AO DEUS AINDA DESCONHECIDO

O livro dos Atos do Apóstolos, em seu capítulo 17, traz o registro de um feito maravilhoso realizado pelo Senhor através da vida do apóstolo Paulo. Aliás, através da vida deste apóstolo, o Senhor fez coisas maravilhosas.

Conta-nos as Sagradas Escrituras que certo dia o apóstolo dos gentios chegou em um determinado lugar, onde seu espírito ficou comovido ao ver quão grande era a idolatria que havia tomado conta daquele lugar.

A cidade era Atenas, capital da Grécia, cidade onde muitos dos sábios daquela época, e que são estudados e reverenciados até hoje, nasceram. De fato, a Grécia é reconhecida até os dias atuais como sendo um dos lugares do berço da filosofia. Indivíduos que aos olhos do Mundo eram tidos como eruditos, grandes conhecedores das ciências humanas, mas pobres analfabetos quando se trata do único conhecimento que tem valor para a vida eterna: a Palavra de Deus.

Naquele lugar não havia apenas gregos, mas também outros religiosos e judeus, de sorte que Paulo disputava com eles todos os dias na praça (At. 17:17). Ou seja, Paulo argumentava com eles, pois fora ali para pregar a mensagem do Evangelho.

Qual não era a luta do apóstolo Paulo em disputar contra tão vasta gama de contendedores. É que apesar de serem muitos, e dos mais variados locais, eles também detinham aprofundados conhecimentos. Os gregos eram idólatras, e mantinham acesa a chama de sua mitologia, onde deuses, semideuses e toda sorte de seres mitológicos eram tidos como reais, e não apenas como mito ou simplesmente lendas (apesar de não serem sinônimas, as palavras “mito” e “lenda” elas têm em comum o fato de serem narrativas utilizadas para explicar algo que não se poderia compreender naturalmente. As “lendas” são narrativas que têm por objeto algo sobrenatural e folclórico (lobisomem, etc). Já o “mito” é a narrativa que visa explicar algum fenômeno natural incompreensível mediante o uso do elementos sobrenatural (o Sol ser dito como uma divindade).

Hoje chamamos de mitologia o que para os gregos daquela época era pura religião. Além de terem suas mentes inundadas pelas fábulas mitológicas, as quais eles dominavam sobremaneira, os gregos também eram famosos por seus discursos e poder de argumentação, a tal ponto que as defesas jurídicas e discursos de Cícero são lidas e estudas até hoje.

Não era nada fácil disputar em argumentação e sustentar qualquer tese contra os gregos. Os gregos era um povo formados por homens que seguiam várias linhas de pensamento. Eram divididos, dentre outros, entre epicureus e estoicos. Em linhas gerais podemos dizer que os epicureus defendiam a tese de que o homem deveria sempre buscar a felicidade e o prazer, enquanto os estoicos afirmavam que o homem deveria aceitar seu destino.

Então já se observa que ambas estes correntes de pensamento filosófico são totalmente contrárias aos ensinos de Cristo, os quais Paulo estava pregando e defendo contra os ataques de todos aqueles homens versados na oratória. Nem a busca pelo prazer dos epicureus, nem aceitar seu destino como ensinava o estoicos, o Evangelho nos ensina que devemos levar nossa cruz bem como também ser plenamente possível a mudança de vida pelo novo nascimento.

Havia também uma grande quantidade de outros religiosos que defendiam suas seitas, na tentativa de sempre fazer mais um prosélito para seu rebanho. Acredito que muitos romanos e egípcios, dentre outros, com suas crenças em divindades pagãs, bem como em seus sistemas religiosos já firmados a séculos, e que se encontravam impregnados em seus pensamentos, criados raízes em seus corações.

Ainda havia o grupo dos judeus, dos quais o próprio Paulo um dia foi ferrenho defensor, até que um dia cansou de “dar murro em ponta de faca”, ou, como disse o próprio Jesus, cansou de recalcitrar contra os aguilhões. Os judeus eram obrigados a manter na ponta da língua toda a Lei do Antigo Testamento. E como se fosse pouco os fariseus se encarregaram de fermentar ainda mais o conjunto de Leis dadas por Deus a Moises. Os judeus possuíam não apenas grande conhecimento religioso, mas também inabalável convicção acerca da verdade sobre o Deus de Abraão. Claro que esta inabalável convicção não resistia a exposição do Evangelho de Jesus Cristo, cuja Palavra é martelo que esmiúça a penha.

Os judeus também tinham grandes professores e estudioso da Lei de Moisés. Não era nada fácil disputar teologicamente contra os tais. Os seus “doutores da lei” de fato eram conhecedores do Velho Pacto. Muitos deles, que eram responsáveis por fazer cópias da Lei, passavam vários anos transcrevendo todos os Livros do Velho Testamento, a tal ponto que conheciam letra por letra de tudo que havia escrito neles. De tal forma que, assim como os gregos eram versados no conhecimento da retórica, argumentação, mitologia e filosofia, os judeus eram mestres no conhecimento do Velho de Testamento.

Então o labor de Paulo não era pequeno. Disputar contra gregos, contra religiosos e contra judeus era tarefa árdua, semelhante a um lutador de arte marciais que tivesse de lutar contra vários outros lutadores de modalidades diferentes, e isso ao mesmo tampo.

Some-se ainda o tudo isso o fato de que a disputa travada entre Paulo todos estes opositores não era apenas para ele sair vitorioso em um debate retórico, nem muito menos em argumentos teológicos. A verdade é que Paulo tinha que derrubar a teses deles, e ainda expor a sua tese que não era outra senão o Evangelho de Jesus Cristo. Ou seja, o fim almejado não era vencer uma batalha argumentativa, mas sim ganhar as vidas dos tais ao cristianismo.

Noite e dia Paulo argumentava. Buscava a retórica para lutar contra os gregos. Busca os mais variados argumentos e fatos para lutar contra os de outras religiões. Busca as profecias do Velho Testamento acerca do Emanuel, para provar que Jesus Cristo era o Messias.

Imagine um pescador que usa ao mesmo tempo vários tipos de vara-de-pescar, uma para cada tipo de peixe. Além disso, como existe espécies de peixe que não são fisgadas por varas, ele também tem que lançar vários tipos de rede-de-pesca. Certamente o trabalho era cansativo ao extremo. Era esse o trabalho de Paulo, que queria levar aquelas pessoas a Cristo, que pertenciam as mais variadas regiões da Terra, e que tinham seus próprios fundamentos de crença.

O texto de Atos 17 ainda nos fornece uma outra informação acerca dos atenienses e estrangeiros residentes naquela cidade. É que eles não tinham qualquer ocupação senão de dizer e ouvir alguma novidade (v. 21). Uma forma eufemística de dizer que eles eram preguiçosos e fuxiqueiros.

Ao expor o Evangelho de Jesus Cristo, bem como a doutrina da ressurreição do corpo, aqueles que ouviam lhes chamavam de “paroleiro”. Ainda hoje o termo paroleiro na verdade é uma ofensa, que significa mentiroso, falador de bobagens, etc. Naquela época, o termo “paroleiro”, além de ter estes mesmos significados, também era o termo empregado para aquelas pessoas que memorizavam apenas parte de determinado conhecimento, e falavam em público apenas o que pouco que sabia, na intenção de demonstrar conhecimento. Ou seja, o paroleiro não tinha conhecimento profundo do que falava, pois memorizava alguns termos e palavras, na intenção de demonstrar grande conhecimento. Por exemplo, era como se alguém na tentativa de demonstrar ser um jurista, memorizasse apenas alguns artigos de lei, ou alguns poucos termos jurídicos. Era alguém que queria demonstrar um conhecimento que na verdade não possuía.

Apesar de lhe ofenderem, eles levaram Paulo ao Areópago. É que como diz o texto sagrado, eles não se ocupavam de outra coisa, a não ser de falar e ouvir alguma novidade (v. 21), e como o que Paulo estava pregando era novidade, então levaram-no para o Areópago. O termo Areópago, segundo alguns, significa “Campo de Marte”, era um local que servia de tribunal, onde o conselho se reunia para tratar de vários assuntos, etc.

O que chama atenção é que agora Paulo teve a oportunidade que queria, ou seja, ele tinha a atenção de todos para pregar o Evangelho. E ele não fez outra coisa. Pregou sobre Jesus Cristo.

Ele começa com uma técnica bastante interessante. Ao invés de criticar os atenienses por sua tão grande idolatria, que como diz o texto era tão grande que causou comoção no espírito de Paulo. Ou seja, não era pouca a idolatria que era praticada naquele local, de forma que ele poderia acusá-los desta prática abominável. Também Paulo poderia atacar o homossexualismo, por ser prática bastante comum e até mesmo louvável entre os gregos, mas que segundo a Bíblia também é algo abominável.

Mas ao invés de condenar suas práticas, o que apenas serviria para irarem-se contra ele e desperdiçar aquela oportunidade, Paulo, certamente inspirado pelo Espírito Santo, consegue “pegar um gancho” em algo que existia entre os atenienses. É que havia um altar ao Deus Desconhecido. Então ele se apresenta como alguém que fala de nome desse Desconhecido Deus.

A história sobre esse altar ao Deus Desconhecido fazia parte do cotidiano dos atenienses. Não se tratava de uma lenda nem de um mito, mas sim de um fato real, algo que aconteceu na história (e não “estória”) daquela cidade. Para não nos alongarmos, não detalharemos como este altar foi erigido ao Senhor, mas em decorrência de um grande mal que assolou os atenienses, estes ofereceram sacrifício a todas as divindades que conheciam. Mas nada fazia com que aquele mal chegasse ao fim. Então através de Epimênides eles erigiram um altar ao Senhor, que pôs um fim naquele mal. Em decorrência de determinado acontecimento na vida de Epimênides, este ficou ciente da existência do Senhor nosso Deus, mesmo que não soubesse quase nada acerca dEle, nem ao menos qual era o seu Nome, só sabia que Ele existia, e nada mais.

Porém como eles não sabiam o nome desse Deus, erigiram então um altar ao “Deus Desconhecido”. Na verdade era sim o Senhor Deus do Universo, pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que eles chamara de Deus Desconhecido (recomendo o livro “O Fator Melquisedeque”). Com o passar dos anos eles se esqueceram do que o Senhor fez por eles, e o Deus Desconhecido também se tronou o Deus Ignorado. Apenas o altar ficou erigido, resistindo ao tempo pois era feito com pedras.

Mas o que nos interessa é que através da pregação de Paulo o Deus Desconhecido se tornou conhecido por eles, e por todo o mundo, que ficou sabendo sobre Jesus Cristo.

Paulo enfim venceu a batalha, contra os gregos, contras outros de outras religiões, e contra os judeus, de sorte que muitos entregavam suas vidas a Jesus Cristo. Em Cristo não havia mais judeu nem grego, escravo ou livre, douro ou indouto, todos são um. Quando o Deus Desconhecido se torna Conhecido, o novo nascimento acontece, todos os pensamentos são transformados, os sonhos mudam, e nova vida é o que se vive.

A grande questão da Igreja de Cristo é tornar o Deus desconhecido, conhecido para todos. A missão da igreja é levar o conhecimento do Senhor a toda criatura. Ainda existe sim uma grande quantidade de religiões, falsos silogismos, mentiras, e etc., que a igreja tem que combater, para que se possa chegar no coração do pecador.

No entanto, o fato é que Deus ainda é desconhecido inclusive para muitos da sua própria Igreja. Seria cômico se não fosse trágico, pois como pode um lugar o qual é denominado como A Casa de Deus não conhecer o próprio Deus. Como pode o povo que se diz O Povo de Deus não conhecer o seu próprio Senhor.

O Deus Conhecido, vem se tornando desconhecido novamente.

Desde o Velho Testamento o Senhor já dizia que o Seu povo não lhe conhecia (Is. 1:3).

Todavia, infelizmente isso é a mais pura verdade. Tragicamente Deus tem se tornado um desconhecido para seu próprio povo. Ora, se a função da Igreja é fazer que o Mundo conheça o Senhor, e se essa Igreja não O conhece, então como vai tornar o Senhor conhecido, e mais, para que serve então a igreja? Ou seja, se a igreja tem a missão de fazer com que o pecador conheça o Senhor, porém ela também não O conhece, então a igreja não pode cumprir sua missão. Sendo assim, mais uma vez questionamos, para que então serve a igreja?

Hoje quando observamos certas pregações que são ministradas por indivíduos que se proclamam como pastores (ou bispos, apóstolos, patriarcas, etc.), constatamos então que de fato muitos que falam em Nome de Deus, sequer conhecem o Senhor. Pregam heresias que ferem os princípios da fé cristã, dizendo-se cristãos. Não conhecem a Deus, mas sequer sabem disso. São pregadores do Evangelho, mas não conhecem as boas novas que pregam.

O resultado deste fato é que: a) as pessoas continuam sem conhecer Deus, ou seja, Deus continua desconhecido; b) heresias que outrora eram combatidas pela igreja, são pregadas em várias igrejas; c) o povo continua ludibriado, presos na falsa verdade do conhecimento errado; d) os pobres indivíduos que são catequizados por tais ensinos errôneos, tornam-se duas vezes filho do inferno, pois se outrora não conheciam o Senhor, hoje O conhecem, mas de forma errada.

São tantas igrejas pregando heresias, e são tantas heresias pregadas nas igrejas que está cada vez mais raro encontrar-se uma genuína e pura pregação bíblica. As Santas Escrituras não é mais pregada como se deveria. Deturpada, vilipendiada, misturada com vários outros elementos que outrora foram combatidos mas que hoje são divulgados. Amuletos de sorte, como rosa ungida, vale do sal grosso, fogueira santa, vassoura consagrada, água do rio Jordão, meia, fronha, Kit de beleza da Rainha Ester, enfim, todos estes elementos que eram usados apenas pela macumba, bruxaria, vodu e feitiçaria, agora são vendidas nas igrejas Evangélicas. E o detalhe é que tudo isso é comprado.

É Deus se tornando desconhecido.

Talvez estejamos de uma Reforma Protestante, dentro da Reforma Protestante.

Certamente todos, ou quase todos, têm uma parcela de culpa neste mercado da fé, que vem adulterando o Santo Evangelho e lotando o inferno com as almas daqueles que são enganados. Digo que quase todos têm sua parcela de culpa, pois enquanto os embusteiros pregam o erro, dificilmente alguém se levanta para mandarem eles calarem a boca, e dizer às pobres vítimas destes que o que eles estão ensinando é mentira.

Em nome de uma suposta “ética” os pregadores viram isso acontecer totalmente calados, deixando o engano fazer eco nas TV´s, rádios e igrejas. Se os falsos profetas serão castigados por falsificarem o ensino da Palavra de Deus, possivelmente os verdadeiros profetas que se omitiram diante desta afronta ao verdadeiro ensino bíblico, também terão sua parcela de culpa. Obviamente Paulo jamais se calaria diante dessa afronta ao Evangelho. Ele mesmo falou que foi posto para defesa do Evangelho (Fp. 1:16). Também se esquecem que o Senhor Jesus elogiou a igreja em Éfeso, pois estes puseram à prova os que a si mesmo se declaram apóstolos e não o são (Ap. 2:2).

Infelizmente hoje já se tem uma multidão de crentes catequizados com tais doutrinas. Uma geração inteira que foi ensinada que Deus iria realizar todos os seus sonhos, e etc. Não se prega mais a cruz, renúncia, perdão, santidade, sofrimento em prol do Evangelho.

O que se prega é que se Deus é o dono da prata e do ouro, e se eu sou o filho de Deus, logo eu também sou dono da prata e do ouro. Ledo engando e um falso silogismo. Sendo assim, na hipótese de tal premissa ser verdadeira, então obviamente eu também sou onipresente, pois sou filho de Deus, e Deus é onipresente. Tal afirmação é tresloucada.

Cantam que Deus vai nos exaltar, e vai fazer nosso inimigo nos aplaudir.

Assim, embalados pelo ritmo da melodia herética, segue em procissão uma multidão de crentes, ensinados por quem não conhece absolutamente nada sobre o Senhor. Tal qual disse o Senhor Jesus, são cegos guiando outros cegos. Não sabem para onde vão. Os guias, que são cegos, falam como se pudessem ver, e os que são guiados, também cegos não sabem para onde vão, pois acreditam que podem trilhar o caminho apontado por seus guias, pois não sabem que eles também são cegos. Um cego não pode saber que outra pessoa também é cega, a não ser que algo ou alguém lhe diga.

A verdade é que após tantos anos de heresias e milhões de pregações baseadas em ensinos falsos, alguns já não conhecem Deus. São pessoas que apesar de estarem na igreja, não sabem absolutamente mais nada acerca do Senhor. Ouviram coisas mentirosas ditas em nome do Senhor, se viciaram a não ler a Bíblia, mas apenas a viver de “profecias”.

Estamos tornando Deus Desconhecido, pois eu mesmo não conheço esse Deus que está sendo pregado em algumas igrejas.

Algumas destas poderiam escrever em suas portar igreja do Deus Desconhecido. Quem sabe assim algum Paulo de hoje em dia não iria lhes apresentar Jesus Cristo.

Agnelo Férrer
Enviado por Agnelo Férrer em 31/12/2016
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