A verdadeira excelência do servir em amor ao próximo.
Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo, por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. (2Pe 1:3-7). Aqui nesta passagem podemos destacar a excelência espiritual daquele que é discípulos de e como discípulos serve o seu mestre com excelência. Quando estudamos com atenção estes versículos vemos que de passo em passo caminhamos na direção do aperfeiçoamento do amor de Cristo. Pedro coloca a frente doa da época e a nós sete itens que culminam na excelência do servir amoroso.
1 – Ele começa com a fé, no grego está palavra é: “πιστις pistis”; convicção da verdade de algo, fé; no NT, é a firme convicção no amor de Deus que nos leva a um íntimo relacionamento com Deus e com as coisas divinas. E para Pedro a fé é a convicção naquilo que Jesus Cristo ensinou, é a plena certeza de que podemos nos entregar e confiar em suas promessas, nos submeter completamente a suas demandas. É a indisputável certeza de que o caminho de que este é o caminho que nos leva a paz, tanto neste mundo como no céu.
2 – E a esta fé devemos acrescentar a virtude palavra no grego: “αρετη arete”; uma conduta virtuosa de pensamento, sentimento e ação, bondade moral. Ou seja, arete é aquela virtude que faz com que uma pessoa seja uma boa cidadã e amiga; é essa virtude que torna o ser humano um perito na arte e na técnica do bem viver. E não porque acha politicamente correta, mas sim porque entendeu que o agir amoroso pode mudar a tudo e a todos. E mesmo em meio as turbulências da vida se mantêm firme e confiante no amor de Deus,ou seja, arete é a coragem que advém da fé no amor de Deus.
3 – E esta fé corajosa deve ser acompanhada do conhecimento. Um auto-conhecimento e um conhecimento das coisas de Deus. A palavra usada aqui é: “γνωσις gnosis” que segundo os linguista difere de sofia que é a sabedoria. Gnosis é o conhecimento prático. Quando se refere a nós no sentido de nos, auto conhecer, é a prática de nos mantermos em auto-observação, ou seja, estar sempre alerta para as nossas reações diante das coisas, pessoas ou acontecimentos diários. Que no que se refere as coisas de Deus está no estudo diário dos ensinamentos de Cristo Jesus.
4 – Quando começamos a nos conhecer, começamos a ter domínio próprio. A palavra do grego usada aqui é: “εγκρατεια egkrateia”; autocontrole a virtude de alguém que domina seus desejos e paixões e emoções literalmente, ou seja, significa a capacidade de enfrentar-se consigo mesmo. Esta é uma das grandes virtudes da qual os grandes filósofos gregos debateram, escreveram e seus pensamentos filosóficos. Com uma diferença os filosos rejeitavam o sentir, para poder ter domínio próprio. Mas para os Cristãos ter domínio sobre si mesmo está justamento nos sentir mais e melhor sempre guiados pelo Espirito Santo. A ética cristã não contempla uma situação na qual o ser humano é amputado de toda paixão e todas as emoções tornando-se um autômato. Pelo contrário, a ética cristã prevê uma situação na qual os instintos humanos e as paixões humanas subsistem, mas subsistem sob controle, dominados e desta maneira se tornam servos no amor de Deus e não títeres de um deus tirano. E isto os levam a conhecer a Deus.
5 – Ao domínio próprio deve acrecer-se a paciência perseverante. A palavra do grego aqui é: “υπομονη hupomone”; Constância, tolerância no NT, a característica da pessoa que não se desvia de seu propósito e de sua lealdade à fé amorosa que mesmo diante das maiores provações e sofrimentos mantém-se excelentemente num servir amoroso. Sendo assim entendemos que Hupomone, é corajosa aceitação de tudo o que a vida pode nos trazer é a capacidade de transformar até o pior evento num passo ascendente no caminho que nos leva a excelência do fruto do Espirito.
6 – O caminhar perseverante e paciente produz em nós a capacidade de entender a dor ou o dissabor de outrem. Que é a virtude que Jesus mostrou-nos quando esteve aqui na terra. E isso nos leva a amar a Jesus, a palavra traduzida aqui por piedade é: “ευσεβεια eusebeia”; reverência, respeito. Ou seja, eusebeia nos leva a amar e respeitar a obra da cruz, e com o coração cheio de respeito por aquEle que sofreu por nós, obedecemos o seus mandamentos. E o obedecemos não por medo ou por ver um ganho futuro, mas sim por amor e carinho pela sua obra. Eusebeia é a palavra grega mais se assemelha a palavra do latim religião (religare). Pois quando servimos a outrem em amor e verdade nos ligamos ao amor que é o vínculo perfeito que nos une a Deus. Pois a verdadeira religião é o amor que nos torna capaz de quebrar paradigmas, romper preconceitos e nos levar a negar o si mesmo em prol do amor ao próximo.
7 – Quando entendemos a obra do amor compreendemos que todos os seres humanos fazem parte de uma família, que é a família de Deus. E então começamos a entender o amor fraternal. A palavra do grego usada aqui é: “φιλαδελφια philadelphia”; amor de irmãos ou irmãs, amor fraterno no NT, o amor que os cristãos cultivam uns pelos outros como irmãos, e por toda a humanidade. Um amor que vai além dos eitos, preceitos e preconceitos. É triste ver que hoje a humanidade caminha para o desamor e muitos dos que dizem servir a Cristo com excelência deixar de lado o amor ao próximo firmados em um mundo de preconceitos. E as vezes os clamores de seu próximo se tornam uma interferência para suas orações, para seu estudo da palavra de Deus e para sua meditação. As demandas comuns da relação humana tornam-se para ele simplesmente numa moléstia. As chamadas panelinhas sociais ou de classes e até mesmo hierárquicas distanciam daqueles que precisam do amor. E o que Pedro ensina aqui é que o ser Cristão está mal quando olha para o mundo com os óculos da soberba ou do orgulho porque está um degrau acima. Pois Cristão que não é capaz de ver no outro um motivo para honrá-lo ou um motivo para servir a este, não é Cristão pode até ser crente, mas Cristão jamais.
E por fim vemos que todos os itens acima caminham para culminar no amor(αγαπη ágape), o amor vontade o amor decisão. Pois o amor fraterno é um dos ingredientes do amor de Deus. E nem mesmo o afeto pelos irmãos é suficiente; o Cristão tem que chegar a um amor tão amplo e inclusivo como o amor de Deus, que faz com que seu Sol saia sobre justos e injustos, e que chova sobre maus e bons. O Cristão tem que finalizar mostrando a todos o amor que Deus mostrou a ele próprio. O amor que está sempre pronto a servir até mesmo ao inimigo, o amor que se firma na graciosa batalha de vencer o mal com o bem. Pois nisto consiste o verdadeiro servir em excelência que nos levará viver à vida de Deus aqui na terra, e em um tempo certo estaremos sob luz deste amor que iluminará o povo de Deus: Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos. (Apo 22:5). Que o amor de Cristo Jesus seja sempre o arbitro de nossos corações.
(Molivars).