O doador
Dentre todas as pessoas do mundo, com certeza existem algumas que nos parecem mais merecedoras do nosso respeito do que outras. Seja pelo que seja: por sua generosidade, sua fluidez na prática do amor fraternal, ou pela disponibilidade para fazer o que estiver ao seu alcance e às vezes até acima disso. Essas são pessoas de referência, imprescindíveis em um mundo marcado pelo egoísmo, egocentrismo e individualismo. A verdade é que, tirando essas pessoas, ninguém quer saber de ninguém. A máxima decantada é “cada um por si e Deus por todos”.
Um bom exemplo bíblico desse desinteresse fraternal do ser humano é o caso de Caim e Abel. Todos sabemos que Caim matou Abel. E logo depois de ter ele cometido esse homicídio, o Senhor lhe apareceu e perguntou: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? Gênesis 4:9.
Que atitude triste a desse moço, não é verdade! Mas a resposta à pergunta de Caim a Deus é: Sim! Sim, meus queridos! Nós somos, ou pelo menos deveríamos ser os guardadores de nossos irmãos. É nosso dever mandamental. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39) é o segundo grande mandamento, nas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ainda que seja de nossa índole o ato de lutar por nossa independência, a verdade é que “ninguém é uma ilha”. Desde o nosso nascer até o nosso morrer, sempre estaremos precisando dos cuidados e dos préstimos de outrem, seja direta ou indiretamente. Nós não produzimos a maioria das coisas que precisamos para assegurar a nossa subsistência e precisamos ser servidos nelas por outras pessoas. E melhor seria que, bem servidos, também fôssemos bem agradecidos. A pergunta de Jesus ao leproso curado e bem agradecido vive sempre martelando na minha mente e me mostrando o caminho a seguir: “Não foram dez os limpos? E onde estão os nove?” (Lc 17:17).
É dando que se recebe. Todos nós deveríamos nos acostumar a dar, para que também possamos receber quando viermos a precisar. “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”. Lucas 6:38. Essa é uma recomendação de Jesus que vale a pena seguir, porque quando a gente se acostuma a fazer doações, a gente percebe que o doar é um tanto quanto melhor do que o receber.
E o bom da doação, meus queridos, é que sempre tem alguém precisando de alguma coisa que nós temos e que não nos faria falta se doássemos. Como nosso tempo é curto, vamos começar logo pegando pesado: doação de órgãos humanos. É sabido, por exemplo, que rim e fígado podem ser doados sem nenhum problema para o doador. Todas as pessoas podem viver com apenas um rim. E no caso do fígado? Quem responde é o cirurgião Luiz Gustavo Dias, o qual declarou ao programa Bem Estar, da Rede Globo, do dia 01/10/2014: “Para fazer o transplante de fígado, é removido cerca de 40% do órgão do doador pelo lado esquerdo, que fica mais próximo do estômago. Essa parte é colocada no receptor e, tanto o fígado de um quanto o de outro crescem e se recuperam, ficando mais ou menos com o mesmo volume de antes”. Desse modo, ninguém precisaria ficar sofrendo com problemas nos rins e no fígado, se as pessoas, de um modo geral, fossem mais generosas e amorosas umas com as outras. Mas, infelizmente, não é assim. O que prevalece ainda é o desamor, o que é realmente uma pena.
Continuando nessa questão de doar, merece destaque a doação de sangue. Nesse caso, é de esclarecer que a reposição do volume de plasma ocorre em 24 horas e a dos glóbulos vermelhos em 4 semanas. Entretanto, para o organismo atingir o mesmo nível de estoque de ferro que apresentava antes da doação, são necessárias 8 semanas para os homens e 12 semanas para as mulheres. Esses são os intervalos mínimos entre as duas doações de sangue.
E por aí vai. O que é de se saber é que o número de doadores, embora tenha crescido bastante, ainda é pequeno diante das necessidades. Segundo o Ministério da Saúde, de cada cinco transplantes realizados no Brasil, apenas um é doado por uma pessoa viva. Isso está bom? Não vamos dizer que não esteja, mas poderia estar melhor, se cada um de nós fosse mais generoso e misericordioso com o nosso próximo. Jesus disse: “Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso”. Lucas 6:36. Ele não disse por dizer. Disse para ser seguido. “Eu vos dei o exemplo”, ele disse certa vez. “Assim como eu fiz a vós, façais também uns aos outros” (João 13:15).
Se você pode ser um doador, não se furte em sê-lo. Ame seu próximo. Seu gesto não passará despercebido pelo Senhor das Almas, ainda que possa ser ignorado por todos os demais.
Os doadores, de um modo geral, são pessoas de referência. Alguns dos beneficiários são eternamente gratos. Outros ignoram e logo cospem no prato que comeu. Mas mesmo assim, se pudermos estender a mão ao nosso semelhante, não deixemos de fazê-lo. Quando pensarmos nesse assunto, vamos nos lembrar da pessoa de referência mais importante de nossa vida: Jesus. A sua alegria era que estivéssemos com Ele por toda a eternidade. Ao se despedir de seus discípulos, Ele disse: “Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”. João 14:2, 3.
E foi assim que aconteceu. Ele se deixou prender, ser castigado e morrer crucificado para nos resgatar da morte eterna a que nossos pecados nos encaminhavam. Portanto, meus queridos, não temam ser doadores, não temam ser cuidadores e guardadores de seus irmãos. Quem nunca doou, comece a doar e quem já doou, não pare de doar. Vamos em frente, prosseguindo animados e de cabeça erguida em fazer o bem, “olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hebreus 12:2). Além do fato de que você será uma pessoa de referência aqui na Terra, com certeza, seu nome também será um dia o de uma pessoa de referência lá no Céu.
Que Deus nos abençoe!