Ceia do Senhor um memorial do amor.
Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. (1Co 11:23-26). Não há em todo o Novo Testamento outra passagem mais interessante e tão significativa do que esta. Em primeiro ela nos dirige a uma das ordenanças mais sagradas da igreja, que é a Ceia do Senhor; e em segundo ela se faz interessante pelo fato, que a Carta aos Coríntios é anterior ao Evangelho segundo Marcos, o mais primitivo dos evangelhos, de acordo com a maioria dos estudiosos e teólogos. Sendo assim é em realidade o primeiro relato escrito que temos das palavras que Jesus pronunciou no dia da ceia.
Então continuemos o nosso estudo. A ceia do Senhor tem um grande significado para aquele que a compreende, e não terá significado algum para aquele que desconhece o seu real valor. E, é por este motivo faremos bem em tentar ao menos compreender algo do que Jesus quis dizer quando falou do pão e do vinho da maneira em que o fez. “Isto é meu corpo”, disse sobre o pão. Um só fato nos impede de tomar isto com um cru literalismo. É que quando Jesus disse isto, ainda estava no corpo, e neste momento o pão e o seu corpo eram coisas totalmente distintas. Então entendemos que o pão partido na ceia representa o corpo de Cristo, mas de maneira alguma se transforma no corpo de Cristo. Mas há algo de maior significado se faz presente no pão, que representa o corpo de Cristo para aquele que toma em suas mãos e o leva à sua boca com fé, amor, e ardente devoção, este pão o remete além do memorial e ele se torna não só meio de recordar, o sofrimento daquele dia quando a vida mesmo na aparente derrota venceu a morte. O pão o coloca em contato vivo com vida em Jesus Cristo.
Vemos também que por várias vezes a igreja representa o corpo de Cristo. E mais a frente nesta carta no capítulo doze veremos Paulo reprovar àqueles que com suas divisões e distinções de classe dividiam a Igreja; de modo que isto pode significar que o homem que come e bebe indignamente é aquele que nunca se deu conta de que toda a Igreja é o corpo de Cristo, e que aquele que se encontra em discórdia com seu irmão, e que olha o seu próximo com desprezo, e que, por qualquer outra razão, não é um com seus irmãos. Age como um vírus que enfraquece o corpo sendo culpado pelo sofrimento e pelo padecimento do corpo de Cristo. E vemos isto quando Paulo diz: Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. (1Co 11:28,29). Somos convidados a mesa da ceia do Senhor para nos banqueteamos no amor e em amor. E aqueles que sentarem à mesa devem buscar em seu viver diário uma relação de “amor e caridade” para com seu próximo. Toda pessoa em cujo coração haja ódio, amargura e desprezo contra seu irmão come e bebe indignamente. E se chegar com esse espírito à mesa de nosso Senhor, não será tanto o Senhor que o julgará mas, ele mesmo trará o juízo a si mesmo. De modo que comer e beber indignamente é fazê-lo sem sentido de reverência e sem perceber a grandeza do ato de amor que se mostrou na cruz. E, é isto que fazemos, quando estamos em discórdia com o irmão pelo qual Cristo morreu, como morreu por nós.
E a seguir vemos o levantar do cálice da nova aliança. Para um estranho, para um não Cristão, para alguém que escarnece não significa nada; para alguém que ama a Cristo é o caminho à sua presença. A declaração de Jesus, “Este cálice é a nova aliança no meu sangue”, (1Co 11:25) pode ser traduzido. “Esta taça é o novo pacto e custou o meu sangue.” segundo os linguistas A proposição grega (εν en) significa usualmente em, mas pode significar e regularmente significa “a custo de ou pelo preço de”. Uma aliança é uma relação estabelecida entre duas pessoas. Na velha aliança o ser humano caminhava sob a lei que se fazia quase impossível cumprir todos os seus requisitos. Tornando assim um jugo pesado fazer a vontade de Deus. Mas a lei foi necessária para manter vivo na lembrança os atos de Deus na vida de seu povo (Êxodo 24:1-8). Mas com Jesus o ser humano encontra-se perante uma nova relação, que não depende da lei, mas sim do amor. Não depende da habilidade que o homem tenha em guardar a lei — visto que ninguém pode fazê-lo — mas na graça livre do amor de Deus que se oferece a todos os homens. Isto muda toda a relação de Deus com o homem. Sob a velha aliança o homem não podia fazer mais que temer a Deus, pois se encontrava sempre em falta, já que não podia guardar a lei perfeitamente; sob a nova aliança o homem se aproxima de Deus como um filho a seu pai e não como a um réu perante um juiz. E o suco da vide na ceia nos remete ao sangue que foi derramado na cruz. O suco da vide nos remete ao sangue que foi derramado para nos libertar da morte do pecado trazendo-nos a vida e vida de Deus. Porque o suco da vide significa a própria vida e sangue de Cristo sem a qual a nova aliança, a nova relação do homem com Deus jamais teria sido possível.
E findando o estudo devemos entender que muitos dormem porque não enxergam que servir a Deus está em amar mais e melhor ao próximo. E que basta examinar-se a si mesmo e ao encontrar o lixo da desavença, do desamor, do ódio e do desejo de vingança e expulsá-los de dentro de nós. Limpando assim a casa onde o real banquete do amor acontece. Porque aquele que assim não o faz, tira a vida da igreja e consequentemente tira a vida de si mesmo. Tornando-se culpado pelo sangue e não participante da vida. Mas Deus é amor e sendo amor Ele sempre estará com a mesa posta para aquele que se arrepende e aqui cabe uma historieta que eu li a algum tempo atrás: Havia um ancião pastor das altas montanhas escocesas que ao ver que uma anciã hesitava ao receber a taça, a alcançou, dizendo: “Toma-a mulher, é para pecadores; é para ti e, é para mim.”. Porque é bem verdade se a Mesa de Cristo fosse só para gente perfeita ninguém jamais poderia aproximar-se dela. Ela Nunca está ou estará fechada para o pecador arrependido. Para a pessoa que ama a Deus e a seu próximo e que com a ajuda do Espírito Santo busca purgar-se dos ressentimentos que o levará ao desamor; a este o caminho está sempre aberto, e seus pecados, embora sejam como escarlate ficarão brancos como a neve.
(Molivars).