Moldura

A M O L D U R A

Temos quadros afixados nas paredes para relembrar acontecimentos, pessoas e datas. Temos a cobiça de permanência na história da família, dos amigos, da rua onde moramos quando éramos crianças, do colégio onde fizemos nossos primeiros amigos permanentes, aqueles que vêm nos acompanhando pela existência afora. Amigos que, ainda hoje, nos dispensam louvores e desaforos. Tudo bem aceito, afinal de contas, para que servem os amigos, senão para nos abrir os olhos, quando estamos exaltados, ou entusiasmados com a urgência da decisão?

Temos uma incessante necessidade de “ser”...

como se fizéssemos parte da eternidade – ( o corpo físico)

A vida é um elemento impalpável, um acontecimento etéreo, insubstancial.

O CORPO HUMANO É A MOLDURA DA VIDA.

Para onde o corpo caminha, a vida o acompanha. Estão ligados intrinsecamente, e só não são indissolúveis porque a morte do corpo os separa. A vida é mais perene que a sombra porque não depende do sol para aparecer. Em qualquer parte do mundo, em qualquer hora do dia ou da noite, a vida está sempre acompanhando o corpo, a sua moldura. Ela é mais importante que o corpo, embora precise dele para fazer-se tangível, porque transcende a morte, que só existe para o físico, para a matéria. A vida, depois que paramos nosso coração, que interrompemos o fluxo sanguíneo, que paralisamos os movimentos dos ossos e músculos, vai, a vida, para as cavernas do insondável para nós, pobres ignorantes dos mistérios de Deus.

Pelos caminhos vamos perdendo alguns traços sublinhados pelo destino, rescaldo de lutas internas, de avanços em terreno pantanoso. Na arena de cada dia a ferrugem existencial corroe nossa vontade, deixa-a pusilânime, e nossos pedaços vão-se acumulando à margem da estrada. Ficamos fracionados, divididos e fracos... mais ainda...

A vida é pacífica e ondulante, sempre em movimento, e não reclama sabores, odores, decisões ou transfusões de líquidos ou pensamentos. A vida põe em movimento nosso laboratório corporal, nos dá saliva e crepúsculos, caráter ou loucura, gloria ou candura. A vida simplesmente “ É “

A respeito da moldura, digo que soe acontecer que caminhando por várias areias sob nossos pés dignos, ou descalços, penduramos em nossas paredes de recordações, quadros de fases, de amores, de guerras, de domingos, de suores, de espiritualidade. Emolduramos nossa vida e a penduramos no concreto como que para nos lembrar de que existimos, de que a vida continua conosco, sob sol ou chuva.

Precisamos saber, minuto a minuto, que a vida não nos abandonou, nem pretende fazê-lo em tempo breve. A mesma ânsia que nos acomete de alcançar o horizonte, também temos de chegar à eternidade material. Somos cordeiros impuros e inocentes.

Anchieta Antunes

Gravatá – 13/04/2015

Anchieta Antunes
Enviado por Anchieta Antunes em 14/04/2015
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