Salvação; obra inconclusa
“Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho; muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela Sua Vida.” Rom 5;10
Paulo põe reconciliação e salvação como distintas; tanto no ser, quanto, no tempo. Dá a reconciliação dos cristãos como obra acabada; “fomos reconciliados”; a salvação, como uma esperança; “seremos salvos”.
Embora não haja um texto sequer que desautorize afirmar que alguém é salvo quando se arrepende e crê, parece que a ideia em relevo é que, nossa salvação, enquanto nesse corpo é instável, sujeita a riscos, algo que deve ser preservado, que se pode perder.
Assim, quando a salvação é colocada como uma esperança, isso deve-se à nossa inconstância; não, a eventual variação no propósito ou, no Amor Divino. “Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; nos gloriamos na esperança da Glória de Deus.” V 2
Firmes na graça; uma linguagem “contraditória” do apóstolo. Graça independe de mim, deriva do amor do Eterno; firmeza, porém, tem a ver com minhas atitudes, constância, obediência, serviço... A Palavra ensina: “Visto que temos um Grande Sumo Sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que Penetrou nos céus, retenhamos firmemente nossa confissão.” Heb 4;14 Constância e firmeza na graça, pois.
Desse modo, mesmo a salvação sendo algo acabado no prisma Divino, no que tange a mim é inconclusa; deve ser aperfeiçoada, mantida. Sem deixar de ser um fato, é uma esperança. Esperança não é mera abstração, pensar positivo, como imaginam alguns; antes, quando se espera o plausível, o que tem fundamento, é agir; dado sermos reféns do tempo, como se já não sofrêssemos suas limitações, pudéssemos tocar o futuro.
O risco daí é devanearmos com anseios naturais, carnais, e esperarmos que Deus os cumpra; nesse caso, espera vã. A Palavra nos ensina a esperarmos o que foi prometido; não menos, nem, mais. “Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta;” Heb 6;18
Assim, esperar estritamente o que nos foi proposto equivale a nos refugiarmos, em Deus. A Graça Divina supriu nossos lapsos passados, pelo Méritos Benditos de Cristo; mas, depois de reconciliados somos exortados a sermos cooperadores de Deus, para que, a esperança seja convertida em certeza. “Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, do trabalho, do amor que para com Seu Nome mostrastes, enquanto servistes aos santos e ainda servis. Mas, desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até o fim, para completa certeza da esperança;” Heb 6;10 e 11
Sabemos que há certos ensinos na praça a advogar que, “uma vez salvo, sempre salvo”; usando como “argumento” um texto onde O Salvador assegura que ninguém arrebatará Suas ovelhas das Suas Mãos. Ora, tal afirmação tem a ver com Seu Poder, não com nossa vontade.
Se, não há no Universo força capaz de tirar Dele, há o arbítrio que nos Deu. Daí, tanto podemos perseverar na graça, quanto, desistir. “Mas o justo viverá da fé; se ele recuar, Minha Alma não Tem prazer nele. Nós não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas, daqueles que creem para conservação da alma.” Heb 10;38 e 39
Seria argumento absurdo advogar que Deus usa hipóteses impossíveis para evidenciar Sua Doutrina. Se adverte que é possível, tanto recuar, quanto, se retirar para a perdição, assim é.
Pedro alude aos que, tendo conhecido a graça, por ela sido libertos da corrupção do mundo, recaíram; comparou-os com cães que voltam ao vômito, ou, porca lavada que volta à lama. Se, não tivessem sido reconciliados, não teriam vomitado seus pecados pretéritos, não teriam sido lavados; mas, foram, e se retiraram pra perdição. Assim, a reconciliação se deu em certo momento, mas a salvação não foi atingida.
A epístola aos Hebreus, ela adverte de uns que após os dons do Espírito Santo caíram: “Porque é impossível que os que foram iluminados, provaram o Dom celestial, se tornaram participantes do Espírito Santo, da boa Palavra de Deus, das virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois, eles, de novo crucificam O Filho de Deus, O expõem ao vitupério.” Heb 6;4 a 6
Da cruz, somos chamados a ser imitadores não, fugitivos. “...deixemos todo o embaraço, o pecado que tão de perto nos rodeia; corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé; o Qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz...” Heb 12; 1 e 2
A reconciliação está feita com quem crê; salvação, depende de uma ação que salva: Perseverança na graça.