Perfeito juízo
"Tu julgarás a ti mesmo, respondeu-lhe o rei. É o mais difícil. Se consegues julgar-te bem, és um verdadeiro sábio". Saint-Exuperry
“Porque, se nós julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.” I Cor 11; 31
Quando Paulo afirma que ao não nos julgarmos, acabamos sendo, por Deus, não significa que as pessoas não fazem juízo de si, estritamente; antes, que não fazem com sabedoria, como disse o pensador francês, via o seu personagem; “... se consegues julgar-te bem, és um verdadeiro sábio.”
Tendem as pessoas, a “se acharem” como falamos na linguagem atual, pensando de si mesmas, mais que convém. Um “juízo” assim, invés de prescindir do Juízo Divino, apenas, torna-o mais necessário para que as coisas ocupem os devidos lugares.
A Bíblia traz exemplos de gente que “se achava”: “...puseste à prova os que dizem ser apóstolos e não são, tu os achaste mentirosos.” Apoc 2; 2 “...Conheço tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto.” Apoc 3;1 “...os que se dizem judeus, e não são, mas, mentem...” 3; 9 etc. Facilmente constatamos, pois, que a falta era de noção, de justiça, não, de julgamento.
Na verdade, todos temos ótima noção de justiça, que, acaba poluída pelas paixões naturais que desvirtuam à vontade.
Quando Davi julgou ao “homem rico” da parábola de Natã que deixou suas ovelhas e tomou a de um pobre, irou-se e condenou à morte ao tal insensível, sem perceber, porém, que tratava-se de si mesmo; por outro lado, quando o juízo era para honrar, invés de punir, como pediu o rei Assuero ao príncipe Namã, sobre o que fazer para demonstrar isso, o mesmo príncipe julgou maravilhosamente, receitando grandes honras, que, esperava, fossem para si, embora, fosse para seu desafeto, Mardoqueu.
Então, somos capazes de julgar muito bem, desde que, abstraídas as paixões. Como raramente conseguimos, Deus fará incidir sobre nós os nossos melhores julgamentos, que, nunca o fazemos em relação a nós mesmos, antes, quando julgamos outros. O Senhor ensinou: “Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados; com a medida com que tiverdes medido hão de medir a vós.” Mat 7; 2
Contudo, se a Bíblia preceitua que julguemos a nós mesmos para prescindirmos do juízo Divino, e, as paixões atrapalham, como faremos para nos livrar delas? O mestre disse: “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, julgo; o meu juízo é justo, porque não busco minha vontade, mas, a vontade do Pai que me enviou.” Jo 5; 30
Então, podemos fazer um auto julgamento justo, desde que, seja segundo a Vontade de Deus. Essa, não considera minhas paixões; antes, atenta apenas à reta justiça. Daí, ter visto, o salmista, na Palavra de Deus, a purificação necessária. “Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra.” Sal 119; 9
Essa coisa simplista que se ouve, tipo, não julgueis para não serdes julgados não é bem assim. Mas, dirá alguém, está na Bíblia. Está. Contudo, refere-se ao juízo temerário de motivação pessoal, cujo “código” de leis sãos nossas idiossincrasias, preferências.
Essa coisa rasa, tipo, cada qual cuida de si não sustenta-se dez segundos no pódio da lógica. Quando digo isso, que ninguém deve se meter na vida de outrem, querendo ou não, estou me metendo na vida de todos que souberem o que eu disse, afinal, receitei-lhes um comportamento. Mas, se deprecio que outros façam isso comigo, como ouso?
O Senhor desaconselhou o juízo hipócrita do que vê um cisco no outro e desconhece uma trave em si; contudo, depois de tirar esse obstáculo, pode ajudar na remoção daquele.
Em que bases poderia alguém pregar o Evangelho, que exorta ao abandono dos pecados e à reconciliação com Deus, sem, certo juízo, que define o que é pecado e como se volta para o Eterno?
Conhecendo a Vontade de Deus, o aspecto intelectivo; praticando-a, o prisma moral que tolhe à hipocrisia; e ensinando-a, que é o juízo de Deus, não, uma preferência do mensageiro.
De Esdras se diz: “Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar a lei do Senhor; para cumpri-la e ensinar em Israel os seus estatutos, os seus juízos.” Ed 7; 10
Assim, quando busco a Lei do Senhor e compro-a, julgo a mim mesmo, pelo juízo de Deus; Fazendo isso, não careço ser julgado de novo, uma vez que já fui, com justiça.
Enfim, se um sábio é quem logra julgar bem a si mesmo, e o bom julgamento deriva da Lei de Deus, acabamos dando a mão ao maior dos sábios, Salomão, que disse: “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.” Prov 1; 7