Embalagens feias
“Mas nos profetas de Jerusalém vejo uma coisa horrenda: cometem adultérios, andam com falsidade, fortalecem as mãos dos malfeitores, para que não se convertam da sua maldade; eles têm-se tornado para mim como Sodoma, os seus moradores como Gomorra.” Jr 23; 14
Interessante essa “qualidade” dos falsos profetas denunciada por Jeremias; “... fortalecem as mãos dos malfeitores...” Vemos aqui uma faceta do poder das palavras a serviço do mal. Pois, profetas usam palavras. O “fortalecem as mãos dos malfeitores” é uma metáfora que significa: Corroboram as más escolhas, confirmam; fazem-nas parecer boas.
A Palavra não diz que criam a maldade; antes, fortalecem. Ela está já no coração humano; o mesmo Jeremias denunciara: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas e perverso; quem o conhecerá?” cap 17; 9
Alguns detalhes mais, do seu modo de agir: “Dizem continuamente aos que Me desprezam: O Senhor disse: Paz tereis; a qualquer que anda segundo a dureza do seu coração, dizem: Não virá mal sobre vós.” V 17 Faziam parecer que os desprezadores do Eterno, de corações duros, estavam em paz com Ele.
A questão sempre foi um conflito entre verdade e mentira; não, entre, algo ser bom ou mau. Paz é uma coisa boa, claro! Mas, quando existe apenas o rótulo sem o produto, esse bem é pervertido, torna-se mal; mentira.
Jeremias, ainda: “Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade. Curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” Cap 6; 13 e 14
Assim, embora os profetas possam ver algumas nuances do futuro, quando Deus quer, seu ofício mas importante é conhecer o Caráter Divino denunciando os desvios dos que pretendem pertencer a Ele. “Não mandei esses profetas, contudo, foram correndo; não lhes falei, porém, profetizaram. Mas, se tivessem estado no Meu Conselho, então, teriam feito o Meu povo ouvir as minhas palavras; o teriam feito voltar do seu mau caminho e da maldade das suas ações.” Vs 21 e 22
Vemos aqui que seu labor era, antes de aferidores morais, que, prognosticadores do futuro. Falar a Palavra e instar as pessoas a reverem seus caminhos segundo Deus; eis, o labor sadio de um profeta!
Embora, após o advento de Cristo e Sua majestosa Vitória, seja possível a comunhão de cada um com Deus, sem carecer intermediários, a imensa maioria depende do que ouve, não, do que está escrito. Não investigam. O missionário fulano, o bispo sicrano, o apóstolo beltrano disse, tomam como verdade. Dada essa dependência preguiçosa, quase suicida, a idoneidade do profeta torna-se mais que necessária, vital.
A “ungidolatria” que grassa deriva da ignorância de uma geração a imaginar que, abençoar seja prerrogativa humana. Não é.
No sentido de orar, desejar o bem até aos inimigos, sim; mas, estritamente falando, apenas Deus pode abençoar, coisa que, até o mercenário do Balaão sabia; disse: “Como amaldiçoarei o que Deus não amaldiçoa? Como denunciarei, quando o Senhor não denuncia? Eis que recebi mandado de abençoar; pois, Ele tem abençoado, não posso revogar.” Num 23, 8 e 20
Então, essa doença de pensar que o “ungido” é um Midas da mitologia grega, o qual, tudo o que tocava se transformava em ouro, tem feito a fortuna de salafrários e perdição de muitos incautos. Quando o ministro não tem caráter, não honra a Deus em seu ministério, o que toca vira bosta; maldição.
Deixemos O Santo falar: “Se não ouvirdes, e não propuserdes no vosso coração, dar honra ao Meu Nome, diz O Senhor dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; também já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração.” Mal 2; 2
Ninguém pode honrar ao Nome de Deus, senão, nos Seus termos segundo Sua Palavra. Assim, além de viver os preceitos, deve, o profeta, ensinar retamente, por antipático desmancha-prazeres, que pareça. Não é para dar prazer, antes, ser medicinal. “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos.” Mal 2; 7
Assim, embora não seja pecado aplaudir, desconfio de profetas cujas mensagens colhem aplausos. Um pecador ante um profeta veraz deve sentir ameaça de morte, não identificação aprazível. Tal ameaça é a bênção de Deus, mediante seu servo, visando a preservação do bem maior, a vida.
Assim sendo, os que fortalecem às mãos dos maus ouvem aplausos mais fortes, óbvio; os que falam segundo Deus têm mais chance de ser vaiados. Mas, suas soturnas mensagens são embalagens feias contendo a valiosa pérola da Vida Eterna.