Há um quê de assassinato nos trejeitos e palavras, não somente nos atos.

"Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco! ’, corre o risco de ir para o fogo do inferno. (Mat 5:21,22). Estes versículos fazem partem do sermão do monte, sermão este que vai do capítulo cinco ao sete do Evangelho segundo Mateus. E, é neste sermão que Jesus descreve toda ética estrutural do ser Cristão. Nos versículos anteriores Ele discorre sobre as bem-aventuranças, sobre o cumprimento das leis, e ensina que todos aquele que quiser fazer a vontade de |Deus deve ser influência e não influenciável. E aqui Ele começa a ensinar a real profundidade dos mandamentos. E desta feita estudaremos sobre este mandamento: “Não matarás.”(Êxodo 20:13).

Jesus começa dizendo: "Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. (Mat 5:21). “Quem matar estará sujeito a julgamento”. Quando estudamos o Antigo Testamento vemos que essas palavras não acompanham o mandamento. Mas ao estudarmos a história do povo hebreu vemos que elas foram acrescentadas pelas autoridades judaicas. E isso se deu para que pudessem aplicar as penas civis. Em cada cidade havia tribunais para a aplicação de tais penas (Deut. 16:18). Segundo o historiador Flávio Josefo, cada corte ou tribunal era constituída por sete homens (há outros historiadores que dizem que era de 23 homens). E este detinham em suas mãos poder de vida e morte. Mas a morte por apedrejamento somente podia ser infligida pelo sinédrio, e era o sinédrio que tratava de questões que envolvessem heresia ou blasfêmia.

Mas voltemos ao que interessa; Jesus aqui estabelece que até a irritação contra o irmão é errada. Em algumas versões vemos um acréscimo que diz: que é condenado o que se zanga “sem causa ou loucamente”, mas estas palavras não se acham em nenhum dos grandes manuscritos. A proibição é absoluta. A condenação não se restringe somente ao ato do assassinado consumado, Jesus eleva o mandamento para aquilo que sentimos ou trazemos dentro de nós, sendo assim o desejo de matar já nos faz réu e pode nos deixar fora do reino de Deus. No grego há duas palavras para descrever a ira. Uma delas, θυμος thumos; paixão, raiva, fúria, ira que ferve de forma imediata e logo se acalma outra vez, ou seja, significa literalmente o fogo de palha, que se inflama e logo apaga sem deixar brasas ou cinzas. Trata-se da ira que se inflama repentinamente, mas que com a mesma prontidão se extingue. A outra palavra é:οργη orge; raiva, disposição natural, mau humor, caráter. Neste caso se trata da ira longamente cultivada, a de quem odeia e seguirá odiando, sem permitir jamais que sua ira diminua, a ira que trama a vingança e a morte de outrem. Esta é palavra usada por Jesus. Jesus aqui nos ensina que no reino de Deus só fará parte aquele que se empenhar e mudar a si mesmo no sentindo de sentir sempre o melhor mesmo quando tudo o leva para sentir o pior.

Aqui entendemos que Jesus condena todo sentimento egoísta e a ira vingativa é um deles. Ao estudarmos a Bíblia vemos claramente que a ira é um sentimento condenável. Tiago diz: pois a ira do homem não produz a justiça de Deus. (Tgo 1:20) O apóstolo Paulo em sua carta aos Colossenses diz: Mas agora, abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar. (Col 3:8). Até mesmos os mais cético sabem que a ira destrói mais que faz justiça. De modo que vemos Jesus condenar a ira rancorosa, a ira que jamais esquece, a ira que se nega a ser reconciliada e busca a vingança. Se desejamos obedecê-lo devemos eliminar de nossa vida toda forma de ira, irritação ou ódio apaixonado. Alguém poderá dizer que fazer isto é difícil, mas é certo que temos que iniciar, pois é o praticar que nos leva a perfeição. É muito importante recordar que ninguém que queira chamar-se cristão pode “perder os estribos” quando de algum modo foi ofendido pessoalmente.

Vemos que Jesus condena o sentir e o sentir em perversidade e agora veremos que Jesus também condena a atitude ou o falar para o mal de outrem. Em primeiro lugar se condena ao homem que diz: ρακα rhaka a seu irmão, está palavra que em nossas Bíblias se traduz por “néscio ou insulto”, segundo os linguistas é uma palavra quase impossível de traduzir, porque a gradação de seu significado dependia do tom de voz que se usasse ao pronunciá-la. A ideia dominante deste insulto é a do desprezo. Chamar a alguém raca era lhe dizer estúpido, idiota sem miolos, imprestável e nulo. É a palavra que escutaremos na boca de quem despreza a outro com absoluta arrogância. O interessante é que Jesus diz que o desprezo ao próximo era crime de tribunal, ou seja, É como se Jesus tivesse dito: “O pecado da ira inveterada é mau, mas o do desprezo é pior.” E ainda hoje vemos este tipo de coisa acontecer muitos de nós andamos pela vida achando que somos os escolhidos e desprezando a outros que ainda não se converteram. E, é ai que erramos pois quanto mais nos aproximamos de Cristo mais deveríamos sentir a dor daqueles que estão longe de Cristo. O desprezo é tão destruidor que destrói o que sente e aquele que sofre o desprezo.

A seguir Jesus se refere ao homem que chama a seu irmão de: μωρος moros; está palavra tem um significado interessante: tolo, ímpio, incrédulo. Moros é aquele simula ser néscio ou o que finge não ter conhecimento de. O salmista, por exemplo, fala do néscio que em seu coração diz que não há Deus (Salmo 14:1). Ou seja, é dizer que seu irmão vive no mal porque assim o deseja, e que tudo o que acontece com é porque ele finge não enxergar. E como se alguém disse: fulano está sofrendo porque merece vive no pecado então tem que sofrer. Ou ainda quando alguém faz um comentário malicioso a respeito de outrem dizendo: você viu fulano este é um torto na vida. Ou seja, Jesus diz que aquele que destrói o bom nome de seu irmão e sua reputação da pessoa honesta e reta deverá enfrentar o juízo mais terrível de todos, o do fogo do Geena. Jesus afirma, pois, que o mais grave é destruir a boa reputação do próximo e privá-lo de seu bom nome. Não há castigo que baste para o fofoqueiro maligno, para as fofocas de intenção iníqua que podem chegar a assassinar o bom nome de qualquer pessoa. Tal conduta merece, no sentido mais literal possível, a condenação da destruição no geena (fogo da destruição).

E parafraseando o que Jesus diz fica assim: "Na antiguidade se condenava o assassinato; e certamente o assassinato continua sendo mau, e sujeito a mais severa condenação. Mas eu lhes digo que não são apenas as ações exteriores do ser humano que merecem ser julgadas; também seus pensamentos mais íntimos estão sob o olhar escrutinador do julgamento de Deus Pai. A ira persistente é má; piores ainda são as palavras depreciativas, mas o pior de tudo é a malícia que destrói o bom nome do próximo." O ser humano que é escravo de sua ira, que se dirige a outros com um tom depreciativo, a pessoa que destrói o bom nome de outros, pode não ter assassinado a ninguém, mas em seu coração e aos olhos de Deus Pai é um assassino. Que o amor de Cristo Jesus seja o arbitro de nossos corações.

(Molivars).

Molivars
Enviado por Molivars em 28/10/2015
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