matemático e criptólogo sênior da Agência de Segurança Nacional (do Ministério da Defesa dos EUA) – a agência que mais emprega matemáticos, no mundo. O Dr. Gans escreveu mais de 180 trabalhos – ganhou o disputado Prêmio de Mérito por Serviços Civis por ter liderado uma equipe de matemáticos, criptoanalistas, programadores analistas e engenheiros para solucionar um problema de alta prioridade considerado virtualmente impenetrável.
De forma sucinta, o Dr. Gans é um dos peritos mais famosos do mundo em quebrar códigos. Ele é um gênio matemático cujo trabalho é desvendar códigos altamente avançados e discernir um código verdadeiro – uma encriptação proposital – das coincidências, independentemente de quão improváveis possam ser.
Apesar de ser um judeu praticante, quando o Dr. Gans ouviu, pela primeira vez, acerca do fenômeno dos códigos da Torá, ele o desmentiu. “Tudo me soava tão improvável que eu nem pensei duas vezes, e logo o desacreditei”.
Ele costuma contar como se envolveu com o fenômeno dos códigos da Torá. Ele e seu amigo, o Dr. Andrew Goldfinger, participaram de um seminário “Discovery” organizado pelo Aish HaTorah, com o propósito de desmascarar o que acreditava serem alegações ridículas. Como relata o Dr. Gans: “Cada vez que o rapaz que fazia a apresentação dos “códigos” mostrava algum achado interessante, nós rodávamos um rápido cálculo das probabilidades, em um computador. Desnecessário dizer, o coitado do homem já estava um pouco abalado. Toda vez ele dizia: ‘Olhem: diabetes!’ ou ‘Olhem! Chanucá!’ Andy e eu nos entreolhamos – não, aquilo não nos convencia. Aquele troço claramente não colava. Dissemos a ele: 'Anda logo, mostra alguma coisa real'. O homem estava ficando nervoso – até que ele nos mostrou um experimento controlado e científico sobre os códigos. Dessa vez, Andy e eu nos entreolhamos de forma totalmente diferente. Tratava-se de material no qual dava para nos afundarmos de unhas e dentes.
Após o término do seminário, eu pedi ao homem um rascunho do trabalho e estava preparado para dar um fim ao assunto, de uma vez por todas. Mas, aí foi a minha vez de ficar meio abalado. Levei algumas horas para fazer todos os cálculos matemáticos. Não encontrei um errinho sequer. Chamei meu amigo, super inteligente, Andy, e lhe perguntei: ‘E aí, encontrou algum erro?' Não, ele tampouco conseguira encontrar erro algum. A seguir, voltei ao programa Discovery e disse: 'Eu quero os dados'. Se ele me desse os dados, ao menos eu saberia que estavam sendo honestos sobre todo esse assunto, pois com os dados eu poderia checar tudo a meu modo. Três meses mais tarde, recebi uma ligação de que um rapaz estava chegando de Israel com um disquete para mim. Rodei o disquete no meu computador e obtive os mesmíssimos resultados. Senti um frio na espinha. Não acreditei até que vi com meus próprios olhos. E foi assim que me envolvi nesse assunto”.
O trabalho científico entregue ao Dr. Gans foi o experimento dos Grandes Sábios. Para corroborar os resultados, o Dr. Gans repetiu o experimento original de Wiztum, Rips e Rosenberg, mas ele avaliou seu significado estatístico utilizando uma técnica diferente. Os resultados, segundo ele reportou, estavam num nível de significado de 1/143.000.
O Dr. Gans a seguir tomou os nomes de todos os 66 Grandes Sábios da primeira lista de 34 indivíduos e da segunda lista de 32 nomes. Ele emparelhou todos os 66 nomes com suas cidades de nascimento ou morte. Esse experimento teve um propósito duplo: primeiro, testou o fenômeno da primeira lista dos Grandes Sábios, que, como mencionado acima, não foi publicada na revista Statistical Science; segundo, testou um novo conjunto de pares históricos. Os resultados do Dr. Gans foram surpreendentes: a possibilidade de ser uma coincidência era de 1 em 200.000.
O significado dos códigos da Torá
O fenômeno dos códigos da Torá, sua metodologia, significado e ramificações estão muito além do escopo deste trabalho. O que queremos deixar claro, aqui, é que tais códigos foram encontrados apenas nos Cinco Livros da Torá, que, segundo a tradição judaica, foram escritos, letra por letra, por D’us. Não há evidência de que há tais códigos em quaisquer outros livros do Tanach (a Bíblia judaica), que foram escritos por inspiração Divina, mas não pelo Criador.
De fato, mesmo se não considerássemos a natureza profética dos códigos dos Grandes Sábios, está muito claro que os Cinco Livros de Moshé não são de autoria de um ser humano. A quantidade de informações codificados dentro de um texto finito usando-se a mesma configuração de letras para incorporar múltiplos significados está além da capacidade de qualquer ser humano ou grupo de pessoas. Em uma entrevista, em 1996, a um jornal, o Prof. David Kazhdan, chefe do Departamento de Matemática de Harvard, declarou: “O fenômeno dos códigos da Torá é real; o que significam cabe a cada pessoa decidir”.
O que significa para nós, judeus, é que esses códigos corroboram aquilo que nosso povo alegou através dos tempos: o fato de que há um Ser Onisciente que está além do tempo e do espaço – de fato, além de tudo – que criou tudo o que existe e que, há três milênios, Se revelou a nosso povo no Monte Sinai e que nos deu a Sua Torá, que Ele próprio escreveu, e que é a planta de toda a criação e a matriz de toda a existência. Muitos alegam não acreditar em D’us porque não há prova científica de Sua existência ou de que a Torá – que é a base de todas as religiões monoteístas – seja verdadeira. Na verdade, há evidência matemática extremamente significativa de que D’us existe e de que Ele escreveu a Torá. Há muitas outras fontes de evidência de que a Torá é Divina, mas os códigos da Torá são particularmente significativos porque a Matemática, sendo uma Ciência exata, é considerada mais confiável do que a História e a Arqueologia.
George Gallup, renomado estatístico e fundador do Instituto Gallup de Pesquisas, estava certo ao dizer: “Eu poderia provar D’us estatisticamente”. Não que o Criador do Universo, Uno e Única Realidade precisasse provar-nos Sua existência. Pelo contrário, nós precisamos saber e ser lembrados, de tempos em tempos, de que o mundo tem um Criador e um Mandante, e que Ele nos deu a Torá, Sua Vontade e Sua Sabedoria, para que nós pudéssemos construir nossa vida e Seu Mundo segundo Sua Vontade.
Bibliografia
Satinover, Jeffrey, M.D., Cracking the Bible Code, William Morrow and Company, Inc.
The Chumash - The Stone Edition - Artscroll Series - Mesorah Publications, Ltd.
http://torahcode.us