Porque se lavar faz bem
“E destruirá neste monte a face da cobertura, com que todos os povos andam cobertos; o véu com que todas as nações se cobrem. Aniquilará a morte para sempre; enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos, tirará o opróbrio do seu povo de toda a terra...” Is 25; 7 e 8
Quatro coisas saltam nesse texto: A destruição da cobertura da face, ou, máscara dos povos; aniquilação do poder da morte; extinção da tristeza e remoção do opróbrio, ou, vergonha do povo de Deus.
Essa ordem posta em outras palavras é de uma coerência cristalina. Primeiro Deus expõe o pecador, desmascara; depois salva, vivifica, resgata da morte; a seguir, dá alegria espiritual, remove as lágrimas; por fim, glorifica trocando vergonha por honra.
Atrevo-me a dizer que, se a ordem fosse inversa muito mais gente acetaria ao “Evangelho”, mas, de que valeria se, no último capítulo os “abençoados” terminassem, enfim, desmascarados apenas?
A Palavra de Deus nunca teve trânsito fácil, pois, sendo o que É, Luz, expõe todos por belos que pareçam, sujos e feios, tais quais são; Sabedores disso, muitos mascarados preferem guardar distância “segura”.
O Salvador denunciou: “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, mas, os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz; não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3; 19 e 20
A reprovação da impiedade, pois, os nomes aos bois, rasga as máscaras da presunção hipócrita, das religiões humanistas e da pretensa justificação via obras. A dupla identidade do “herói” é revelada; abdica de seus “superpoderes” abrigando-se sob as asas do Todo Poderoso, ou, segue sua fuga inglória, forjando novas máscaras com folhas, como Adão.
Porém, quem se deixa conduzir pela Palavra, já não carece cobertura estranha, uma vez que recebe outra superior. Cobertura, aliás, que o mesmo profeta denunciou sua nação de ter abandonado. “Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, que tomam conselho, mas não de mim; que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado;” Is 30; 1
Dos crentes se diz diferente: “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” Ef 1; 13
Assim, os mortos deixam suas máscaras e passam para nova vida mediante Jesus Cristo; ainda recebem a cobertura do Espírito Santo para os consolar e fortalecer.
A extinção das lágrimas não deve ser tomada literalmente; uma vez que, até de alegria, gozo, é possível chorar. Então, a lágrimas no texto figuram a tristeza. Embora a remoção cabal só seja possível no porvir, dado que o Reino de Deus, de justiça e paz, ainda concorre com o mundo de mentira, violência, corrupção... ainda assim, os salvos desfrutam alegria espiritual como antegozo do virá na restauração final. “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” Rom 14; 17
Finalmente, a remoção do opróbrio, a glorificação. Nem mesmo as competições humanas premiam no início, antes, ao cabo; afinal, como identificar os vencedores antes do jogo acabar? Como premiar quem não venceu sem cometer injustiça?
Então, somos peregrinos em plagas inóspitas, plenas de adversidades, tentações, provações, calúnias, privações, injustiças... Na corrida espiritual não são premiados os que chegam primeiro, mas, os que chegam. Paulo alegorizou usando nosso modo de prática esportiva para exortar à perseverança: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.” I Cor 9; 24
Concluindo; quem equaciona amor com mero sentimentalismo nunca entenderá ao Amor de Deus. Diverso de certa marca de sabão em pó que diz; “Porque se sujar faz bem”, o Senhor depois de rasgar as máscaras dos sujos os manda a Siloé, O Enviado, para que se lavem. Se o orgulho “santo” não se submete ao que lava, sentencia: “Se eu não te lavar não tens parte comigo”.
Tiago aludiu aos que olham no espelho, mas, não se lavam; “Porque, se alguém é ouvinte da palavra, não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho seu rosto natural; contempla a si mesmo e vai-se; logo se esquece de como era.” Tg 1; 23 e 24
Deus fez o que prometeu; o homem recusa-se a fazer o que precisa. A esbórnia do pródigo acaba ao findarem seus bens; porém, nesse caso é a vida; finda esta, já não dá pra voltar à casa do Pai.