Divina empatia
Divina empatia
“Em toda a angústia deles ele foi angustiado; o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, pela sua compaixão ele os remiu; os tomou, os conduziu todos os dias da antiguidade.” Is 63;9
Isaías, recapitulando a relação de Deus com Israel apresenta um quadro maravilhoso. O Eterno identificando-se com as angústias humanas, compadecendo-se dos seus amados e enviando Seu livramento.
Claro que isso não autoriza uma conclusão leviana do tipo que pensa que Deus se identifica com o homem em tudo, a despeito dos valores em jogo. Tem muita gente que se angustia anelando coisas profanas, iníquas, desnecessárias, viciosas, etc. de modo que, “todas” as nossas angústias nas quais podemos esperar a Identificação Divina excluem as de motivação egoísta, carnal, supérflua.
Contudo, as que são necessárias ao nosso bem viver, se, honramos a Deus como Senhor, podemos sim, contar com Sua identificação, e com Seu Socorro.
A relação preceituada pelo Evangelho, resume todos os mandamentos a uma palavra: Amor. Dois alvos: Deus e o próximo. Sabendo que, esse, o amor, devidamente entendido e vivenciado é via de mão dupla. Digo, requer correspondência. Simplificando: Deus, que me ama, identifica-se com minhas angústias, esperando que eu, O ame também e me identifique com o Seu caráter manifesto em Cristo.
Esse é o “Sabão do Lavandeiro” que profetizou Malaquias, o qual, atuando em nós, pode fazer os “limpos de coração”, que estarão aptos para verem a Deus.
A dupla natureza dos convertidos, não raro, enseja uma duplicidade de ações, que, deriva de uma entrega superficial, um anseio de obter as benesses do reino, sem o custo pra nele ingressar; Evangelho sem cruz; quiçá, uma “cruz” com anestesia dos prazeres insanos.
O tema central de toda a Epístola de Tiago é precisamente esse; duplicidade de gente que não abraça a fé de um modo cabal, antes, vive um misto de obediência e rebelião. Essa impureza acalentada no íntimo tolhe que Deus se identifique com nossos problemas, dado que, não ousamos nos identificar com Sua Santidade. “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; vós de duplo ânimo, purificai os corações.” Tg 4; 8
A bondade de Deus é levada a extremos por alguns que supõem que Sua graça seja amoral, barata, desprovida de valores espirituais.
Voltemos ao começo. Digo, ao verso inicial onde Deus se identificou com as angústias de um povo que se revelou rebelde, e vejamos as consequências. “Mas, eles foram rebeldes, contristaram o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, ele mesmo pelejou contra eles.” V 10 Assim, querendo ou não, nossas ações definem se teremos Deus como protetor, ou, inimigo.
O mesmo profeta apresentara um quadro da Ira Divina onde, o Eterno suspira como que desejando um adversário à altura, para exercitar um pouco Sua Força; “Não há indignação em mim, quem poria sarças e espinheiros diante de mim na guerra? Eu iria contra eles e juntamente os queimaria.” Is 27; 4 Dada a impossibilidade de o homem lutar contra Ele, aconselha arrependimento, para obtenção da paz. “Ou que se apodere da minha força; faça paz comigo; sim, que faça paz comigo.” V 5
O Salvador desenvolveu a mesma ideia com outras palavras. “Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.” Luc 14; 31 e 32
A ideia central é: Posso vencer, ou, me submeto. Quem recusa submeter-se a Deus e Sua vontade, indiretamente imagina que O pode vencer. Não admitirá isso jamais; contudo, é a implicação de suas escolhas.
Muitos, como Nicodemos, têm dificuldade para entender, deveras, o Novo Nascimento. Aí imaginam vitória espiritual nas conquistas de grandezas materiais. Ora, a escada dos vencedores espirituais, desce, invés de subir como a dos que auferem grandezas efêmeras, ilusórias.
Um vencedor de Deus pode estar enfermo, desempregado, humilhado por adversidades; se, não capitulou às más escolhas malgrado isso, se segue fiel, é mais que vencedor, como disse o apóstolo.
A Maior de todas as vitórias, foi lograda por um homem nu, vilipendiado, humilhado, pendurado numa cruz. Afinal a luta espiritual é contra o pecado que obra a morte; não, contra a morte estritamente, pois, mesmo essa, Jesus venceu. “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Heb 12; 4
Essa liça é o “bom combate” aludido por Paulo. Quem nele vence identifica-se com Deus e O tem consigo, na hora das suas angústias. Os demais, ainda não O conhecem de fato.