Frutos do estio
“Bendito o homem que confia no Senhor, cuja confiança é o Senhor. Porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro; não receia quando vem o calor, mas, a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto.” Jr 17; 7 e 8
Uma figura eloquente usa o profeta para definir os servos de Deus. Quais árvores que, em plena seca, não deixam de frutificar. Quão diverso isso soa da frágil natureza humana e suas propensões!
Quando não estamos bem costumamos patentear mediante atos, palavras, que o mar não está pra peixe; dizemos: Nem vem, que hoje não é o meu dia!
Não se trata de negar o óbvio, a debilidade humana, coisa que nem Deus faz; “Ele conhece nossa estrutura e lembra que somos pó” dissera Davi. Antes, de constatar o “upgrade” que o Espírito Santo faz nas almas convertidas. Guinda-as ao sobrenatural, capacitando a agir de um modo “ilógico” inesperado.
Ao homem natural, o mau humor, as frustrações acabam furtando coisas boas que deveria fazer às demandas circunstancias e não faz, como que, “justificado” por estar sofrendo também. Suas “vacas magras” acabam comendo as gordas, como no célebre sonho de Faraó. Esse baliza suas ações de modo imediatista, diverso do espiritual, que, pode descansar na justiça de Deus esperando pela recompensa no tempo do Eterno.
A insana “Teologia da Prosperidade” ilustra bem essa faceta imediatista mercantil, de bodes fantasiando ser ovelhas; carne brincando de espírito.
O Senhor, todas as obras excelsas que fez em seu ministério terreno, as fez tendo o Calvário como pano de fundo; não foi surpreendido por sua incidência, antes, “importa que seja batizado com certo batismo; como me angustio até que venha a cumprir-se.” Assim definiu Sua sina. Sua angústia era por vencer, vindicar a Justiça Divina, não evadir-se à dura missão.
Claro que, a sensação de injustiça é dolorosa, desmotivadora. Entretanto, O Salvador propôs a bênção no devido tempo. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;” Mat 5; 6
Se, é vero que cada um ceifará o que planta, também, que, a seara Divina não se restringe à Terra. Digo, há colheitas fartas no Devir, considerá-las, não nos faz “otimistas”, antes, ignorá-las nos faria miseráveis, como advertiu Paulo: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15; 19
Lógico que, produzir bens acima das forças que temos demanda o fruir de uma Fonte Superior. Daí, o profeta ter dito que, os que confiam no Senhor são como árvores junto às águas. O Senhor em nós capacita-nos a fazer coisas excelentes.
A fraqueza à qual nos restringiu visa que o busquemos, Seu alvo é a correspondência do amor, não, fútil demonstração de poder. O mesmo Paulo apresentou nossa limitação espaçio-temporal como uma “fraqueza” visando tal fim; “E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17; 26 e 27
Davi também apresentou essa aproximação motivada pela dependência; disse: “Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” Sal 50; 15
O Capítulo 28 de Ezequiel mostra um formoso, um forte que Deu criou, que, invés de submissão, dependência, resolveu dar seu “Grito do Ipiranga”; “Subirei acima de Deus.” Essa “subida” na escada do orgulho deu origem a satanás.
Desse modo, as fraquezas têm seu componente profilático; previnem que a mesma febre nos pegue, como escreveu Paulo: “...De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.” II Cor 12; 9 e 10
Deveras, quando estou fraco sou dependente; e, justamente isso que me aproxima de Deus; essa “seca’ de bens naturais me faz buscar saciedade nas águas sobrenaturais.
É o abandono do casulo que permite o fulgor das asas. Não sem razão, pois, os maiores expoentes do cristianismo são “homens de dores”, frutos de terra seca. Uma obra de âmbito celestial não pode se restringir à provisão da Terra.
Tendemos a olhar muito perto, como disse alguém: “Quando você aponta uma estrela para um imbecil ele olha pra ponta do seu dedo.” Assim, tanto podem, nossas decepções, engendrar mau humor, depressão, espinhos, quanto, serem um telescópio que permite-nos, vasculhar as imensidões de Deus.