Vacas carnívoras
“Subiam do rio sete vacas, formosas à vista, gordas de carne, e pastavam no prado. E subiam do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e magras de carne; paravam junto às outras vacas na praia do rio. As vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista e gordas. Então acordou Faraó.” Gên 40 ; 2 a 4
A linguagem poética que lança mão de metáforas, alegorias, num primeiro momento pode soar ilógica, uma afronta à razão. Todavia, após um olhar mais apurado revelará grande eloquência, poder de síntese, qualidades apreciáveis na arte da comunicação.
Sendo as vacas animais herbívoros, a ideia de uma devorar outra soa absurda. Contudo, as “vacas” em questão tinham apetite voraz, devorador.
Os animais eram meras figuras que representavam anos; seus adjetivos, gordas, magras, fartura e carência, respectivamente. Assim, a comunicação usada pelo Espírito Santo tem sua “lógica” mui peculiar, que, não raro, escapa aos homens naturais.
Paulo desenvolveu isso, disse: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.” I Cor 2; 14 e 15
Ensinando ao príncipe Nicodemos, sobre o “Novo nascimento” onde o Espírito Santo passa a habitar nos salvos, O Mestre colocou dois obstáculos intransponíveis sem Ele, no que tange ao Reino. “...aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” Jo 3; 3 e 5 Sem essa ajuda, pois, o homem não vê, ( entende ) nem entra, ( converte-se ) ao Reino de Deus. Mesmo a ideia do Novo Nascimento foi difícil para Nicodemos, pois, a viu pelo prisma natural.
Claro que, no exemplo do sonho de Faraó, deve ter sido deveras humilhante constatar que todos os “sábios” do reino eram incapazes de entender, pior, ter que pedir auxílio a um estrangeiro que mofava na prisão. Um dos vícios mais latentes na natureza humana após a queda é o orgulho; assim, ao colocar-nos totalmente dependentes de outro demonstra que, antes mesmo de nos salvar, O Senhor começa a cuidar de nossas enfermidades da alma.
Afinal, o início de todo o drama foi ao revés disso, digo, a “serpente” propôs motim, independência, ao casal edênico. Dissera: “Dependam apenas de si mesmos, rompam com Deus.” O Salvador recolocou os pingos nos is; “Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” O inimigo prometera “vacas gordas”; divinização, independência, poder, orgulho, mas, toda essa pompa era mero “estoque de vento” sonho de nossa Presidente; Na real, o que se viu foi a morte, a perda do paraíso, alienação do Criador.
O Salvador, por Sua vez, propõe “Vacas magras”; autonegação, submissão, cruz. Contudo, lega a vida eterna, ressuscita ao espírito humano, reconcilia com Deus, regenera. Nesse prisma, não seria má ideia deixarmos que as vacas magras devorassem às gordas uma vez mais.
O espírito do não convertido é morto, não no sentido de não existência; antes, de não comunhão com Aquele que dá a vida. O Novo nascimento não é uma geração do nada, antes, reconciliação. Essa ação enseja a luz espiritual, e o ingresso para o Reino de Deus.
Sem isso, tal espírito não passa de um estrangeiro prisioneiro, esquecido e alienado, qual estava, então, José. Mas, uma vez chamado, ao corresponder uma expectativa do Rei, acabou herdando imensa glória imerecida para si.
De igual modo, o Reis dos Reis, posto que não precisa, anseia algo de nós, arrependimento, contrição; feito isso, também se dispõe a nos dar coisas imerecidas, em vista do que Ele é; amor. Naquele caso, José era a exceção; “Acharemos em todo o Egito um homem como esse, no qual haja o Espírito de Deus?” Dissera Faraó; no prisma da conversão é a regra; digo, a mesma só é possível mediante ação do Espírito de Deus.
Afinal, aos convertidos se reserva como estoque de alimento os ricos celeiros da Palavra de Deus; Palavra essa, que tanto para entender, quanto, cumprir, só é possível quando somos assistidos pelo Bendito Espírito Santo.
Nele, não há contradições intransponíveis, figuras indecifráveis, antes, a luz é progressiva e constante. “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. ”Prov 4; 18
E os “justos” de Deus não são aqueles que têm a ficha mais limpa no passado, antes, aqueles que recebem como Senhor a Cristo, que apaga tudo, e cria uma ficha nova.