De procedem as guerras e as desavenças? E como eliminá-las.
Nestes versículos da carta de Tiago vemos ele ensinar ao povo da época e a nós, de onde provem todas as contendas e dissenções da humanidade. De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. (Tiago 4:1-3). Aqui também fica claro que Deus Pai só atende pedidos sinceros e baseados no amor.
Tiago está confrontando os da época com uma pergunta básica, que nós deveríamos fazer com intuito de entender os dissabores do mundo a nossa volta: De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? (Tgo 4:1). Nós encontramos esta resposta quando Jesus diz: Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; (Mat 15: 19,20a). Ele nos ensina e adverte que se o prazer for o propósito que domina a nossa vida, nada poderá surgir disso, além de contendas, ódios e divisões. O resultado da dominante busca de prazer é: μαχομαι machomai; que significa: Aqueles que se envolvem numa guerra de palavras, disputar, discutir, brigar; pessoas belicistas que vivem a guerrear. E πολεμεω polemeo; que significa: guerrear, conduzir uma guerra. Ou seja, aquele que se deixa domina pelo desejo e pelo prazer certamente seguirá pela vida armando guerra e colhendo os frutos da mesma. Frutos estes que são ressentimentos de longa duração, e variadas e repentinas explosões que levam a confrontos e causam inimizade que são como batalhas de uma guerra.
E podemos ver que isto é uma verdade quando olhamos ao nosso redor e vemos, uma sociedade que frequentemente se mostra num complexo de atitudes competitivas e de rivalidades carregadas de ódio. Filo o escritor da diáspora escreve: "Considerem a contínua guerra que prevalece entre os homens até em tempos de paz, a qual existe não só entre nações, países e cidades, mas também entre as casas particulares, nas famílias ou, mais ainda, está presente em cada indivíduo. Observem a inexprimível tempestade que ruge nos desejos insaciável do egoismo que habita nas almas dos seres humanos excitada pelo violento ímpeto dos assuntos das paixões que consomem a vida; e lhes perguntarão se é que há alguém que possa desfrutar de tranquilidade no meio do fluxo desejoso que deságua em um mar enfurecido".
No Novo Testamento vemos claramente manifestado o ensinamento de que a aquele que se firma na busca de saciar o tirânico desejo dos prazeres deste mundo está correndo perigosamente para morte espiritual. Vemos Jesus nos ensinar isto na parábola do semeador quando Ele diz: A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer. (Lucas 8:14). Pois são os cuidados, com as riquezas e os prazeres desta vida os que se combinam para afogar a boa semente que deveria frutificar no espírito. Quem age desta maneira torna-se escravo de suas concupiscências e prazeres e, ao fazê-lo, a malícia, a inveja e o ódio entram na sua vida (Tito 3:3). Quando se opta por seguir agradando somente a si mesmo invés de agradar a Deus em amor verdade; o mundo a nossa volta acaba por se tornar um campo de batalha, de selvageria e de divisão.
E na divisão segue cada um buscando aquilo em que se pode tirar proveito e isto Faz com que os seres humanos se lancem uns contra outros. Os desejos, tal como Tiago os vê, são poderes típica e intrinsecamente belicosos. Não só trava um combate no interior de cada um, mas também faz-se lançar uns contra outros numa batalha interminável que destrói mais que gera vida. Os desejos básicos são pelas mesmas coisas, dinheiro, poder, prestígio, bens terrestres, gratificação dos apetites físicos. Ao lutar todos por obter as mesmas coisas, a vida se converte num campo de combate. Os seres humanos pisoteiam uns aos outros em um desenfreado afã por obter a saciação do desejo. Estão dispostos a tudo a fim de eliminar um rival que compete pelas mesmas coisas ou pela pessoa que eles ardem em desejos de possuir. Ao obedecer às cobiças dos prazeres os indivíduos se apartam uns de outros já que o prazer os conduz a sangrentas rivalidades, a competências e a lutas pelas mesmas coisas.
E aqui devemos entender que jamais será atendida uma oração que traga com ela o um pedido de vingança disfarçada de justiça. Uma oração que seja feita para saciar desejos de nosso egos e que não traga uma benfeitoria coletiva, Deus até responde, mas não atende. Uma oração que se faz na cobiça ou que possa causar mal a outrem, mesmo que este outrem seja nosso inimigo, não será atendida. Jesus no sermão do monte, sermão este que é a base de toda ética Cristã, nos ensinou a orar pelos nossos inimigos; Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. (Mat 5:43-45). E, é dever de todo Cristão buscar incessantemente obedecer à vontade de Deus, e a vontade dEle é que todos nós sejamos essencialmente generosos. Porque a obediência à vontade de Deus aproxima os seres humanos entre si, a vontade divina é que os seres humanos se amem e se sirvam uns aos outros em amor e verdade. E agindo assim cumpriremos a vontade de Deus na terra, para que em um tempo certo possamos cumpri-la nos céus.
(Molivars).