Graça, desgraça
“Quebrantando alguém a lei de Moisés morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” Heb 10;28 e 29
Às vezes, no intento de diferenciar Lei e Graça, alguns fazem parecer que o Rigor deriva daquela, enquanto, a Graça seria de facilidades, tolerância, desprovida de demandas sérias. Entretanto, como mostra o texto supra, é maior culpado que eventual transgressor da Lei, um que malversa a Graça, o que equivale a profanar o Sangue da Aliança, agravar ao Espírito Santo.
Na introdução dos argumentos o autor faz questão de Situar Moisés e Jesus, devidamente. “Porque ele ( Cristo ) é tido por digno de tanto maior glória que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou.” Cap 3;3
A Graça é a voluntariedade do Amor Divino fazendo em nosso favor algo que não merecíamos; possibilitando regeneração mediante Cristo. A Lei, o pano de fundo que serve para mostrar de modo cabal, nossa necessidade de Salvação. Não são coisas excludentes, ou, opostas, antes, complementares.
A Lei diz: “Seja santo, senão, morrerás.” A Graça propõe: “Já que estás morto em pecados, creia em Jesus Cristo e O obedeça; serás perdoado, e salvo.” Paulo desenvolveu: “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.” Gál 3;24 “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” Gál 4;4 e 5
Havia uma maldição contra quem não perseverasse em toda a Lei. “Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo. E todo o povo ‘digitará’: Amém.” Deut 27;26 Aliás, após o pecado original, Deus dissera a Adão: “Maldita é a Terra por tua causa.” O Velho Testamento, pois, onde a Graça de Deus em Cristo não fora manifesta, termina, em Malaquias, justo, com a palavra, maldição. Todavia, o primeiro sermão do Salvador registrado no Novo começa com: “Bem aventurados...”
De novo, é Paulo quem esmiúça o ocorrido: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;” Gál 3;13
Assim, a Graça não equivale a uma licença para pecar, tampouco, uma diminuição da Santidade de Deus, onde me é facultado alargar um pouco a porta estreita. Eventualmente lembro de um irmão, cuja mãe ainda desconhecia ao Senhor, contudo, tinha textos decorados e convenientes nos lábios. Um dia, quando ela usou, falando com seu filho, “O Senhor é meu pastor...” ele replicou: “Ele apascenta ovelhas, não, cabritos.” Pode ter sido tosco, deselegante, mas, foi mui verdadeiro.
Acontece que, sermos verdadeiros no tempo atual causa desconforto, o negócio é sermos “legais”, senão, a galera no “curte” nossos textos. Eis a grande desgraça de nossos dias! A superficialidade a futilidade rasa de promessas fáceis, incondicionais, cuja única demanda do “fiel” é que ele digite “amém” para se apossar da “promessa”. Gente ridícula, sem noção, profanando ao Santo Nome do Senhor.
As promessas bíblicas são condicionais, e o “assim seja” de cada um, é cumprir as condições, não, pretender “pegá-las” como se faz com a azeitona usando o palito. “Quem ama Jesus, curte, digita amém”. Ele condiciona: “Se me amais, guardais meus mandamentos”. É esse Amém, que de nós, O Salvador espera.
Ora, as mais retumbantes promessas jogadas sobre quem ainda não abraçou à salvação não passam de cosméticos maquiando mortos. A bênção primeira é a vida, mediante Novo Nascimento, afinal, “Deus não é Deus de mortos”. E quem tem vida espiritual deixa de ser mero caçador de bênçãos, antes, luta contra as más inclinações, às quais deve crucificar todos os dias, se pretende corresponder deveras, ao amor Divino.
Quem não se esforça para conhecer Deus, Sua Palavra, Suas demandas, Seus pleitos, e se satisfaz com um “cristianismo” virtual, de faz de contas, não reclame no final, se herdar uma “salvação” de faz de contas. Essa coisa doentia de agradar aos homens em lugar de Deus, equivale, usando uma metáfora do Senhor, a pedir peixes pra quem só pode dar cobras.
Todos os dias somos instados a “carregarmos a tocha acesa” do trabalho duro em busca da “medalha” da vida honesta, mas, essa vida que tanto valorizamos, é efêmera, com prazo de validade. A que vale para a eternidade nem sempre tratamos com a devida seriedade. E brincar com algo tão sério não graça nenhuma.