Naturalmente mortos

“Mas, estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem perecerão na sua corrupção.” II Ped 2; 12

Depois de adjetivar alguns como falsos, dissolutos, avarentos, irreverentes, blasfemos, em sua dura diatribe Pedro os coloca no vale da irracionalidade; como animais, simplesmente; por fim, corruptos.

Antes de maior escrutínio cabe lembrar que, tais, circulam no meio cristão, como sendo dos tais, invés de uma postura de indiferença, oposição. Pode parecer insensato apreciar como mau, o domínio natural; afinal, acostumamos com expressões tipo: “A ordem natural das coisas”; “essa é a natureza do fulano”; “ Faz aquilo naturalmente”, etc. de modo que, seguir o curso da natureza parece ser a coisa certa.

Entretanto, houve um “acidente” que trouxe o homem, então, espiritual, ao domínio natural. Embora a primeira negociata corrupta feita no Éden prometera a divinização da espécie, na hora da “entrega” do que o homem comprara recebeu mera estatura animal, desprovido da vida espiritual, que tivera inicialmente, quando inda era “imagem e semelhança” de Deus.

Salomão cogitou do homem alienado de Deus, e chegou a conclusão semelhante; “Disse eu no meu coração, quanto a condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que são em si mesmos como os animais. Porque o que sucede aos filhos dos homens, também sucede aos animais, a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; todos têm o mesmo fôlego; a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade.” Ecl 3; 18 e 19

Desse modo, agir “naturalmente” preserva o “status quo” pós queda, que não é o objetivo Divino, antes, regeneração. A “carne” forma que a Bíblia usa para descrever a inclinação natural tende sempre ao seu curso, que, naturalmente, se opõe a Deus. “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas, os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas, a inclinação do Espírito, vida e paz.” Rom 8; 5 e 6

Vemos que, em oposição aos que são segundo a carne há outros, segundo o Espírito. De onde vieram tais? “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é espírito.” Jo 3; 5 e 6

Só o novo nascimento faculta a vida espiritual; essa demanda submissão a Cristo para que sejamos guindados ao sobrenatural de Deus. Claro que andar contra a corrente requer uma constituição diversa da natural. Precisamente aí o Senhor começa o suprimento dos Seus. Digo, capacita-os a andarem segundo inclinação espiritual. “Mas, a todos quantos o receberam deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas, de Deus.” Jo 1; 12 e 13

Claro que nova natureza requer igualmente nova, mentalidade. “Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.” I Cor 2; 16 Uma mentalidade de cunho espiritual, advinda de dimensão superior, necessariamente há de se opor à do mundo natural. “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Rom 12; 2

Vemos que o alvo dessa mente transformada pelo Espírito não mais é a “ordem natural das coisas,” antes, a Vontade de Deus. Nele carecemos renovação de entendimento por que o jeito desse mundo entender as coisas está obsoleto, ultrapassado.

Assim, o pretenso homem espiritual que transita sem contradições, com “bom encaixe” entre os naturais, não passa de fraude, engodo; longe está de ter renascido. Num prisma oposto à criação a teoria de Darwin é engano; mas, esses semoventes que gravitam no éter das paixões naturais não passam de “animais evoluídos”, alienados da regeneração anelada por Jesus Cristo.

Em suma: Se, em face aos animais são “evoluídos”, ante O Espírito não passam de ignorantes. Pedro os apresenta “blasfemando do que não entendem.”

Um bom entendimento do caminho Excelso, forçosamente há de ensejar um novo modo de ser, como ensinou Paulo: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5; 17

Não que um renascido não peque, não caia. Mas, quando isso acontecer, como o pródigo saberá a diferença de estar entre os porcos e a casa do Pai.