O cristão pode usar mantra em suas orações?
Se você usa mantra em suas orações ou quer saber de pode usar. Leia este pequeno trecho do Prof. Felipe Aquino.
Os mantras
“O vocábulo indiano mantra significa uma palavra ou uma fórmula “impregnada de um poder particular capaz de unificar energias habitualmente dispersas e contrapostas”. Sua eficácia parece estar radicada em dois fatores: “a vibração que penetra as camadas mais profundas e sutis da consciência, e seu significado …” (p. 34). Essa palavra-mantra é repetida com frequência “de modo a mergulhar facilmente o orante nas profundidades do seu psiquismo” (cf. p. 34). O mantra nos proporciona “uma certa experiência sensível – em nível de fé, não sensual – da Presença de Deus no centro do nosso ser” (cf. p. 36). A explanação relativa ao mantra dá a impressão de que a vibração do ar decorrente da repetição da “palavra sagrada” tem um efeito físico: ela “põe o orante em sintonia com Deus” (p. 34), como se Deus fosse uma emissora de ondas e energias, que capto desde que utilize a vibração certa ou adequada para atingi-lo. O mantra tem eficácia física capaz de apreender a Deus como se Deus fosse uma realidade do nosso mundo físico, quantitativo, mensurável. Isto equivale a professar o panteísmo”.
“O panteísmo também parece insinuado pelas expressões “mergulhar nas profundidades do nosso psiquismo, proporcionar uma experiência sensível – … não sensorial – da Presença de Deus no centro do nosso ser”. Dir-se-ia que está subjacente a ideia de que o homem é uma centelha de Deus envolvida pela corporeidade. A fé cristã admite, sim, que Deus habita nos corações puros, mas está longe de professar que Deus pode ser experimentado mediante vibração do ar”.
PARE AQUI, OU CONTINUE A LEITURA.(grifo nosso)
O mantra na meditação cristã.
POR PROF. FELIPE AQUINO 27 DE ABRIL DE 2015 DOUTRINA E TEOLOGIA
bibliaurlTenho recebido e-mails de algumas pessoas perguntando se podem usar o mantra na oração, na igreja, etc. Atendendo a esse pedido publicamos a seguir uma síntese do artigo de D. Estevão Bettencourt sobre o assunto veiculado na Revista “Pergunte e Responderemos” (Nº 408 – Ano : 1996 – pág. 209).
A propósito recomendamos que se leia o documento “Carta sobre a meditação cristã”, de 15/10/1989, da Sagrada Congregação da Fé. Em vista da tendência de alguns mestres cristãos a adotar métodos e concepções hinduístas de oração, esta Congregação do Vaticano publicou a Carta citada onde analisa a oração cristã em confronto com a oração hinduísta, mostrando as diferenças existentes entre uma e outra. Este documento enfoca: A Oração Cristã à Luz da revelação (nºs. 1-3); Maneiras errôneas de rezar (nºs. 8-12); A Via Cristã para a união com Deus (nºs 13-15); Questões de Método (nºs 16-25); Métodos Psicofísicos e Corporais (nºs 26-28); “Eu sou o Caminho” (nºs 29-31).
Uma vez que esta Carta está disponível no site do Vaticano (www.vatican.va) somente em alemão, apresentamos, no capítulo seguinte, uma síntese mesma publicado na revista PR 392/1995 por D. E. Bettencourt.
O mantra na Igreja
“Em nossos dias certos autores de espiritualidade católicos recomendam exercícios corporais e ritmos respiratórios para favorecer e provocar a oração. Estas técnicas têm origem na espiritualidade hinduísta, que é panteísta, identificando a Divindade e o homem como se este fosse uma centelha divina apoucada pela matéria. Os exercícios corporais hinduístas têm em vista colocar o orante em sintonia com a Divindade existente no mundo inteiro; aperfeiçoariam a união com Deus.
Ora os autores católicos, embora tencionem ficar no âmbito do Cristianismo, se exprimem de tal modo que muitas vezes parecem identificar-se com o pensamento hinduísta; as posturas corporais e a respiração ritmada dariam ao cristão o contato mais íntimo com Deus; colocá-lo-iam em contato com a Fonte do seu ser, que está no mais íntimo do homem; fá-lo-iam sintonizar com Deus como se este fosse uma fonte de energia no sentido da Física moderna. – Daí as sérias restrições que as táticas orientais mereceram da parte da Santa Sé e que conservam seu pleno valor diante de publicações recentes como “Orar com o Corpo”, revista carmelitana” (A revista carmelitana “ORAR” nº 9)”.
“A oração tem dois aspectos:
1) É a procura de Deus por parte da criatura, de modo que supõe a mobilização das faculdades humanas (intelecto, vontade, fantasia, memória …), como aliás é praticada na meditação inaciana, na beruliana, etc. Desta maneira o corpo e a sensibilidade desenvolvem sua atividade quando alguém quer rezar, somos todos psicossomáticos; nenhum ato da nossa pessoa é meramente espiritual ou meramente corporal. Verifica-se que, quando a pessoa está cansada ou com dor de cabeça, pode sentir mais dificuldade para concentrar-se e rezar.
2) Mas a oração é também, e principalmente, ação da graça de Deus no orante. Diz São Paulo: “O Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e Aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito, pois é segundo Deus que ele intercede em favor dos santos” (Rm 8,26s). A oração é um dom ou uma graça de Deus.
“Compreende-se então que os cristãos procurem condições fisicamente sadias para rezar; mas a Tradição cristã, em seu veio central ou pela palavra de seus grandes mestres, jamais apregoou exercícios respiratórios ou posturas físicas como recursos para rezar bem. Pode-se até notar que não poucos Santos procuraram posições incômodas para rezar; ajoelhavam-se sobre pedrinhas ou sobre grãos de milho, procuravam não se encostar em suas cadeiras, usavam cilícios … Estas práticas nada tinham (ou têm) de masoquista, mas derivavam-se da consciência de que a mística é inseparável da ascese; a mortificação corporal acarreta o efeito benefício de amainar as paixões e libertar a mente para que mais facilmente se possa entregar à meditação das realidades transcendentais”.
“Se a oração é a elevação da alma a Deus, suscitada pela graça divina (definição clássica), ela ocorre segundo a espontaneidade do Espírito Santo, ainda que o orante esteja na mais profunda fossa; talvez mesmo em ocasiões de aflição e angústia ela prorrompa mais forte e espontânea. Quem muito valoriza os exercícios corporais para rezar, corre o risco de identificar oração e bem-estar higiênico, ou também o risco de identificar gestos corpóreos e valores éticos espirituais, como se pode depreender de alguns textos extraídos das pp. 26s do referido fascículo”.
“Como se pode ver, as diversas fases da respiração vêm a ser como que a concretização de atividades do orante. Muito mais grave é o que se segue logo após o trecho atrás transcrito:
“Pela respiração entro em harmonia com o cosmo e suas vibrações. Com o ritmo de seu fluxo e refluxo. O sopro que habita em mim, é o alento de Deus: “Javé insuflou em seu nariz um alento de vida e o homem se fez um ser vivente” (Gn 2,7). Nestes momentos conscientizar-me de que possuo esse sopro é vincular-me ao Criador. Esse sopro é seu Espírito que me une com o Pai e o Filho e toda a criação” (p. 27).
“Estes dizeres sugerem nitidamente o panteísmo: o ar que alguém respira vem a ser a vida divina, o alento de Deus, alento de Deus que é identificado com o Espírito Santo; esse ar-Espírito une o orante à Divindade e às criaturas todas. O homem vive não por um princípio vital criado, mas pelo sopro de Deus, que é o Espírito Santo. Nisto há um abuso da linguagem figurada de Gn 2,7; o texto bíblico concebe Deus metaforicamente como um oleiro, que sopra na face do seu boneco de argila; esse soprar tem o caráter metafórico da imagem aplicada; significa a infusão do princípio vital do homem, que não é o Espírito Santo”.
Prof. Felipe Aquino
Sobre Prof. Felipe Aquino
O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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Se você usa mantra em suas orações ou quer saber de pode usar. Leia este pequeno trecho do Prof. Felipe Aquino.
Os mantras
“O vocábulo indiano mantra significa uma palavra ou uma fórmula “impregnada de um poder particular capaz de unificar energias habitualmente dispersas e contrapostas”. Sua eficácia parece estar radicada em dois fatores: “a vibração que penetra as camadas mais profundas e sutis da consciência, e seu significado …” (p. 34). Essa palavra-mantra é repetida com frequência “de modo a mergulhar facilmente o orante nas profundidades do seu psiquismo” (cf. p. 34). O mantra nos proporciona “uma certa experiência sensível – em nível de fé, não sensual – da Presença de Deus no centro do nosso ser” (cf. p. 36). A explanação relativa ao mantra dá a impressão de que a vibração do ar decorrente da repetição da “palavra sagrada” tem um efeito físico: ela “põe o orante em sintonia com Deus” (p. 34), como se Deus fosse uma emissora de ondas e energias, que capto desde que utilize a vibração certa ou adequada para atingi-lo. O mantra tem eficácia física capaz de apreender a Deus como se Deus fosse uma realidade do nosso mundo físico, quantitativo, mensurável. Isto equivale a professar o panteísmo”.
“O panteísmo também parece insinuado pelas expressões “mergulhar nas profundidades do nosso psiquismo, proporcionar uma experiência sensível – … não sensorial – da Presença de Deus no centro do nosso ser”. Dir-se-ia que está subjacente a ideia de que o homem é uma centelha de Deus envolvida pela corporeidade. A fé cristã admite, sim, que Deus habita nos corações puros, mas está longe de professar que Deus pode ser experimentado mediante vibração do ar”.
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O mantra na meditação cristã.
POR PROF. FELIPE AQUINO 27 DE ABRIL DE 2015 DOUTRINA E TEOLOGIA
bibliaurlTenho recebido e-mails de algumas pessoas perguntando se podem usar o mantra na oração, na igreja, etc. Atendendo a esse pedido publicamos a seguir uma síntese do artigo de D. Estevão Bettencourt sobre o assunto veiculado na Revista “Pergunte e Responderemos” (Nº 408 – Ano : 1996 – pág. 209).
A propósito recomendamos que se leia o documento “Carta sobre a meditação cristã”, de 15/10/1989, da Sagrada Congregação da Fé. Em vista da tendência de alguns mestres cristãos a adotar métodos e concepções hinduístas de oração, esta Congregação do Vaticano publicou a Carta citada onde analisa a oração cristã em confronto com a oração hinduísta, mostrando as diferenças existentes entre uma e outra. Este documento enfoca: A Oração Cristã à Luz da revelação (nºs. 1-3); Maneiras errôneas de rezar (nºs. 8-12); A Via Cristã para a união com Deus (nºs 13-15); Questões de Método (nºs 16-25); Métodos Psicofísicos e Corporais (nºs 26-28); “Eu sou o Caminho” (nºs 29-31).
Uma vez que esta Carta está disponível no site do Vaticano (www.vatican.va) somente em alemão, apresentamos, no capítulo seguinte, uma síntese mesma publicado na revista PR 392/1995 por D. E. Bettencourt.
O mantra na Igreja
“Em nossos dias certos autores de espiritualidade católicos recomendam exercícios corporais e ritmos respiratórios para favorecer e provocar a oração. Estas técnicas têm origem na espiritualidade hinduísta, que é panteísta, identificando a Divindade e o homem como se este fosse uma centelha divina apoucada pela matéria. Os exercícios corporais hinduístas têm em vista colocar o orante em sintonia com a Divindade existente no mundo inteiro; aperfeiçoariam a união com Deus.
Ora os autores católicos, embora tencionem ficar no âmbito do Cristianismo, se exprimem de tal modo que muitas vezes parecem identificar-se com o pensamento hinduísta; as posturas corporais e a respiração ritmada dariam ao cristão o contato mais íntimo com Deus; colocá-lo-iam em contato com a Fonte do seu ser, que está no mais íntimo do homem; fá-lo-iam sintonizar com Deus como se este fosse uma fonte de energia no sentido da Física moderna. – Daí as sérias restrições que as táticas orientais mereceram da parte da Santa Sé e que conservam seu pleno valor diante de publicações recentes como “Orar com o Corpo”, revista carmelitana” (A revista carmelitana “ORAR” nº 9)”.
“A oração tem dois aspectos:
1) É a procura de Deus por parte da criatura, de modo que supõe a mobilização das faculdades humanas (intelecto, vontade, fantasia, memória …), como aliás é praticada na meditação inaciana, na beruliana, etc. Desta maneira o corpo e a sensibilidade desenvolvem sua atividade quando alguém quer rezar, somos todos psicossomáticos; nenhum ato da nossa pessoa é meramente espiritual ou meramente corporal. Verifica-se que, quando a pessoa está cansada ou com dor de cabeça, pode sentir mais dificuldade para concentrar-se e rezar.
2) Mas a oração é também, e principalmente, ação da graça de Deus no orante. Diz São Paulo: “O Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e Aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito, pois é segundo Deus que ele intercede em favor dos santos” (Rm 8,26s). A oração é um dom ou uma graça de Deus.
“Compreende-se então que os cristãos procurem condições fisicamente sadias para rezar; mas a Tradição cristã, em seu veio central ou pela palavra de seus grandes mestres, jamais apregoou exercícios respiratórios ou posturas físicas como recursos para rezar bem. Pode-se até notar que não poucos Santos procuraram posições incômodas para rezar; ajoelhavam-se sobre pedrinhas ou sobre grãos de milho, procuravam não se encostar em suas cadeiras, usavam cilícios … Estas práticas nada tinham (ou têm) de masoquista, mas derivavam-se da consciência de que a mística é inseparável da ascese; a mortificação corporal acarreta o efeito benefício de amainar as paixões e libertar a mente para que mais facilmente se possa entregar à meditação das realidades transcendentais”.
“Se a oração é a elevação da alma a Deus, suscitada pela graça divina (definição clássica), ela ocorre segundo a espontaneidade do Espírito Santo, ainda que o orante esteja na mais profunda fossa; talvez mesmo em ocasiões de aflição e angústia ela prorrompa mais forte e espontânea. Quem muito valoriza os exercícios corporais para rezar, corre o risco de identificar oração e bem-estar higiênico, ou também o risco de identificar gestos corpóreos e valores éticos espirituais, como se pode depreender de alguns textos extraídos das pp. 26s do referido fascículo”.
“Como se pode ver, as diversas fases da respiração vêm a ser como que a concretização de atividades do orante. Muito mais grave é o que se segue logo após o trecho atrás transcrito:
“Pela respiração entro em harmonia com o cosmo e suas vibrações. Com o ritmo de seu fluxo e refluxo. O sopro que habita em mim, é o alento de Deus: “Javé insuflou em seu nariz um alento de vida e o homem se fez um ser vivente” (Gn 2,7). Nestes momentos conscientizar-me de que possuo esse sopro é vincular-me ao Criador. Esse sopro é seu Espírito que me une com o Pai e o Filho e toda a criação” (p. 27).
“Estes dizeres sugerem nitidamente o panteísmo: o ar que alguém respira vem a ser a vida divina, o alento de Deus, alento de Deus que é identificado com o Espírito Santo; esse ar-Espírito une o orante à Divindade e às criaturas todas. O homem vive não por um princípio vital criado, mas pelo sopro de Deus, que é o Espírito Santo. Nisto há um abuso da linguagem figurada de Gn 2,7; o texto bíblico concebe Deus metaforicamente como um oleiro, que sopra na face do seu boneco de argila; esse soprar tem o caráter metafórico da imagem aplicada; significa a infusão do princípio vital do homem, que não é o Espírito Santo”.
Prof. Felipe Aquino
Sobre Prof. Felipe Aquino
O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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