“É POR GRAÇA QUE FOSTES SALVOS.” (Efésios 2, 8)

"Dogma e ritual", de Mário Quintana:

- Os dogmas assustam como trovões

- e que medo de errar a sequência de ritos!

- Em compensação,

- Deus é mais simples do que as religiões.

- In: Apontamentos de História Sobrenatural,

- p. 420 [2]

http://pt.wikiquote.org/wiki/Mario_Quintana

Deus existe! Deus não está morto. Morreu e ressuscitou em Jesus, nosso salvador e senhor da história. “É por Graça que fostes salvos.” (Efésios 2, 8)

Sim, pela graça a natureza tem novo sentido: Jesus salva o ser humano inteiro. Ele não exclui ninguém. A diferença da fé cristã e outras religiões e crenças é que, além do Divino vir ao encontro do humano, reconhece-se a salvação vinda de Deus como dom e não é o homem, por seus méritos, que se salva.

Ora, se Jesus nos salva por sua graça ou gratuidade divina como sinal de sua misericórdia, o homem precisa de Deus. O homem pode corresponder ao amor de Deus cada dia de sua vida. Somos limitados; mas, quando unidos, somos mais agraciados pela paz e misericórdia do Alto.

Essa percepção sutil, teologicamente possível, pode nos alavancar na coragem de acreditar em um Absoluto não como absurdo no campo da fé. E Deus vindo ao nosso encontro nos ajuda a vencer nossas tendências, egocentrismos, defeitos e, no plano da Graça, o pecado e a morte eterna. O mundo espiritual e além da morte é mistério, esse mistério supõe a fé e fé não é conhecimento baseado na racionalidade científica, filosófica e nas emoções, nem na experiência como empiria. O homem entregue a seus instintos e caprichos, mesmo a inteligência em si, torna-se autossuficiente como negação do outro, ou seja, obsoleto, arrogante, vaidoso, egoísta, racista... A religião, segundo Durkheim, é uma instituição de controle de massas. Freud e Marx defendiam o ateísmo como saudável, a religião como alienação e absurdo. Uma miragem e um ópio. Nietsche arrisca-se a dizer ser a religião a moral dos fracos, dos cristãos indiferentes e covardes. Todos tiveram seus motivos e ousadias justificáveis pelo momento histórico, pela separação da religião com a vida concreta e a hipocrisia ou farisaísmo religiosos.

Mas, nem todos pensam assim e da mesma forma. A religião em si não pode ser ruim e negativa se também provocar compaixão, transformação pastoral e social, ajudar o homem a ser mais e melhor. A ser antes de tudo, ético e respeitoso com a alteridade, a natureza, a sociedade e os animais, o uso ecológico e político do mundo e dos bens – partilhando-os com os mais necessitados. Durante a ditadura do Brasil, a Igreja e as religiões prestaram serviços relevantes a vida e à sociedade, protegendo contra a tortura os perseguidos e acusados de comunistas. Leia o livro BRASIL NUNCA MAIS, de Dom Evaristo Arns. Contra o fascinazismo, a Igreja Católica se impôs, defendendo vidas e judeus, intelectuais e negros.

O nosso conhecimento não é a negação de uma ordem metafísica e espiritual. As ideias e a crença na alma não são meras criações e invenções da mente humana, nem caprichos de igrejas e religiões.

Jesus nos revela esse fenômeno complexo e misticamente real que é o ser humano dentro do plano da graça. Não precisamos negar Deus para afirmar o homem; nem negar o homem para afirmar Deus.

A visão do homem como ser criado por um ser superior e eterno vem de longe. Não é uma matemática imposta. Aos poucos, até chegar a revelação em Jesus, e a aceitação da Bíblia e dos Evangelhos, o homem foi se indagando e respondendo questões profundas e delicadas sobre sua origem e destinos.

A compreensão de Deus também modificou com o tempo. Nas cavernas, na noite dos tempos, os primeiros humanos devem ter intuído a noção de anima e animus, segundo G. Jung. O homem é um ser simbólico, precisa de símbolos e ele cria e faz símbolos. Leia o livro O homem e seus símbolos, C. G. Jung. Tudo tinha vida e o universo respirava um mistério tremendum. Com o tempo, o homem humanizou a ideia de Deus como ser arquiteto e superior ao cosmos. E do animismo, houve a visão de um teocentrismo. Nem mesmo hoje com a ciência, sabemos por que não se deve mais pensar que a ciência em si seria contrária extrema da religião. A religião como alienação, sim! Mas, se a ciência se torna a preocupação absoluta se torna também uma espécie de viseira e fanatismo ideológico. Einstein afirmou certa vez: "a ciência sem religião é manca, a religião sem a ciência é cega.” Ou seja, a religião sem a ciência é fanatismo; a ciência sem a religião é absurdo.

Diferente dos espiritualismos e espiritismos, a fé cristã e bíblica nos convoca a reconhecer a salvação como mérito primeiro de Deus em Jesus, que morreu e ressuscitou por amor de nós numa cruz. Nesse sentido, a morte e ressurreição são libertação do pecado e da morte. E não é pelo nosso esforço somente que nos salvamos. Jesus não é um espírito ou médio perfeito de luz: sim, sendo divindade perfeita, habita em luz eterna e única, mas se encarnou, esvaziou-se de si para se tornar humano como nós, ter corpo como nós. Sendo perfeito, se fez limitação para se comunicar conosco. “E o Verbo Divino se fez carne e habitou entre nós!” A fé nos ensina que vivemos uma metamorfose e passagem, uma páscoa, uma transição entre o que somos hoje e o que seremos no reino de Deus (mundo futuro, sem dor e lágrimas). A vida não é deletada, tirada, mas transformada. Na química, Lavoisier afirmava que “nada se perde, tudo se transforma.” Após a morte, somos transformados em Jesus em novas criaturas semelhantes e nunca iguais aos anjos. O corpo será energizado, misteriosamente divinizado, para contemplar a face de Deus em seu imenso mistério de amor por nós. Não somos só espírito como os anjos, nem só corpo como os animais... Somos corpo-espírito, unidade única e complexa, abertos a eternidade com Deus e pela força ou graça de Deus. Ele vai nos ressuscitar e os nossos dinamizar segundo seu plano de amor eterno. O homem todo verá a Deus. “Minha carne verá a Deus”, disse Jó. “Porque sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E, depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão; e, por isso, os meus rins se consomem dentro de mim”.

Jó, 19: 25-27

REFLEXÃO:

Efésios 2…7para revelar nas eras vindouras a suprema riqueza da sua graça, por intermédio da sua bondade para conosco em Cristo Jesus.8Porquanto, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus;9não vem por intermédio das obras, a fim de que ninguém venha a se orgulhar por esse motivo. …

Romanos 3,24 sendo justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.

João

14:6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.

“Deus está acima das religiões.” (Poema Murilo Mendes) Deus não se confunde com as religiões. Deus está dentro das religiões, quando estas humanizam e não fanatizam.

J B Pereira
Enviado por J B Pereira em 27/03/2015
Reeditado em 28/03/2015
Código do texto: T5185176
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